Ser livre do apego.
Por BK Santiago.
Defino apego como algo que nos causa muita dor. Temos que tratá-lo com muita seriedade. Combater o apego é como remover a terra ao redor da raiz de uma árvore: no início, pensamos que é fácil, mas a raiz tem profundidade e também extensão.
Todos nós percebemos que o apego afeta negativamente nossas vidas. Ele nos leva à raiva, causa problemas emocionais a nós mesmos, como também às pessoas que estamos apegados.
É incrível o estado depressivo e sem esperanças daqueles que têm apego.
O mais difícil é que, quando tentamos acabar com um apego, ele corre o risco de ser transferido para outra forma.
O processo de aceitarmos que temos apego é muito delicado. Ele nos faz mentir e ocultar nossos defeitos. Esta forma emocional foi adotada por nós, há muito tempo atrás. Temos que ter controle interno para superá-lo. Para isso, devemos entender que tipo de apego está se manifestando em nós. Se não temos consciência do apego, não podemos entender porque nosso estado emocional sobe e desce.
Quais são nossas necessidades espirituais? Paz, felicidade, alegria, segurança. . . Precisamos nos sentir como pássaros que não são atraídos pela beleza de nenhum arbusto em especial.
Pensem no dia-a-dia de uma pessoa apegada: ela sente ansiedade, desânimo, preocupação, insatisfação. Quando temos apego a uma pessoa e ela está perto, sentimos naquele momento felicidade, alegria, amor, afeto. Esta é a parte boa do apego, mas se ela se afasta, só há irritação, impaciência e tristeza.
Apego é tudo aquilo que controla nosso estado interno. Ele se manifesta em nossa conduta nos transformando em mendigos, ou seja, fazemos algo para receber algo. O apego ocorre quando temos auto-estima muito baixa e se manifesta como uma obsessão, nos tornando dependentes, com problemas de comunicação e raivosos. Há certos padrões emocionais que temos há tanto tempo que nem percebemos.
Por causa do apego, ficamos transtornados, quando a ajuda dos outros não é suficiente. Criamos a expectativa da cooperação de outras pessoas e, por outro lado, temos o desejo de satisfazer a necessidade dos outros antes mesmo que eles se manifestem. E então perguntamos; “por que os outros não fazem por mim o que eu faço por eles?” Muitas vezes, fazemos pelos outros, coisas tão básicas que eles mesmos poderiam fazer sozinhos e sem dificuldade. Esta é uma forma de querer controlá-los. A baixa auto-estima nos leva ao apego: dependemos dos outros para gostar de nós mesmos. Pensar demais sobre outras pessoas, sobre problemas e passado podem se tornar um hábito.
O apego define o estado de ânimo. Somos dirigidos pela conduta e comportamento da outra pessoa.
Outra forma de apego é o desejo de controlar pessoas ou circunstâncias.
Quando nos ocupamos em cuidar de outras pessoas, nos esquecemos de cuidar de nós mesmos.
Apego nos faz reprimir nossos pensamentos por vergonha. Isto é um círculo vicioso.
Às vezes, deixamos que nos ofendam se sabemos que depois haverá momentos de consolo.
O apego pode nos impedir de comunicar nossas idéias por temor ao julgamento dos outros.
Se formos dependentes de outra pessoa, não queremos que nada lhe aconteça e então seremos capazes de mentir por ela. Não conseguimos ter clareza intelectual e defendemos aquela pessoa, independentemente dela ter ou não razão.
Apego é um hábito comportamental. Todo hábito antigo passa a ter vida própria. Isto nos leva a manter uma conduta destrutiva. Buscamos felicidade, mas paradoxalmente, o apego nos afasta cada vez mais dela. Ele nos leva às atitudes reacionárias onde nosso estado de ânimo depende do desempenho do outro. Com apego, não somos capazes de responder por nossos próprios sentimentos. Passamos a viver de expectativas e ilusões como se criássemos uma outra realidade para não aceitarmos a nossa, o que acaba em opressão espiritual.
É como ter uma corrente amarrada em nossos pés. Ficamos presos a algo. Estamos sempre arrastando um peso que não nos permite viver em liberdade.
Quando o apego é muito forte não temos força suficiente para destruí-lo. É preciso identificar as áreas em que o apego está instalado e nos livrarmos disso. O apego não é bom. Temos alguns momentos de benefício, mas o resultado final é destrutivo.
Desapego
No dicionário, a definição de desapego é frieza, afastamento, indiferença, mas na Filosofia Raja Yoga aprendida na Organização Brahma Kumaris, desenvolvemos e experimentamos o desapego não como obrigação, mas com naturalidade.
O desapego não nos afasta da responsabilidade, pois temos deveres com aqueles que convivemos e também com a sociedade de um modo geral.
Desapego não é ruptura de relações e nem é deixar de amar.
Desapego é ser como somos e permitir que os outros sejam como são. É permitir que os outros se tornem maduros e responsáveis. É renunciar aos remorsos do passado e aos temores do futuro.
É preciso desapego para se ter fé em Deus, no eu, nos outros e na ordem natural dos acontecimentos.
Desapegar-se significa aceitar a realidade como ela é; poder aproveitar a vida. É não chatear os demais. É não ter resistências às mudanças dos outros ou às nossas. É preciso se sentir livre.
O desapego exige atuação saudável e distinção entre o que podemos mudar e o que não podemos, aceitando-se isto.
Temos que entender o que é saúde mental para ter a experiência de paz, alegria e felicidade. É preciso viver nossas virtudes e compartilhá-las sem egoísmo ou pré-condições. Não podemos causar danos a ninguém. Temos que entender, que o apego foi adquirido por acharmos que não tínhamos qualidades ou virtudes em nós mesmos. Porém, temos que assumir o que somos realmente e não ter dúvidas sobre nossa própria natureza. É preciso gostar de estar consigo mesmo, deixar que as coisas aconteçam de forma natural, enquanto repleto de alegria e felicidade. Somos o que somos, temos que nos aceitar. Não podemos deixar que, o que falta em nós, nos paralise.
Nosso dia-a-dia tem que ser guiado por um sistema ético e conduta moral e não por outras pessoas. Devemos seguir um código de conduta para evitar o apego e adquirir desapego. Se lembrarmos do passado, isto é uma forma de ativar o apego. Cada um tem suas feridas para cicatrizar e então, cada um tem que estabelecer um método para isso.
É preciso aprender a tomar apoio de Deus. Não podemos criar um Deus pessoal. Se nos afastamos da realidade de quem é Deus, nos sentiremos longe Dele. Ele nos dá apoio, suporte e poder, mas é nossa responsabilidade encontrá-Lo. Às vezes, criamos um Deus falso e esta armadilha é muito perigosa porque se não temos o suporte de Deus, onde mais poderemos encontrar suporte? É preciso relacionar com Deus como Guia, Companheiro, Amado, Confidente, Mestre. . .
Dadi Janki, co-coordenadora da Organização, disse certa vez numa conferência internacional: qualquer virtude que você acredite que Deus tenha, faça com que esta virtude entre em sua vida.
Por amor a si mesmo e com o amor de Deus, é preciso viver e deixar viver.
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BK Santiago: professor da Organização Brahma Kumaris.
Foto: Pixabay