‘O clima e o ambiente’, ‘O caminho da ação elevada’, ‘Os três níveis da ação’, ‘Ahinsa – a prática da não violência de Gandhi’, ‘O fluxo das águas de um rio’, ‘A energia saudável da aceitação’, ‘A compaixão e a energia da simplicidade’ e ‘A solidariedade mostrando saídas‘ são alguns dos temas de ‘UM REENCONTRO MARCANTE’, minilivro 11 da série Ouvindo as Estrelas, hoje publicado no site Intuicao.com – Para sua apreciação. Confira!
(tempo médio de leitura- 28 min)
OUVINDO AS ESTRELAS
Para dar uma breve ideia dos temas deste minilivro, veja abaixo sumário com os capítulos de ‘UM REENCONTRO MARCANTE’‘. (Para ir a um deles, basta clicar no capítulo ou – para leitura do minilivro todo, é só dar sequência nesta página)
Capítulos do minilivro 11
O REENCONTRO
UM SONHO NUNCA CHEGA EM ENDEREÇO ERRADO
O CAMINHO DA AÇÃO ELEVADA
OS TRÊS NÍVEIS DA AÇÃO
A MEDITAÇÃO
AHIMSA – A PRÁTICA DA NÃO VIOLÊNCIA DE GANDHI
ENCONTRANDO O PODER
O FLUXO DAS ÁGUAS DE UM RIO
ESCOLHAS NÃO LINEARES
A ENERGIA SAUDÁVEL DA ACEITAÇÃO
UMA EXPERIÊNCIA SUTIL
DEDICAÇÃO – EXERCENDO A VONTADE
A COMPAIXÃO E A ENERGIA DA SIMPLICIDADE
SOLIDARIEDADE – MOSTRANDO O CAMINHO
A seguir, para sua apreciação, o texto completo do minilivro 11.
minilivro 11
Um reencontro marcante
“Por mais que o ser humano tente,
a vida nunca será linear.“
O reencontro
Em uma certa manhã de céu nublado, Ferhélin olhava ao longe, através da imensa janela de vidro da pousada, observando o verde das árvores que se apresentavam com reverência e beleza.
Ferhélin apreciava aquele clima e ambiente que tanto a inspirava. Algo a tocava e a tornava introspectiva e – de alguma forma, sentia que a natureza das Rochosas Canadenses a envolvia com uma ternura especial.
Naquele dia, estava pensativa: ‘a questão de entender sempre tem suas relatividades; e, se algo está claro no intelecto, ainda assim, por que a mudança interior se dá de forma tão lenta‘?
Era chegado o dia de deixar Banff.
Mais tarde, Ferhélin partiu em direção a Jasper, uma outra pequena e aconchegante cidade das Rochosas em meio ao Parque Nacional Jasper e que ficava a cerca de três horas de Banff. Mais uma viagem em meio a belos cenários era vivenciada por Ferhélin. Logo chegaria a seu destino.
Depois de se instalar na pousada, saiu para dar uma caminhada pela cidade, que era cercada por montanhas e bastante agradável. Foi quando viu um senhor que vestia um curta-pijama – vestimenta que muitos indianos costumam usar. De pronto, ela pareceu identificar seu amigo indiano – era o Mestre Yogue. Ele estava sentado no ambiente externo de uma cafeteria.
Ela aproximou-se e teve certeza de que era ele.
Ao vê-la, abriu um grande sorriso e cumprimentou-a, e logo estavam tomando um chá juntos.
Um sonho nunca chega em endereço errado
No decorrer das conversas, Ferhélin comentou com ele que, dias atrás, tivera um sonho que lhe parecia de difícil compreensão. Perguntou o que ele pensava de mensagens vindas em sonhos.
Antes dela falar sobre o que tinha sido o sonho, o Mestre Yogue comentou:
— Gostaria de dizer-lhe uma coisa: quando você percebe que alguma mensagem especial chegou a você, acredito que deve ser mantida apenas com você. Um sonho é algo pessoal e “exclusivo” da pessoa. Se você sentiu que havia alguma mensagem no sonho, ela é para você, certo? Mesmo que você não a tenha compreendido completamente, você deve mantê-la para si mesma.
No tempo certo, você absorverá a mensagem. É como observar um pôr-de-sol: ele pode ser magnífico e encantador, mas assim que você começa a descrevê-lo, você começa a perder o vínculo com ele. Você tem a sensação de que aquele encanto se esvanece. É muito sutil, mas penso que estas percepções estão totalmente vinculadas a quem as teve.
Ferhélin olhou-o com certa surpresa e pensou: de fato, um sonho especial é algo muito particular e o seu significado sempre é único para quem o vivenciou.
Mais tade, ela pensaria no significado do seu sonho.
— Um sonho é para a pessoa que o recebe. Sem chances de endereço errado — ele disse, esboçando o sorriso sutil que lhe era característico.
O caminho da ação elevada
— Mas e então, o que tem feito ultimamente? — perguntou o Mestre Yogue.
Lembrando-se de suas conversas anteriores com o mestre, ela logo percebeu que ele desejava saber sobre suas experiências interiores.
— Tenho pensado sobre como manter o foco, como fazer a nossa energia convergir naturalmente para o que é melhor para nós. O que você pode dizer sobre isto?
Sereno e altivo, mas com uma clara humildade, ele respondeu:
— Na Índia, há o vocábulo ‘sanskar‘ que pode ser traduzido como “registro” ou “hábito”. Os sanskaras são antigos registros que ficam no nosso inconsciente, mas que reforçam nossos hábitos.
Quando fazemos algo negativo em nossas vidas e repetimos estes hábitos, eles ficam registrados. Quanto mais são repetidos, mais fortalecidos se tornam. São como elos de uma corrente que se fortalecem. Ela pode ser positiva ou negativa, depende do que fazemos.
O “pensamento” cria um registro apenas superficial; já a reflexão sobre ele, aprofunda um pouco mais aquele registro. Mas é a ação que fortalece esse registro de vez. E quanto mais aquela ação se repete, mais forte o registro se torna. Se for negativo, torna-se mais difícil eliminá-lo. Se for positivo, mais fortalecido se torna o hábito.
Os três níveis da ação
— É possível eliminar esses registros negativos? — perguntou Ferhélin.
— Sim, há três maneiras básicas:
– Uma é agir positivamente para que os registros positivos possam sobrepor-se aos negativos. – Outra é agir em um estado elevado de consciência. São ações mais que positivas, são elevadas do mesmo jeito e alcançam o mesmo objetivo: substituir os registros negativos, só que com maior poder.
– A terceira é praticar o yoga, que pode levar você além da ação. A experiência da sua forma original de luz, na forma de semente, é a mais poderosa arma para eliminar os sanskaras negativos.
Essa é uma informação para ir para o meu caderninho de anotações para estudar depois, disse Ferhélin.
Após alguns momentos de silêncio, ela perguntou: então, na sua visão, o que significa a palavra karma, que é tão usada por todos? .
— Veja bem, é simples: karma significa ação! E se manifesta em três níveis:
— Vikarma — que é executado em uma consciência errada. São as ações negativas, inúteis ou de desperdício, por exemplo: os pensamentos de ciúme, raiva, arrogância ou medo.
Akarma —que é o karma neutro, considerada ação neutra, por não ser nem negativa nem positiva. São os pensamentos úteis, como: preciso fazer o almoço, vou dormir ou outra atitude do seu dia-a-dia.
O terceiro é Sukarma —que pode ser entendido como karma superior, o ato desempenhado com a consciência elevada. São os pensamentos de benefício para o mundo, sem interesses pessoais, ou os pensamentos de paz e lembrança de Deus. Falei sobre pensamentos, mas podem ser também sentimentos, emoções, palavras ou ações, que vão fortalecendo os registros.
— E como é que isso afeta nossas vidas? — questionou Ferhélin.
— Eles podem nos elevar, fortalecer ou enfraquecer e nos tirar de nossa caminhada. Não bastam a vontade e o desejo por coisas boas. A força de vontade se fundamenta no intelecto. Os elos de fraqueza residem nesta área, conhecida como sankara. Assim aprendemos na vida yogue. Não basta entender com o intelecto, não basta a intenção. É necessário reciclar os velhos registros que estão gravados em nós.
— Como é possível isso? — quis saber Fehrelin.
— Através da prática dos três métodos que citei: a ação correta, a ação elevada e, no meu caso, a meditação Raja-Yoga.
a meditação
— Como a meditação ajuda neste processo? — perguntou Ferhélin.
— A meditação ajuda em todos os níveis. Em um nível inicial, ainda não muito profundo, ajuda a promover o relaxamento do corpo e da mente e ajuda a criar serenidade e fortalecer hábitos fundamentados em valores e qualidades.
Em um nível intermediário, com a experiência do silêncio – no nível angelical, o ser sente o seu reavivar em um nível mais elevado, mais sutil e mais profundo – possibilitando o preenchimento da alma com mais virtudes, qualidades e clareza mental.
Diria que, nesses dois níveis – de relaxamento e nível angelical começamos a remodelar velhos conceitos e princípios e a criar melhores condições para agirmos com mais consciência e clareza – tanto intelectual, quanto intuitiva.
E em um nível ainda mais profundo – do estágio da semente, o ser humano pode experimentar a ação da luz de Deus, da Fonte banhando-o e preenchendo-o. Quanto mais tempo permanece neste estágio, mais profundamente os sanskaras são transformados em luz sem que a pessoa perceba. É o ato de eliminar o vínculo entre a ação e quem a criou. Nesta etapa, as pessoas não mais pensam nos seus ‘problemas’ e nem nos aspectos do cotidiano.
ahimsa – a prática da não violência de Gandhi
— Mas para quem não pratica o yoga, como pode uma pessoa fazer para não cair em velhas armadilhas e conseguir manter o foco? —indagou Ferhélin.
O Mestre Yogue olhou-a e disse:
— Quando você sabe o que quer muito claramente, isto é possível! Mas você só sabe o que quer, quando tem seu intelecto fortalecido e estável.
Mas além de ter clareza no intelecto, você deve abrir o canal de comunicação entre o coração e o intelecto – deixando fluir a energia que vem de Deus.
Um meio de fazer isso é por meio da meditação, mas creio ser possível abrir esse canal de outras formas também; que seja por meio da fé, das orações, da contemplação etc.
O importante é permitir a energia que vem de Deus – de alguma forma flua tanto no intelecto, quanto no coração.
Aí eu creio ser viável não cair em velhas armadilhas e manter o foco em aspectos positivos da vida.
Ferhélin ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras e tentando digeri-las. Quis saber:
— Mas o que representam o coração e o intelecto neste processo?
— O coração é a expressão da alma – é ‘portal’ que possibilita nossa conexão com Deus e nos faculta a abertura do canal da intuição.
O intelecto funciona como se fosse o chefe controlador deste canal, aquele que libera o que deve ou não passar por ele.
Quando seu intelecto está fortalecido, só o benefício é que passa. Mas quando há confusão na mente, saiba que o intelecto está enfraquecido.
Quando as negatividades ganham acesso livre às nossas vidas é como se o canal de nossa conexão com Deus fosse ‘desligado’; a partir daí é como se a pessoa ficasse ‘inconsciente’ – ou seja, sem a consciência e a alma deixasse de se manifestar. É como se a pessoa se transformasse num ‘autômato’.
Então, entram os papéis, as ilusões e tudo que o enfraquece. Há a perda do estado de consciência elevada e a pessoa passa a atuar em um nível de consciência limitado aos papéis que desempenha, sendo facilmente influenciada pelos agentes externos.
— Puxa! Há tanto para aprender e há tantos caminhos a percorrer — pensou Ferhélin em voz alta.
O Mestre Yogue balançou a cabeça, sorrindo e concordando, para então complementar sua fala: Dar vida a este lado ‘divino’, que todos possuímos é o que acontece quando deixamos o fluxo da energia de Deus fluir em nossas vidas.
Após decidirem sair do café e darem uma caminha pela cidade, permaneceram em silêncio por certo tempo, até que, já em meio à caminhada, ele falou:
— Ahimsa! Lembra-se?
Foi Gandhi quem inspirou a prática de AHIMSA, a não-violência, e formou um exército de seguidores desta premissa formado por pessoas que resistiam a provocações e agressões sem reagir. Tornou-se uma lição para o mundo que resultou na independência da Índia.
‘Gandhi criou uma linguagem diferente – da não-violência‘, completou o mestre..
À mente de Ferhélin vieram lembranças do Tibete e do Dalai Lama – que nunca usou de violência, mesmo com agressões e invasões; da postura de Einstein, que defendeu a paz em diferentes momentos de sua vida e de Cristo e suas palavras: “Amem-se uns aos outros”; do amor incondicional de alguns santos.
Em sua mente ainda vieram lembranças do comportamento digno de vários cientistas e filósofos que, em diferentes culturas e circunstâncias – ao seu modo, propuseram caminhos com o propósito de não-violência:
— Mas o que a humanidade escolheu e qual será a minha escolha? Em sua mente vinha o sentimento de que ‘era preciso renovar seus propósitos de vida. Relembrar os sonhos da adolescência, revivê-los, renová-los e atualizá-los‘.
encontrando o poder
De alguma maneira, o Mestre Yogue ajudou-a a perceber que cair em armadilhas era uma escolha pessoal, mesmo que ainda não entendesse totalmente o porquê desta atitude.
Um aspecto estava claro para ela: a saída não está em agredir, mesmo que uma luta deva ser travada. A questão seria: quais armas usar? As das qualidades e das virtudes seriam suficientes?
Mas, se nem mesmo estas ela ainda usava apropriadamente, não seria o caso de duvidar, antes de colocar em prática.
De acordo com o que o Mestre Yogue acabava de explicar, com o fortalecimento deste lado “divino” uma pessoa pode enfraquecer os ‘sanskaras’ mais errantes que possam estar enraizados dentro dela própria, até que eles desapareçam ou, pelo menos, deixem de ter força.
Enquanto passeavam, o Mestre Yogue continuava em silêncio, e Ferhélin permanecia imersa em suas reflexões:
— O sonho deve estar presente. Alinhar os propósitos de meu viver ao sonho vital, parece ser a chave. Por isso, é tão importante fortalecer este sonho e renová-lo sempre.
O Mestre Yogue permanecia em silêncio, meditando, enquanto andava, e ela observava o cenário à sua volta e, em sua mente, repercutiam as suas palavras.
Ao retornar daquele período de silêncio, o Mestre Yogue comentou:
— Ao vitalizar-se, dando força às qualidades e às virtudes, você encontra a capacidade de resistir e o tão propalado poder e quanto mais você o obtém, menos você precisa utilizá-lo.
O poder espiritual é um atributo natural. O seu mau uso é que destrói a humanidade. E na medida em que é mal empregado, ele se perde. É o momento de tentar encontrá-lo novamente.
Ferhélin parecia estar voltando de uma viagem interior. Sentia-se diferente e mais rejuvenescida. O céu nublado emoldurava aquele dia em Jasper e seus olhos brilhavam, ela sentia, Assim como sentia sentimentos de esperança exalando de seu ser.
O reencontro entre aqueles dois representantes de países tropicais — Brasil e Índia — corria solto em um cenário de clima temperado, tão singular para eles. Fazia frio e o céu nublado os inspirava naquela pequena e aconchegante cidade localizada entre montanhas e lagos.
Momentos de luz foram vivenciados.
Um brilho singular, talvez visível apenas para anjos e outros seres iluminados, havia se revelado.
O fluxo das águas de um rio
Após o passeio, almoçaram em um restaurante vegetariano, muito aconchegante, que oferecia uma excelente visão das montanhas. Sentaram-se lado a lado, de frente para a bela vista que se apresentava ao longe, e a apreciaram, enquanto almoçavam.
Para Ferhélin, o Mestre Yogue parecia meditar enquanto comia. Assim, pouco foi dito durante o almoço.
Ferhélin estava pensativa, era interessante observar como o Mestre Yogue vê Deus sob o prisma de espiritualidade, sem se preocupar com o aspecto religioso.
Em determinado momento, Ferhélin percebeu que o mestre observava as montanhas.
Após algum tempo, ele perguntou:
— Você está vendo aquele riacho descendo a montanha?
Ela balançou a cabeça afirmativamente.
O Mestre Yogue usou o riacho para exemplificar que, além do entendimento, dever haver a aceitação e começou dizendo:
— Nossas vidas podem ser vistas como o fluxo de água de um rio. A água nunca é a mesma em locais diferentes. Mas a constância com que a água flui é o que faz o rio existir.
A água pode ser comparada a alguns momentos de nossas vidas. É o conjunto destes momentos que dá consistência a tudo que fazemos. Imagine uma queda de água com pedras abaixo. Ela vai batendo nas pedras e, muito lentamente, vai mudando suas formas.
Na vida, o processo de mudança varia, em alguns casos é mais rápido, em outros, mais lento. Depende muito da constância com que deixamos nossa vida fluir e também da rigidez com que encaramos as mudanças.
Há diferenças que variam desde a capacidade de mudar, de agir, de reagir e de se adaptar. Mas há um atributo essencial neste processo: a aceitação. A energia da aceitação é mágica. Está além do entendimento.
— Como podemos permitir que a aceitação se manifeste em nossas vidas? Querer é poder, mas mesmo desejando algo, por que é tão difícil conseguir resultados práticos? — indagou Ferhélin.
— A ocorrência mais natural na jornada humana é a mudança. Sempre há e haverá mudanças. Nada será igual em momentos diferentes. Um dia é sempre diferente do outro. No mar, uma onda é diferente de qualquer outra.
O mesmo Sol que brilha um dia, brilha de forma diferente no outro dia. A cada segundo, nosso planeta muda de posição. Nada é estático em nossas vidas.
Na mente de Ferhélin vieram lembranças de quando descobrira – ainda no colégio, que a Terra se movia a quase 1.700 km/h pelo espaço. Ela se lembra de sua admiração ao tomar conhecimento de que a cada segundo a Terra se movia 465m.
O olhar do Mestre Yogue parecia executar movimentos ritmados, bailando suavemente entre Ferhélin e as montanhas.
Olhando para Ferhélin ele disse: pense no ser humano: ele reluta em aceitar as mudanças. Ele tende a se fixar, criar referências que se enrijecem com o tempo. Quando estas posturas se tornam inflexíveis, surge o hábito de repetir situações que ofereçam a sensação de segurança.
O céu se postava como uma redoma que protegia a cidade e suas montanhas. Os dois faziam parte daquele cenário, eram parte da vida naquele momento e dialogavam sobre os aspectos da vida em geral.
escolhas não lineares
Após o almoço decidiram caminhar em direção às montanhas.
Poucos metros adiante, viram uma senhora de mãos dadas com uma garotinha, que guiava um cachorro branco na calçada oposta.
Pararam e voltaram-se para observar aquela cena. O cãozinho balançava o rabo, enquanto caminhava.
— Por mais que o ser humano tente permanecer estático, a vida não será linear. Como se isso fosse possível. Mas não é!
A busca por uma vida melhor e a liberdade de espírito que aspiramos tem a ver com escolhas não-lineares e que estão, algumas vezes, além do nosso entendimento — afirmou o Mestre Yogue com propriedade.
Fazendo uma relação com o conceito de inércia, na física, Ferhélin então perguntou:
— O que pode nos levar além dessa tendência de querermos permanecer estáticos, ou seja, de não gostarmos de sair de nossa ‘zona de conforto‘?
O mestre refletiu e voltando-se para ela, disse:
Muito de nossas vidas é determinado por nossa postura. Enquanto uma postura analítica tende a ‘restringir‘ e a ‘limitar‘, a postura intuitiva nos ajuda a fazermos uso de outros atributos, sendo libertadora e nos apresentando novos horizontes.
Ou seja, com uma postura mais intuitiva, passamos a percorrer caminhos que nos levam além das convenções que limitam um outro atributo essencial na vida humana: a capacidade de criar.
Esse é um meio que nos ajuda a fortalecermos um outro atributo essencial na vida humana: a capacidade de criar.
A criatividade é natural e nem um pouco linear. A rigidez na forma de pensar pode sufocá-la.
O ser humano busca respostas para questões fundamentais e diagnósticos para entender os deslizes da nossa sociedade. Mas será que a forma como está fazendo isso é criativa? Será que não há uma certa ‘rigidez mental‘ na forma de abordar e diagnosticar?
Para diagnosticar os problemas há muitas pessoas qualificadas, mas quantas há para trabalharem pela solução?
Hoje temos inúmeros “especialistas” capazes de diagnosticar todo e qualquer problema ou situação, mas a que isso tem levado? Penso que estas práticas acabam reprimindo a criatividade.
A postura analítica é fragmentária em muitos aspectos, o que acaba fortalecendo o problema. É como se fosse uma mudança de vestimenta do problema, disfarçada em busca da solução, tentando “enquadrar” a vida humana em uma moldura que não existe.
A postura mais intuitiva possibilita escolhas não-lineares e favorece a liberação, tanto de vínculos com padrões antigos, quanto nos possibilita a percepção de novos padrões que podem ajudar a desobstruir bloqueios e barreiras em nossas vidas.
A energia saudável da aceitação
A concepção é sagrada,
assim como gerar vidas.
— Onde reside o segredo de mudar a nossa postura, como seres humanos? — perguntou Ferhélin.
— A espiritualidade é inventiva e criativa, não é racional. A concepção é sagrada, assim como gerar vidas. Mas o que fazer quando assassinamos estas práticas sem perceber? Usar a criatividade e a imaginação para inventar é o que faz o planeta mover-se.
Essas qualidades devem ser traduzidas em vida e levadas ao cotidiano. A própria vida deve ser reinventada diariamente. É assim que criamos elos de vitalidade através de todo o planeta — ele concluiu.
— E como entrar nesse processo?
— Aceitar que a mudança é necessária faz parte do percurso à frente. O processo da aceitação não é intelectual. Ele começa com a realização interior de cada um e com mudanças em relação a si mesmo.
Imagine uma pessoa que tivesse duas mentes: uma superior e outra inferior. A superior acessando realidades amplas e universais, a outra vendo-se como o centro do Universo e sem uma visão acurada.
De alguma maneira, somos assim: não temos duas mentes, mas trazemos dois universos dentro nós. Imagine que funcionemos assim. Acredito que o primeiro passo para a mudança é abrir a conexão entre estas duas mentes e começar a exercitar o fluxo de energia entre elas.
Ferhélin o observava, enquanto caminhavam pela trilha e pensou consigo mesma: percebo que realmente há diferentes níveis dentro de nós.
O Mestre Yogue continuou:
— Normalmente, o que percebemos é a tendência de aniquilar o lado menos atraente, o que é um grande engano. Acredito que, ao estabelecermos conexão entre estes níveis, o lado menos atraente começa a ganhar qualidade.
— Você acredita que é possível fazer isso conscientemente? — indagou Ferhélin.
— Sim. Há uma parte de cada ser que está conectada com o que há de mais elevado e outra que, como um cavalo desgovernado, segue os impulsos e é influenciada por tudo que a cerca.
A aceitação é um processo de aprendizagem, que pode ser executado por essa ‘mente inferior‘, a mais constante em nós. Penso que o meio mais eficaz para mudar é usando a própria linguagem desta mente inferior. Permitindo que haja a sensação de segurança.
Uma Experiência Sutil
— Como fazer isso?
O mestre continuou:
— Com a meditação ou alcançando um estado de profunda reflexão, pode-se exercitar isto. Já falei anteriormente que não há necessidade de ser um yogue, o que importa é a prática constante, através de um processo de “digestão” do conhecimento até que ele se transforme em parte de você e da sua consciência.
Ressalto que, qualquer que seja a prática, ela deve ser feita regularmente e, de preferência, todo dia.
E o Mestre prosseguia: – Você pode refletir, em silêncio, dizendo para si mesma:
Escolho “empacotar” minhas fraquezas e me desfazer delas – não as quero mais. Aceito a ascensão da energia em meus pensamentos e sentimentos e sinto que a luz os ilumina.
‘Aceito a transformação e as mudanças como atitudes naturais em minha vida. Aceito a forma mais rápida de transformação – a transmutação de pensamentos, sentimentos, emoções e qualquer forma energética prejudicial, em energia saudável.
Eu visualizo luz envolvendo e preenchendo o meu cérebro, a minha mente e aura.‘
Após alguns segundos deu silêncio, ele prossegui: – Continue a dizer a si mesmo:
‘Entendo que tenho resistido a mudanças e alimentado o medo. Aceito e quero mudar. Quero aceitá-las na minha forma de ver, entender eperceber. Quero que isso aconteça naturalmente.
Desejo preencher minhas fraquezas com luz, transformá-las de modo a não mais usá-las como desculpa para, de novo e de novo, não querer mudar.
Ferhélin estava imersa na energia das palavras do mestre e sentia-se leve e preenchida de luz em sua mente. Não via, mas sentia sua aura de luz se expandindo. Era mais um momento mágico para ela.
Logo após a ‘experiência’ conduzida pelo Mestre Yogue, caminharam mais um pouco, agora por um caminho de pedras, cercado de árvores de troncos altos e grossos. O sol havia aparecido, mas não conseguia penetrar, apenas alguns raios rompiam aquela barreira que formava um teto protetor natural.
Sentiam-se integrados ao planeta e uma alegria sutil os invadia, preenchendo suas mentes e corações.
Continuaram o passeio em silêncio por um tempo, admirando as árvores, enquanto caminhavam sobre o leito de pedras. Respiravam o ar fresco que tanto agradava a ambos.
dedicação – exercendo a vontade
Com seu coração preenchido de prazer, era fácil para Ferhélin abordar assuntos que, em outras condições, poderiam gerar certo desconforto. Então, perguntou:
— O que provoca a auto-sabotagem? Por que o ser humano alimenta este processo?
O Mestre Yogue entendeu sua pergunta e falou pausadamente:
— O processo de aceitação requer muita vontade e prática. Melhorar é um passo decisivo para mudar o planeta. A resistência individual às mudanças se reflete no coletivo e alcança uma aura quase intransponível, levando a vida do planeta ao caos. A auto-sabotagem é a negação às mudanças. Elas são possíveis, mas exigem esforços individuais.
— Você acha que toda a humanidade precisa mudar? — indagou Ferhélin.
O Mestre olhou-a pensativo, refletindo serenidade :
— Quando observamos algo que nos inspira, sempre há brilho,luz e motivação para usar a “mente superior”. Quando um certo número de pessoas entrar em processo de mudança e aceitá-lo com amor profundo, não serão apenas os olhares de bebês, os cenários paradisíacos ou os livros inspiradores que “ativarão” as mentes a manifestar este lado mais elevado. O processo de mudança requer paciência, tolerância e dedicação.
Ter paciência significa manter o estado de paz interior, para conseguir aceitar os próprios altos e baixos que iremos experimentar. Tolerar nos proporciona a capacidade de resistir e de persistir, não permitindo o abatimento da vitalidade quando acontecem quedas ou retrocessos.
A tolerância é um forte poder do ser humano. Um extraordinário método para desenvolvê-la bem é ter claro o que desejamos e manter o foco nesta posição. É onde entra a dedicação, que é necessária para aprimorar e fortalecer este processo. A dedicação é o exercício da vontade traduzida em ação.
— Isto pode ajudar a pessoa a sair da fase de boa intenção e levá-la à ação propriamente dita — sintetizou Ferhélin.
O mestre continuou sereno, com o mesmo brilho nos olhos, expressando-se de maneira a deixar claro que a ansiedade não fazia parte da sua vida:
— A jornada da vida é a jornada da aprendizagem. A pessoa precisa estar interessada em trilhar este caminho, que apresenta diversos cenários, inúmeros mestres e incontáveis realizações. Só quem o adentra é que pode avaliar minhas palavras. A aceitação apenas faz parte deste caminho. Não é possível colher seus frutos como observador.
A compaixão e a energia da simplicidade
— Você acredita que apenas estudos, análises ou entendimentos podem auxiliar neste processo? — perguntou Ferhélin.
— Creio que, quando mal aplicados, eles mais atrapalham que ajudam. Quem sabe a doçura e a gentileza não seriam mais adequados neste momento?
A arrogância é um padrão de energia que floresce, quando há ausência de gentileza e doçura, fomentado pelo falso senso de conhecimento.
O ser humano perdeu sua identidade, e isto se reflete em sua vida. Penso que este é um caminho para ser percorrido, não por “especialistas”, mas por “aprendizes”.
Ela suspirou fundo, pensando que fazia parte da montanha caótica de desacertos que a humanidade empilhava a cada ato inconsciente e, então, comentou:
— Eu gostaria de estar nesta jornada.
— Isto depende totalmente de você. Apenas lembre-se da simplicidade. O carinho, o sorriso, a gentileza e a compaixão não existem na complexidade. Eles têm a energia da simplicidade — disse o Mestre.
— Como expressar a compaixão? — indagou Ferhélin.
— Ela nasce do coração. Não obedece a fórmulas, mas tem grandes chances de semanifestar nos relacionamentos. Você deve conectar-se para experimentá-la, e essa conexão pode ser com pessoas, com atos ou com a natureza, não importa sua origem.
O fato é que quando há a relação, o ato de olhar, de escutar, de perceber o outro e de deixá-lo se expressar promove a abertura do canal para que esta energia possa fluir.
As pessoas perceberão esta energia se você praticar a gentileza, a gratidão e a simplicidade que permitem manifestar a compaixão. Esta energia está escassa no planeta, e o que é mais incrível devido, principalmente, à ausência de atitudes simples que a fazem florescer.
— As pessoas confundiram solidariedade com sofrer junto. Como perderam a capacidade de manifestar compaixão, quando querem expressar apoio em situações dolorosas, elas acabam sofrendo juntas. O maior ato de solidariedade é ajudá-las a lidar com o sofrimento e não sofrer junto. Mostrar saídas é mais importante que se perder junto de outro em um labirinto.
Solidariedade – mostrando o caminho
— Como posso perceber se estou no caminho certo? — questionou Ferhélin.
— As escolhas serão suas. Na medida em que alinhar suas escolhas ao seu propósito de vida, elas se tornarão naturais. Mas você percebe que há a ausência de “convicção” ou de “certezas” em um processo natural. A certeza não existe, ela é uma ilusão!
A convicção é perigosa, é uma ostentação do ego que fecha as portas da visão a tudo o mais! São energias que mais bloqueiam as oportunidades que ajudam.
Diria que as capacidades de sentir, de perceber e de intuir não convivem com convicções e certezas prévias. Estas são naturalmente substituídas pela experiência da harmonia e pela presença natural dos sentimentos de solidariedade.
Ferhélin o observava e percebia a convivência entre a humildade e a autoridade nas palavras do mestre, que falou:
— O que posso sugerir é que, ao optar por um caminho de elevação, observe se a simplicidade e o carinho, o sorriso e a gentileza, a compaixão e a solidariedade estão presentes.
Caso não estejam nas suas escolhas ou na sua relação com as pessoas, com a natureza ou com as situações, saiba que você saiu do caminho e, provavelmente, entrou por um dos atalhos que levam aos labirintos do ego. Mas este não é um caminho sem retorno.
O ato de redirecionar-se vai depender de você mesma – de como estará trabalhando a paciência, a tolerância e a dedicação, que são energias suas; e também de como se permite expressar a fraternidade e a solidariedade em sua vida.
Penso que vale a pena percebermos o quão solidários estamos sendo conosco mesmos, com os sentimentos que nos fazem bem, com as pessoas que podemos ajudar e com a natureza.
Se o sentimento de solidariedade não estiver presente em nossas vidas, há grande risco de estarmos ‘boicotando‘ nossa própria caminhada à elevação.
Eles permaneceram juntos por mais um tempo até que retornaram e se despediram. Era o momento do Mestre Yogue retornar à Índia, às montanhas de Madhuban e à Floresta de Mel.
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ENCONTRO COM A JOVEM MISSIONÁRIA
Série: ‘Ouvindo as Estrelas’
Autor: H. S. Silva
Minilivros ‘OUVINDO AS ESTRELAS’.
Site https://www.intuicao.com
Imagem do post: Banco de dados Pixabay
SOBRE OS MINILIVROS
FERHÉLIN, OUVINDO AS ESTRELAS
Os minilivros OUVINDO AS ESTRELAS descrevem encontros de uma jovem cientista (Ferhélin) – personagem central, durante sua jornada em terras canadenses.
Grande parte dos minilivros tem como cenário as Rochosas Canadenses, com seus cenários únicos e encantadores, nos quais a magia dos cenários funde-se com perspectivas e revelações, aprendizagens e entendimentos que proporcionam a Ferhélin experiências que a ajudam a transcender sua forma de pensar e enxergar o mundo e as pessoas, as ciências e a espiritualidade.
Experiências essas que são compartilhadas no livro, o que os leitores poderão atestar no decorrer da sua leitura, conforme os encontros são relatados.
Propósito do site Intuição.com:
Estabelecer, inspirar e fortalecer elos de esperança junto aos que estão na jornada de fazer deste um mundo melhor.
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Imagens (exceto as da capa do livro): Banco de dados Pixabay