O HOMEM ECUMÊNICO - MiniLivro 6 Ouvindo as Estrelas

O HOMEM ECUMÊNICO - MiniLivro 6 Ouvindo as Estrelas

‘Ser tem mais a ver com o sentir que com o pensar, mais com expressar sentimentos que com intelectualizar’, ‘Altos e Baixos’, ‘Elos de Esperança’, a ‘Disciplina no Ritmo’, ‘Ajudas Inesperadas’, um ‘Mundo de Possibilidades’ e ‘IoIô Humano’ são alguns dos temas do minilivro ‘O HOMEM ECUMÊNICO’ da série  Ouvindo as Estrelas, . Para sua apreciação o minilivro 6. Confira!

(tempo médio de leitura- 25 min)

Livro Ferhélin Ouvindo as Estrela

Ferhélin hospedava-se em uma pousada nas montanhas entre Banff e Jasper, outra cidade que visitaria depois.

Estava em frente a um dos lagos mais belos que já vira, o lago Moraine, de um azul inigualável. Sentada em uma das grandes pedras próximas ao lago, na subida ao topo da colina, em frente ao lago – encontrava-se extasiada com o que via. Permaneceu lá por longo tempo, apreciando aquele cenário em silêncio, até que um senhor se aproximou. Sua figura fez Ferhélin lembrar-se de Nelson Mandela6. Ele era um senhor de cor negra, com cabelos grisalhos, talvez em seus sessenta e poucos anos.
Mais um encontro se apresentava na sua jornada. 

Aquele senhor era um estudioso da religiosidade; um canadense, que residia em Toronto e que trabalhava pela harmonia entre as religiões, conforme veio ela a saber.

— Você é brasileira? — perguntou ele, ao dirigir-se a Ferhélin. 

— Sim. Como você sabe?

— Bem, em verdade, vi seu agasalho com as cores da Seleção Brasileira de Futebol. Estou certo?

— O agasalho é do Brasil, mas não é do futebol, disse Ferhélin. 

— Já estive no Brasil algumas vezes, a primeira foi no Rio de Janeiro, participando da Eco 927, no Fórum Mundial pela Ecologia. Bem, aqui estamos, vários anos depois — disse aquele senhor que visitava as Montanhas Rochosas.

Após um bate papo informal, desceram a colina e sentaram-se em uma pedra às margens do lago. O ar estava fresco e o sol timidamente se apresentava por trás das nuvens espalhadas pelo céu.

— O que o levou ao Rio? — indagou ela.

— Fui participar, como delegado canadense, do fórum inter-religioso durante a Eco 92. Um fórum extraoficial, que reuniu inúmeros líderes de diversas tendências, como o Dalai Lama e outros líderes espiritualistas do mundo todo.

— O que você faz atualmente? — perguntou ela.

— No momento, passeio pelas Rochosas — respondeu, sorrindo. — De fato, aqui busco ar para me fortalecer internamente, visando desempenhar meu papel no mundo de maneira adequada. Poderia dizer que estudo o ser humano e trabalho com o objetivo de conhecer os aspectos convergentes das religiões. É um trabalho que acredita no bem como meio de se promover o intercâmbio entre as formas de fé. Entre outras coisas, estudo os altos e baixos pelos quais nós, seres humanos, passamos, procurando sempre relevar o ‘bem’ como o fio condutor de nossas vidas.

Altos e baixos, quem não os têm? Pensou Ferhélin, arriscando uma pergunta:

— Há pessoas que parecem não ter altos e baixos em suas vidas. Você acha isso possível?

— Isto faz parte da estória de cada um. O que faz realmente a diferença é como lidamos com os nossos altos e baixos e como saímos deles. Você usou a palavra “parece”. Isto está relacionado com meus estudos que se baseiam em “perspectivas” — disse ele. 

— Interessante! — ela afirmou, imaginando o que poderia ser acrescentado a tudo que tinha ouvido.

— Todos que estão neste planeta experimentam suas provas e têm seus pontos fortes e fracos. Alguns praticam mais e mantêm o foco mais nítido e, quando passam por testes, estão mais bem preparados. O resultado é que necessitam de menos tempo para superá-los. Tenho observado que há diferenças no modo como encaram e como saem de situações-problema. Os métodos, as crenças e o tipo de vida das pessoas exercem influência nestas atitudes. Há também os que aprendem a não mostrar seus altos e baixos aos outros, mas isso não quer dizer que são desonestos. 

Ferhélin passou, em seu íntimo, a chamá-lo de o Homem Ecumênico.

Ela o olhou meio surpresa, aguardando o que ele diria. 

— Encontrei muitas pessoas que acreditam que a maneira de melhorar o mundo é por meio de incentivar e inspirar outros, sendo um exemplo vivo. Afirmam que há muitas pessoas no planeta falando de problemas e dificuldades e optam por seguir outro caminho, o de preparar o terreno para um mundo futuro, que não existe ainda. Creem que alguém deve trabalhar para preparar este mundo do futuro desde já e acreditam que ele deve nascer agora. Ainda há outras pessoas que, buscando “estar” em posições consideradas importantes, mostram “ser” de um jeito e “agem” de outro.

— De um lado, os espiritualistas, de outro, os políticos — disse ela.

Ele sorriu e falou:

— Claro que nem todos os espiritualistas são iguais e nem todos os políticos deixam de ser transparentes.

— Como está você, em meio a estes cenários que descreveu?  Perguntou Ferhélin.

— Penso do seguinte modo: caso você não concorde com o jeito que o mundo está caminhando, você pode ajudar a mudá-lo por meio de pelo menos dois caminhos: um, tentando interferir e modificar, dentro de suas possibilidades, o que já existe. Se você conseguir manter sua vitalidade fazendo isso, ótimo.

Um segundo caminho que enxergo como possível é para aqueles que acham que há tanta coisa errada no mundo, mas que acabam desanimando e sentindo-se impotentes, não vendo solução. Para estas pessoas, eu diria que elas não deveriam olhar apenas os problemas e nem ficar argumentando sobre eles. Penso que seria melhor levantarem suas cabeças e participarem do time dos que procuram criar um mundo melhor. Não ficar pensando nos problemas, mas tentar estabelecer novos conceitos de vida e raciocinar desta forma:

Eu me enxergo em meio aos que estão seguindo neste segundo caminho – não me enxergo trabalhando para sustentar o que há neste mundo, que vejo em decadência, estou sim, trabalhando para criar o futuro.

Fazer algo para mudar o mundo, é vital. Não podemos ficar esperando por soluções, precisamos participar da sua criação. Esta é a postura de qualquer um que queira contribuir para um mundo melhor – assumir sua parte na responsabilidade de cocriar um novo padrão para nosso planeta.

Em quaisquer dos caminhos, as pessoas serão muito mais que observadoras e críticas. Participarão da cocriarão do futuro do planeta, fazendo o que lhes for possível.

— Voltando à questão dos altos e baixos, há momentos em que parece não haver saída e há outros em que perdemos a esperança e nos sentimos impotentes e desanimados, você não vê assim? — indagou Ferhélin.

— Em graus e momentos diferentes, isto acaba acontecendo com a maioria da humanidade. Poucos nunca desanimaram em momento algum — disse o Homem Ecumênico. 

Enquanto eles conversavam à beira do lago, a brisa brincava com as águas de um dos lagos mais belos do nosso planeta.

— Mas há algo nos seres humanos que os faz sempre procurar por saídas. Há escolhas a cada momento, a cada dia, mesmo que sejam feitas pelo desânimo. O que tenho observado é que a espiritualidade transcende as escolhas. O ser humano é um ser espiritual em essência. Ele pode até ignorar essa realidade, mas a espiritualidade é inerente e não está relacionada com ser religioso. Tem a ver com a expressão dos valores e das qualidades genuínas que todo ser humano possui. Creio que espiritualidade tem a ver com a colocação dessas qualidades e desses valores em prática. Não há teorias na espiritualidade. As teorias podem existir no nível dos dogmas ou das religiões, mas na espiritualidade há vida, há expressão e há manifestação de valores e de qualidades — completou o Homem Ecumênico.

A seguir, eles se levantaram e começaram a caminhar, afastando-se do lago e seguindo por uma trilha que os levou para uma região de árvores e plantas.

— Como você vê o aspecto das crenças? — indagou Ferhélin.

— O poder das preces e das meditações existe e, de algum modo, cria elos de esperança e fé através do planeta. Traz luz e inspira um mundo melhor. Penso que seja um tipo de crime atacar a fé ou a crença de alguém. Não há nada pior que a ausência de esperança no mundo. De alguma maneira, a fé fortalece a esperança. Não acredito que destruir a crença das outras pessoas, por não compartilhar das mesmas, seja uma escolha sábia.

Muitos atacam a fé de outros por insegurança própria e, de alguma forma, isso reflete a ausência de respeito ao processo de busca pessoal do outro; processo que faz parte do amadurecimento de cada um. Penso que atacar a fé de outros seja uma forma grosseira de manifestação do ego. A espiritualidade na ação agrega e inspira aspectos a serem colocados na prática, por parte de qualquer pessoa ou religião, sem comparações e sem ataques.

Penso que o momento pelo qual passamos neste planeta não é para comparações, para ressaltar visões pessoais diferentes ou fazer acusações de erros do passado ou do presente. Se alguém quiser manifestar sua espiritualidade, neste momento, deve inspirar as pessoas a se melhorarem, a aprenderem a aceitar as diferenças e a fortalecerem os elos que conduzem à esperança. Estas atitudes podem fortalecer o respeito como energia equilibradora no planeta.

— Como você imagina isso acontecendo? — indagou Ferhélin.

— Com a atitude mental de respeito presente, haveria uma mudança natural na postura dos líderes das mais diversas áreas, o que poderia inspirar uma postura de tolerância e de dinamismo crescente, de praticar valores e qualidades positivos. Isto poderia acordar os desanimados e redirecionar os focos dos que estão na inércia É um processo vitalizante, você percebe?

O que é o desânimo, se não a ausência de ânimo, ou seja, de alma, de vida? — perguntou o Homem Ecumênico. — Quando estamos desanimados, estamos desacordados para a vida. Precisamos de algo que nos reanime! 

Acrescentou ainda:

— Consciente da invasão ao Tibete e da perseguição religiosa que os tibetanos sofreram, observe a postura de um Dalai Lama, que teria muitas razões para estar infeliz e motivos suficientes para reclamar, mas não, sua postura nunca foi de queixar-se e reclamar. Este tipo de atitude deveria ser mais bem observado e reflete a espiritualidade na prática. Ninguém deve temer exaltar o bem.

Muitos temem a “concorrência” religiosa, o que reflete a ausência de espiritualidade e de entendimento da diversidade no planeta.

Esse tipo de atitude mental – ‘temer concorrência religiosa‘, inspira o temor, ou seja, o medo e isso não faz bem a ninguém e deveria acabar. Com o temor presente, há a ausência de amor, que é uma qualidade original genuína, que é totalmente espiritual em todas as suas formas de manifestação. Sem a presença de amor, nenhuma solução será duradoura.

O Homem Ecumênico falava com entusiasmo, acreditando que suas palavras poderiam se concretizar, dependendo – não de teorias complicadas, mas de práticas básicas. 

O tempo passava, e eles apreciavam aquele passeio e a troca de ideias.

— Onde você está hospedada? — perguntou o Homem Ecumênico.

— Em uma pousada perto daqui. 

Ele então perguntou:
— Gostaria de jantar comigo? Estou hospedado no hotel próximo do lago. Depois posso lhe dar uma carona até sua pousada.

— Sim, está bem — concordou Ferhélin.

À mesa do restaurante, eles continuariam a conversar.

Ele perguntava sobre o Brasil e sobre a política de saúde no país, que apresentava um sistema de atendimento gratuito disponível para todos. Lembrou-se de um refrigerante brasileiro que apreciava muito, mas só era encontrado no Brasil, o guaraná. 

Falaram com entusiasmo sobre o ‘SUS’ – Sistema Único de Saúde brasileiro.

Sobre o refrigerante Ferhélin disse que não entendia por qual razão o guaraná não era conhecido no mundo todo, perguntando-se por que, em tempos de globalização, somente produtos de países do primeiro mundo tinham mercado aberto. Ela lembrou-se ainda sobre o pão de queijo brasileiro, dizendo que não entendia, por que razão ele só existia no Brasil.

O Homem Ecumênico sorriu e disse que esta área não era sua especialidade, mas que gostaria de experimentar muitas coisas boas produzidas pelos países do chamado terceiro mundo.

Ela, por instantes, lembrou-se do sonho que tivera em Banff.

Veio à sua mente o sentimento de que o contexto de ser não inclui a pretensão de “estar” na posição de julgar outros. Isso estaria de acordo com a visão de várias crenças, convivendo pacificamente em um mundo harmonioso, como o Homem Ecumênico considerava possível. Comentou sobre o hábito de julgar e eleger culpados e indagou:

— Como você entende a disciplina?

— Entendo que a jornada de vida, no planeta, passa por certos limites e definições que foram desenvolvidos pelos seres humanos e que devem ser respeitados. Por enquanto, a disciplina é um processo de aprendizagem. Penso que em um mundo harmonioso, a disciplina será um atributo natural. O que temos de mais parecido com isso, hoje, é o que chamamos de ritmo.

No futuro, a lei natural poderá ser a harmonia, mas ainda estamos a caminho. Para se chegar a ela na prática, deve haver a ascensão de toda a humanidade. Quando isto acontecer, a espiritualidade será a lei natural dos seres e, nem mesmo, a lembrança de Deus, de anjos ou de seres iluminados, será necessária. A lembrança não será necessária pois a consciência de Deus estará sempre presente. O ser humano expressará sua verdadeira identidade e será um ser iluminado naturalmente. 

Sem relutar, continuou explicando:

— A disciplina é a expressão do ritmo e isso em harmonia com tudo o mais. Onde há ritmo, há adaptação, flexibilidade, beleza, naturalidade e, também, respeito e felicidade. Há admiração e amor sendo expressos. Este nível de harmonia torna natural a ausência do medo, da arrogância, da agressividade e de outros hábitos não saudáveis.

Ferhélin o observava com respeito e admiração, mas não se sentiria confortável, se não dissesse o que estava pensando:

— Parece um sonho, um mundo idealizado e sonhado, isso não é utópico?

Ele a fitou, nem um pouco surpreso com a colocação e, serenamente, disse:

— Hoje, neste planeta, isso parece uma utopia. A distância entre o ideal e aquilo que foi criado pela humanidade parece uma eternidade. Mas esta é a caminhada. Saber que é possível escolher esse caminho, já é algo que mudará a vida daqueles que se propuserem a isso.

— Como você enxerga isso acontecendo? — indagou Ferhélin.

— Penso que o foco não deve ser o final perfeito, tão distante ele aparenta estar. O foco deveria ser: fazer o nosso melhor a cada dia, simplesmente trilhando a nossa jornada de vida. Cada um buscando fazer o seu melhor – a cada dia, a cada passo e não apenas para si. Penso que seja essa atitude – de fazer o melhor que podemos e do jeito que pudermos, tendo uma visão do coletivo e não apenas de si, é que faz a diferença.

Não importa se estamos a um, a dez ou a um milhão de passos de distância do ideal. O que vale é sentirmos que estamos fazendo o nosso melhor e, de alguma forma, inspirando outros a se sentirem melhor. Pois quando as pessoas se sentem melhores, elas ajudam a melhorar o mundo.

Ferhélin estava pensativa enquanto o escutava, observando a luz brilhando naquele olhar idealista que a fitava durante a conversa. 

— Seus pratos estão prontos — avisou o garçom.

Comeram em silêncio, apreciando a paisagem ao redor. O lago lá estava, ganhando a luminosidade da lua e das luzes que se refletiam na sua superfície. A noite chegara, e o lago mostrava uma nova face.

Ferhélin lembrava-se da mensagem do sonho que tivera: que tudo começa com ‘ser’, apenas ser, não deixando que as condições do ‘estar’ afetem a jornada.

Em sua mente voavam as lembranças de que não adiantava valorizar as condições externas do mundo, por melhores que elas fossem, se estivermos desconectados das qualidades interiores, das virtudes e dos talentos. “A experiência de ‘ser’ é o começo de tudo; é ela que define como percorremos a nossa jornada“, pensou Ferhélin.

Enquanto observava uma flor, o sentimento “eu sou” visitava sua mente. Ela imaginava aquela flor apenas “sendo” sem questionamentos, sem comparações, apenas “sendo”.  Não estava questionando por que ela estava ali, naquele jardim e não em outro, no Brasil, na Europa ou onde quer que fosse. Esses pensamentos fluíam quando, naturalmente, o silêncio foi deixado de lado.

— Acreditar na vida, acreditar em você e nunca duvidar que ela está a seu favor. Esse é um pensamento que surge ao observarmos a vida de pessoas iluminadas. Observando-as – e muitas dessas pessoas iluminadas que surgiram em minha vida eram completas desconhecidas, tenho percebido algo valioso. Um propósito elevado traz companhias elevadas e ajudas começam a surgir de maneiras inesperadas, desde pessoas comuns e desconhecidas, até de Deus e de seus ajudantes sutis. Creio nisso — disse o Homem Ecumênico.

Ferhélin percebia que seu coração compreendia aquelas palavras. Algumas questões, que ela sempre mantivera quietas, estavam vindo à tona. Elas não surgiam como dúvidas de fé, mas como questionamentos humanos verdadeiros. 

Ela não queria confundir teorias, filosofias ou “ismos”, por mais sagrados fossem, com sua busca pessoal de ser, verdadeira e completamente.

Não era mais uma questão de entender, mas de ser. 

Ela perguntou:

—Como, com Deus ao nosso lado, com as ajudas que a vida oferece, ainda assim, cometemos erros e incorremos em falhas e escolhas erradas, de novo e de novo?

O Homem Ecumênico percebera a profundidade espiritual e a total ausência de interesse por definições, naquele instante, por parte de Ferhélin. O que ela buscava, naquele momento, era simples: a energia da verdade, não teorias.

Percebendo isto, ele comentou:

— Por mais que queiramos, a palavra ainda é o meio que usamos para nos comunicar, mas ela não é capaz de conter tudo aquilo que buscamos, experimentamos ou queremos expressar. Não da maneira como a usamos. Mas uma coisa vejo claramente, por parte de Deus e de quem quer que esteja neste nível espiritual “acima”, que é o respeito à lei básica que temos no planeta, a liberdade de escolha. A possibilidade de escolher, ou seja, aquilo que chamamos de “livre-arbítrio” é algo que precisa ser mais bem entendido. Você é quem escolhe o que fazer. Deus não quebra esta lei básica.

— Mas como não ser afetado pelas negatividades que se espalham pelo planeta? — perguntou Ferhélin.

— Se tudo é questão de escolha, podemos ‘escolher o amor’ em nossas escolhas de vida, independente do que ocorra em nossas vidas e isso, de alguma forma, significa ‘escolher Deus’ em nossas vidas. Esta é uma escolha que deve ser feita, de fato – e com o coração. E um ponto importante aí é: esta escolha não combina com aguardar de braços cruzados esperando ajuda de ‘cima’.

E, concluindo seu raciocínio, acrescentou: há reais possibilidades para transcender o campo de ação das negatividades – a cocriação por meio de ações positivas é uma delas; a ascensão da consciência é outra possibilidade que nos permite não apenas não sermos afetados pelas negatividade, mas influirmos na não manifestação de certas negatividades, pelo menos nos ambientes em que nos encontrarmos. Tanto a cocriação de ações positivas, quanto a elevação de consciência, uma está conectada à outra.

— Quando você diz ‘escolher Deus’, como podemos traduzir Deus no dia a dia das ações comuns? — perguntou Ferhélin. 

— Um meio de pensar em ter a companhia de Deus é querer trazê-Lo ao nosso nível, mas por que não nos prepararmos para ascender ao Dele?

Muita pretensão?

Esta seria a análise do ego humano.

Já a forma do que imagino que Deus espera de nós é mais simples, independente de qual seja a fé ou a linha religiosa da pessoa. Meu sentimento do que Deus espera de nós é que façamos nossa parte e deixemos o amor prevalecer em nossas vidas. É por meio da ‘postura do amor’ presente em nossas vidas que podemos nos aproximar de Deus. Penso que a linguagem do amor é o instrumento mais viável que temos para nos aproximarmos de Deus.
E o ser humano tem todas possibilidades de criar esta ‘postura do amor’ em suas vidas. O que você acha? — perguntou o Homem Ecumênico olhando nos olhos de Ferhélin, que percebia amor fluindo por aquelas palavras.

Ferhélin sorriu diante da visão que descerrava um mundo de possibilidades. Ela se lembrava da visão quântica, sua especialidade, e imaginou como o amor poderia possibilitar essa ascensão espiritual.

Passados alguns instantes, Ferhélin, lembrando-se de como agia em momentos de confusão ao seu redor, disse: penso que, em uma dificuldade, o meio mais simples de não ser influenciado por ela é sair de seu campo de ação — ela afirmou. 

Ao que o Homem Ecumênico acrescentou: — o importante é não confundir isto com afastamento ou fuga do problema. O que quero dizer é que é possível levar sua consciência para além deste campo de ação que as negatividades conseguem alcançar.

Conseguir manter nossa consciência fora do campo de influência da negatividade é uma coisa. Outra é ascender o nível de consciência e isso também é possível. Um dos meios que conduzem a esta elevação é promover o bem, outro é deixarmos bons sentimentos fluirem de nós, outro é por meio da aproximação da pessoa para com Deus, o que pode se dar por meio de orações, meditação ou contemplação feitas com sentimentos verdadeiros e fé. Os meios são distintos, assim como são distintos os resultados.

Na prática, o impacto do meio utilizado pela pessoa em sua vida vai depender do nível de envolvimento e do grau de sentimentos verdadeiros presentes em quaisquer sejam os meios escolhidos. O fato é que todos eles, quando sintonizados com o bem, trazem benefícios em algum nível.

Estes meios são atitudes que atuam como elos, entende? Um conduz ao outro – há interconexão e há um fluxo dinâmico de boas energias, que podemos entender como sendo bons sentimentos que nos induzem a boas ações e ao bem. A lembrança de Deus, assim como as práticas relacionadas ao bem, torna-nos mais conscientes.

Quanto mais consciente você estiver, mais bons sentimentos serão experimentados e mais eficaz será a ação realizada – seja relacionada a Deus, seja relacionada a práticas que promovam o bem.

Há várias formas de relacionamento com Deus. Lembrar-se e apenas adorar é um nível de lembrança. Fazer orações é outro nível. Pode ser por meio de orações já pré-estabelecidas de acordo com a linha religiosa ou pode ser por meio de orações intuídas e criadas pela pessoa que a faz. Pedidos a Deus é um outro nível, que envolve alguma forma básica de diálogo. E há outros níveis de relacionamento com Deus. O importante é que os sentimentos verdadeiros estejam presentes. O fato é que, independente da linha religiosa ou da prática espiritual os efeitos dos meios utilizados, a elevação do nível de consciência se faz importante. 

— Elevar nosso padrão de pensamentos e de sentimentos, estabelecendo sintonia com níveis mais elevados, permite-nos elevar nosso nível consciencial, mas, no fundo, são os sentimentos que experimentamos que farão a diferença. Quanto mais mantivermos estáveis bons sentimentos em nossas mentes e corações, mais fácil será manter a sintonia com padrões mais elevados de consciência.

Se nossos pensamentos estão em um baixo nível energético, em sintonia com aspectos de baixo padrão vibratório, e você quer sair dessa situação, isto faz sentido, pensou Ferhélin.

— Ascender de nível! Interessante — disse ela.  

Algumas vezes, não conseguirá fazer isso sem por a mão na massa — continuou o Homem Ecumênico. O que quero dizer é que fazer o bem, ajudar aqueles que precisam de ajuda, socorrer os necessitados, os doentes, os refugiados, os sem-teto, as crianças abandonadas, os que passam fome e os que sofrem com a perda da esperança; todas essas condições vividas por muita gente em nosso planeta, constitui uma realidade em que, ao vivenciarmos o amor, teremos a vontade de agir ajudando a quem precisa; mas, de fato, ao estendermos nossas mãos para auxiliar quem precisa, como que recebemos uma ajuda extra de Deus e, quando notarmos, estaremos muito mais próximos Dele do que poderíamos imaginar.   

O Homem Ecumênico a olhou e sentiu que entre eles se estabelecera uma conexão, além do plano das palavras. Fez-se silêncio por alguns minutos.

— Entre sentar-se e meditar, por alguns instantes, experimentando luz em sua mente e em seus pensamentos, dando vida a bons sentimentos ou se entregar de vez a pensamentos inúteis, negativos ou desnecessários, a escolha tem um só autor — você! — completou o Homem Ecumênico.

— De algum modo fazemos isso sempre. Em nossos altos e baixos, nos permitimos afundar, algumas vezes até bem fundo, para então de lá sairmos novamente — disse Ferhélin.

O Homem Ecumênico comentou: 

— É interessante, mas, independente de crenças ou de filosofias, de dogmas ou de linhas religiosas, há algo em cada pessoa que a faz querer sair do “fundo” e subir, sempre! É algo que parece estar na alma, na consciência de cada pessoa.

O perigo reside no jogo de autossabotagem, que é o que ocorre quando a pessoa ‘brinca‘ de se tornar ioiô humano. Os altos e baixos frequentes causam um tremendo desgaste e roubam a autoestima da pessoa. Esta situação, independente da fé ou do nível de formação da pessoa, gera uma insegurança que desconfigura as referências mais poderosas que cada um pensa ter à sua disposição.

Por isto, quando estamos ‘na pior’ nada parece bom e ninguém parece legal. Duvidamos de tudo, de todos e da vida — comentou Ferhélin.

— Quando se entra num ciclo desses, há sempre um processo que coloca a pessoa em sintonia com o ‘negar’ a vida e a induz ao afastamento do viver e de tudo que tem vitalidade. Pode-se escolher desde o engajamento de cabeça, ao estilo workalcolic8, até o extremo oposto de desânimo total. Ambos são extremos de um mesmo rio, nascidos da negação da vida, de algum modo — disse o Homem Ecumênico.

Mesmo o engajamento total ao trabalho? — indagou Ferhélin.

— Ao concentrar-se totalmente em algo, você se afasta do resto. Focalizando toda sua atenção no trabalho, você afasta sua consciência de tudo que compõe a vida, com grande chance de você ignorar a multiplicidade de universos que nela se manifestam — comentou o Homem Ecumênico.

— Quando a pessoa percebe que o que está acontecendo não traz benefícios, o que fazer? — indagou Ferhélin.

— Não há fórmulas. Penso que a dica mais simples que pode haver é: seja você! Divirta-se, sendo! Ao ser você, parece que um escudo invisível a protege, não permitindo ser contaminada pelas influências externas.

Sempre há a tendência de se buscar soluções simplistas e que contenham a fórmula para tudo. Nenhum livro e nem nada conterá tudo, nenhuma imagem mostrará a totalidade, enquanto você não for você mesma. Por mais conhecimento e boas informações possa haver num livro sagrado, que possa ter sua origem a mais respeitada e honesta, apenas o conhecimento ou a informação não será capaz de transformar a vida da pessoa, enquanto ela não for honesta com ela própria – e isso se expressa nos sentimentos, mais que nos pensamentos.

No momento em que conseguirmos nos experimentar ‘sendo’ nós mesmos, sem medos e sem preconceitos, sem fantasias e sem confusões, independente dos papéis que desempenhamos, veremos que mesmo pequenos fragmentos do viver parecerão conter tudo e haverá maior satisfação com nossas vidas .

Imaginemo-nos por um momento: nós na condição de sermos nós mesmos – simplesmente deixando nossos sentimentos ‘falarem’ por nós, com emoção e felicidade, amor e beleza, honestidade e transparência, independente das condições que nos cercam e das crenças e linhas religiosa com a quais podemos ter mais afinidades. Quando ‘somos’, verdadeiramente, a espiritualidade será viva em nossas atitudes e, com certeza, haverá olhares, bons sentimentos, respeito, empatia e isso pode se dar em meio a momentos de silêncio ou de fala, de ação ou de observação.

Mas ‘ser’ não é simplesmente um ato e é mais que um estado. Apesar de ter me dedicado a refletir bastante sobre esse tema, não me sinto em condições de definir o que significa ‘ser’, mas o que posso dizer é que sinto que ‘ser’ tem mais a ver com sentir que com pensar, mais com expressar nossos sentimentos que com intelectualizar — disse o Homem Ecumênico.

Talvez pela razão de não haver fins e nem limites em ser, pensou Ferhélin.

Um outro dia havia se passado, em meio às Montanhas Rochosas e seus magníficos lagos incrivelmente azuis, os pássaros atravessando os céus e as nuvens, com uma energia especial pairando nos ares. No dia seguinte, seguiriam viagem, mas para locais diferentes.

Após jantar, ele a levou para a sua pousada. Eles se despediram e ele dirigiu-se ao hotel em que estava hospedado. 

Antes de adormecer, com seu caderno de notas às mãos, Ferhélin sentou-se em seu quarto. Ali permaneceu, lembrando-se das conversas que tivera naquele dia e refletindo sobre algumas falas, com seus pensamentos viajando pelo mundo futuro na visão do Homem Ecumênico. 

Com sentimentos de serenidade e alegria íntimas, ela sentia que vida lhe sorria naquela viagem pelas Rochosas Canadenses. Em breve, novos cenários se apresentariam a ela.

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Livro Ferhélin Ouvindo as Estrela

A série ‘FERHÉLIN, OUVINDO AS ESTRELAS‘ descreve os encontros de uma jovem cientista (Ferhélin) – personagem central dos minilivros da série, durante sua jornada em terras canadenses. O livro original gerou uma série de minilivros, com temáticas distintas, que podem ser lidos, um independente do outro. Cada um deles refere-se a um encontro específico.

Grande parte das narrativas tem como cenário as Rochosas Canadenses, com suas paisagens únicas e encantadoras, nos quais a magia dos cenários funde-se com perspectivas e revelações, aprendizagens e entendimentos que proporcionam a Ferhélin experiências que a ajudam a transcender sua forma de pensar e enriquecer sua forma de enxergar o mundo e as pessoas, as ciências e a espiritualidade.

Experiências essas que são compartilhadas conforme os encontros são relatados. O que os leitores poderão atestar no decorrer da leitura de cada um deles.

Para mais minilivros da série ‘Ouvindo as Estrelas‘, clique aqui.
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