O Mestre Intuitivo - MiniLivro 13 "OUVINDO AS ESTRELAS"

O Mestre Intuitivo - MiniLivro 13 "OUVINDO AS ESTRELAS"

‘Trilhas, geleiras e lagos’, ‘O exercício da observação e o desenvolvimento da percepção’, ‘Associação da Intuição com a razão’, ‘Aprendendo com a flor de lótus’, ‘O magnetismo das palavras’ e ‘Em sintonia com o universo’ são alguns dos temas de ‘O MESTRE INTUITIVO’, minilivro 13 da série Ouvindo as Estrelas, hoje publicado no site Intuicao.com – Para sua apreciação. Confira!

(tempo médio de leitura- 22 min)

Livro Ferhélin Ouvindo as Estrela

Mestre intuitivo

Para dar uma breve ideia dos temas do minilivro 13, veja abaixo sumário com os capítulos de ‘O MESTRE INTUITIVO.
(Para ir a um deles, basta clicar no capítulo ou – para minilivro co capítulo todo, é só dar sequência nesta página)

De acordo com as escolhas, 
a vida se encaminhará naquele sentido

Trilhas, geleiras e lagos

Os dias passavam, e poucas pessoas surgiam na Montanha Edith Cavell. As que vinham, eram visitantes que Ferhélin veria apenas de relance. Em geral, eram caminhantes que iriam passar de uma semana a dez dias adentrando as trilhas que levavam às geleiras da região e às montanhas que as cercavam. Eram caminhantes, em sua maioria, que traziam dentro de si o espírito da aventura. Eram pessoas independentes, corajosas e destemidas.

Aquele local não estava tão distante da civilização, mas seu acesso era restrito aos que buscavam uma relação mais íntima com a vida interior e com a natureza. Era comum na região encontrar ursos e animais totalmente selvagens caminhando livremente pelas montanhas. Ali era o seu território, as pessoas eram apenas visitantes naquele habitat.

Ferhélin permanecia a maior parte do tempo sozinha, percorrendo trilhas e fazendo passeios nos arredores do alojamento. 

Encontrara trilhas que a levaram a locais maravilhosos, como geleiras e lagos. Mas suas visitas à natureza tinham a duração do dia, não eram longas e sempre retornava ao alojamento ao final da tarde.

Durante as noites, costumava ficar sentada nos bancos de madeira espalhados pela área externa. Alguns formavam uma espécie de círculo e, no centro, geralmente, uma fogueira era acesa à noite.

De um lado, ficava o alojamento e do outro, as árvores. Era o local onde os hóspedes se encontravam à noite. Não havia muita conversa, apenas faziam companhia, quase sempre silenciosa, umas às outras, reunidas ao redor da fogueira, admirando o fogo queimando em silêncio.

Foi em uma dessas noites, ao redor da fogueira, que Ferhélin encontraria uma outra pessoa que, como ela, não era um aventureiro completo. Era um “semi-aventureiro”, como ele se definia. Ele ali permaneceria pouco mais de um dia e não desafiaria as geleiras e montanhas sozinho. Ele pretendia passear pela geleira mais próxima e visitar as montanhas e lagos da região, mantendo o alojamento como referência.

 Aquele homem, moreno claro, de estatura mediana, calvo, usando rabo de cavalo e óculos, aparentava quarenta e poucos anos. Era um terapeuta, autor de alguns livros e de nacionalidade espanhola. Ferhélin o chamou de Mestre Intuitivo.

Ao redor da fogueira, eles haviam se conhecido e trocaram algumas palavras.

Entre eles houve uma certa sintonia, sentida através dos olhares. Combinaram de se ver no café da manhã.

De Sonhos e pesadelos

Ao despertar na manhã seguinte, Ferhélin permaneceu deitada na cama por mais um tempo e se questionou:

Em sua mente, voavam pensamentos esparsos de desapontamento consigo mesma.

Eu quero uma vida de harmonia. Estou em um local magnífico, mas, mesmo assim, eu tive uma noite com sonhos confusos. Como é possível ter dias tão especiais e acordar tão mal?

Tentou elevar o nível de seus pensamentos, mas apenas sentiu um certo gosto de desmoronamento interior. 

Após o café, ela e o Mestre Intuitivo partiram em direção a um lago, também azul, de tamanho médio, mas que seria considerado imenso em outros países. Ficava a uns quinze minutos de caminhada, e a trilha estava cercada por árvores e montanhas. 

Conversaram sobre amenidades, e ela o conduziu a um local que possibilitava uma vista muito bonita, de onde podiam ver claramente o lago abaixo, com árvores em suas margens e a geleira à sua direita. O céu estava azul e não havia nuvens. 

Em um certo momento, Ferhélin sentiu-se mais à vontade e comentou sobre os sonhos que a inquietaram na noite anterior.

Ele, observando a paisagem, perguntou:

— O que você fez à noite? Nós nos despedimos na fogueira e depois não mais nos vimos. O que fez até dormir?

Ferhélin procurou lembrar-se.

Ainda na cama, tinha lido um jornal que encontrara no alojamento.

— Não me prendi a nada em particular, mas fiquei lendo fragmentos de notícias, para saber o que está acontecendo no mundo. Li um pouco sobre esportes, cultura e outros assuntos.

O mestre insistiu:

— Tente lembrar-se. Você leu algo que foi mais importante?

Ela procurou refletir e logo veio à sua mente:

— Havia algumas notícias perturbadoras, envolviam violência e drogas com crianças. Foi quando me senti um pouco deprimida.

O Mestre Intuitivo disse:

— Vou conduzi-la a alguns pensamentos. Respire fundo e lentamente. Faça isto algumas vezes e aproveite para observar a natureza enquanto respira.

O lago e a geleira pareciam favorecer a experiência.

Ferhélin, à vontade, abriu seus braços e inspirou o ar puro das montanhas. Sentia-se acolhida pela natureza.

— Procure sentir-se sem peso. Apenas perceba-se. Sinta-se leve e em liberdade, como os pássaros que flutuam no céu — disse o Mestre Intuitivo.

Ela deixou-se sentir, apenas respirando e procurando integrar-se àquele cenário magnífico que os recebia. 

Ele continuava a falar sugestivamente:

— Neste momento você é você mesma, sem antes nem depois, sem imagens, sem classificações, apenas permitindo-se respirar e integrar-se com a natureza ao seu redor.

Ferhélin inspirava de modo ritmado, levando para dentro todo o ar que era possível e soltando-o pela boca, suavemente. 

Vários minutos se passaram. O Mestre Intuitivo permanecia sentado, observando o lago. Com seu jeito sossegado, disse:

— Sinta toda raiva e angústia que possam estar em seu coração se dissolvendo. Sinta esta energia derretendo-se como o gelo, tornando-se água e, então, vapor. Perceba a energia negativa indo embora de você.

Deixe que ela parta e se dissolva na luz que a envolve.

Sinta-se em uma dimensão de luz e toda aquela energia se despedindo de seu coração, desaparecendo em meio à luz que a cerca. Continue esta experiência pelo tempo que quiser.

Ferhélin permaneceu em silêncio por um tempo. 

O Mestre Intuitivo parecia imerso em um mundo particular.

Quando Ferhélin voltou de sua experiência, ele sorriu e, então, sugeriu:

— Sempre que se sentir inquieta, que algo a perturbar mais profundamente, procure elevar seus pensamentos e sentir-se em harmonia interior e, então, dissolva esta energia e mande-a para fora de você, como fez agora.

Todo dia, acumulamos um pouco desta energia nociva, que pode vir da raiva, da arrogância, da agressividade, do medo ou do apego. Não importa de onde vem, o importante é saber desconectá-la.

O exercício da observação
e o desenvolvimento da percepção

Ferhélin observava a geleira enquanto o ouvia, agora aliviada e sentindo-se iluminada.

— Geralmente, o que nos perturba não está fora, mas dentro de nós. Há cenas, situações externas ou informações que funcionam como injeções letais em nossas mentes. Elas são nocivas porque há algo em nós que reage, formando uma imagem venenosa em nossas mentes. Procure simplesmente se desfazer delas, deixe-as dissolverem-se na luz.

— Mas como isso funciona? O que tem a ver a experiência da noite anterior, por que me perguntou sobre ela?

— Reflita um pouco. Pense se houve alguma relação.

Percepção – Abrindo Canais

Ferhélin silenciou por instantes. Então comentou:

— As notícias de violência podem ter a ver com a noite anterior.  Sentimentos de incompreensão e desânimo vieram à minha mente, quando eu estava lendo e um sentimento de desesperança me invadiu depois. Isto teve a ver com os pesadelos, não teve?

O Mestre Intuitivo voltou-se para ela e sorriu, dizendo:

 — Você é quem está falando. Por que acha isto?

— De acordo com o que você falou, de alguma forma, aquelas cenas funcionaram como uma injeção em minha mente e, combinando-se com a raiva e a agressividade internas, acabei por ter aqueles pesadelos, pode ser isso? — concluiu Ferhélin, olhando para o Mestre Intuitivo, que comentou:

— É interessante observar a nossa vida. A percepção é fundamental no processo de crescimento. Você percebeu algo com esta experiência, não foi?

Imagine se você “não” tivesse feito o exercício de observação.  Simplesmente, você teria perdido a oportunidade de crescer com ela. Muito provavelmente, teria um dia sem que se sentiria mal e poderia ser um dia sem benefícios agregados à sua consciência. 

Ao que Ferhélin pensou: Quantas vezes deixamos passar chances de crescer, por não observá-las e não percebê-las, apesar de se fazerem presentes em nossas vidas?

O mestre comentou:

— Quanto aos sonhos, acredito que algumas situações funcionam como simulações para quem os experimenta. Conforme é a resposta a elas, acessa-se ou não outros níveis.

Se a resposta for de baixo padrão energético, não segue adiante e a experiência resume-se àquele nível.

Caso a resposta seja positiva, pode-se avançar. Tudo depende do estágio. Estas simulações não existem para prejudicar ou complicar, mas para indicar como assimilamos o aprendizado.

Nos sonhos, nossas respostas representam algo além dos interesses, desejos ou objetivos. E isto não apenas no plano racional.

Ao sonharmos e – nos sonhos vermos certas fraquezas ou derrotas, problemas ou obstáculos, podemos interpretar que são sinais que estamos recebendo, que podem nos ajudar no sentido de promovermos mudanças de postura em relação a atitudes na nossa vida real.

Neste sentido, os sonhos funcionam como campo de observação, no qual podemos interpretar em que nível a mudança de atitude se faz necessária – se apenas no nível intelectual, no mental ou no emocional e mesmo se precisamos de mudanças de atitudes no nível espiritual.

Perceba como a observação acontece. Você faz uso da razão para observar. Mas não basta a razão para entender e discernir sobre o que fazer e como fazer. O canal da percepção deve estar aberto e fluindo o tempo todo.

Não é apenas uma coisa do intelecto – não basta apenas entender se é saudável e bom ou o se é nocivo e prejudicial; a percepção é algo que transcende o nível intelectual.

Então, ao percebermos o que é saudável ou não – nos sonhos ou mesmo fora deles, fica mais fácil superarmos situações de fraquezas ou de derrotas e evitar posturas que não gostaríamos de ter em relação aos problemas ou aos obstáculos que podem perturbar-nos e tirar-nos de nossa caminhada.

Associar – uma possibilidade real

O verde das árvores a encantava, tantos eram suas nuances e seus brilhos. A água do lago e seu reflexo produziam a magia da natureza que Ferhélin experimentava, sentindo-se leve e despreocupada novamente.

Aqueles dias estavam sendo muito especiais. A harmonia que experimentava, tornava-a aberta e a colocava em sintonia com o melhor e assim se sentia, profundamente agradecida. 

Seu entusiasmo crescia, assim como sua vontade de agregar novos valores e aprendizagens ao seu viver.

O Mestre Intuitivo comentou sobre suas reflexões e a relaçãocom os fundamentos filosóficos da Física Quântica: 

— O livre-arbítrio é uma realidade da qual pode fazer uso ou não. Mas mesmo o seu não uso é questão do livre-arbítrio.

No seu caso, ao ler as notícias no jornal, você observava aqui e ali, aleatoriamente, não escolhia de fato. A escolha acontece quando você usa a intuição e traduz o pensamento para a razão.

Internamente, funciona como uma voz sussurrando: “Eu quero isso” ou “isto não tem nada a ver comigo”.

A maior parte das pessoas ignora o uso da intuição ao fazer uma escolha. Quando você a associa à razão, você experimenta maior clareza em relação ao que “quer”, “precisa fazer” ou “é bom para você”.

Ao usar apenas a intuição, você “sente” que a escolha é boa, mas não entende o porquê.

Quando usa apenas a razão, você acaba entrando em um ciclo de reafirmação, tentando mostrar, de novo e de novo, que sua escolha foi a melhor, mas nunca se convencerá completamente.

Quando associa as duas, a intuição e a razão, você terá uma experiência de maior clareza na sua escolha.

Ou seja, a associação da razão com a intuição é uma possibilidade real!

Assistir a um filme é uma escolha, mas assistir a um filme e não ser influenciado por ele, é uma escolha consciente que precisa ser ativada o tempo todo. Isto também é possível.

Mas veja bem, só é possível, quando você escolhe assim e se prepara para isto. Caso contrário, você pode ser afetada por tudo que a cerca, pelo que é bom ou ruim. O bom inspira o lado luminoso. O ruim inspira o lado obscuro.

Aprendendo com a flor de Lótus

Ferhélin apreciava o lago majestoso e ficaria ali pela eternidade, tão bem se sentia. 

— Como é possível escolher algo que você sabe que não é bom e ainda assim não ser afetada? — questionou ela.

— Este é um desafio comum na vida de quem está no caminho da aprendizagem. Sábios e santos passaram por estes testes. Este é o grande desafio da vida espiritual!

Ferhélin o observava com um brilho intenso nos seus olhos e seus cabelos voavam soltos com a brisa que os refrescava. 

Disse o Mestre Intuitivo: 

— Veja o exemplo da flor de Lótus. A semente desta flor nasce em meio à lama, geralmente em lodos ou lagos enlameados, desabrocha e se transforma em uma flor belíssima, de formosas pétalas esbranquiçadas e rosadas.

É um símbolo de pureza na vida. Ela cresce em meio à imundície e sujeira, mas permanece intacta durante toda sua vida, não se deixando afetar pelo ambiente. Este é o desafio de quem escolhe o caminho da luz.

Aprender com a flor de Lótus é possível. Conheço vários seres iluminados que vivem assim. Se abrirmos os olhos, observaremos vários lótus humanos. Veja o exemplo de Madre Tereza de Calcutá, do Dalai Lama, dos Lamas tibetanos, dos franciscanos e beneditinos, dos Raja-Yogues de Madhuban e de muitaspessoas, incógnitas, espalhadas pelo mundo. Estas pessoas são mestres que vivem como aprendizes.

— Mas como isto é possível? — insistiu Ferhélin.

— Bem, estou nesta jornada há muito tempo e posso dizer que conheço três atitudes que influenciam nossas escolhas: o caminho, a luz e a vida. Você deve escolher seu caminho, escolher a luz sempre e escolher a vida a seu favor. São escolhas suas, apenas.

— Mas o que éisto? Uma fórmula para viver? —questionou Ferhélin.

o magnetismo das Palavras

O Mestre Intuitivo sorriu. Era um sorriso de alegria, percebeu Ferhélin, que o escutou dizer:

— Sempre procurei aprender com as leituras que a vida nos oferece e que não se apresentam apenas em livros ou textos, mas na vida em suas diferentes linguagens.

As linguagens da vida, assim como as palavras, têm mágica e, de acordo com o momento, oferecem uma fragrância particular. Tudo está interconectado. Quando você busca, você encontra.

A mágica está em não permitir que os conceitos atrapalhem. Particularmente, sinto que as palavras têm magnetismo e sempre atuam em grupos, criam conexões ou ressaltam separações.

As palavras concebem muitas realidades diferentes. São como times que jogam diferentes jogos ou grupos de bailarinas que dançam em ritmos ou bandos de pássaros que voam longe e nos levam junto.

Ferhélin observava o Mestre Yogue e o sentia voando. Ele continuava sua declaração de amor às palavras:

— São como grupos de golfinhos que o levam a mergulhar na beleza de oceanos inimagináveis.

As palavras possibilitam combinações que podem nos levar além do seu significado aparente. 

Sinto que as palavras têm vida – às vezes, elas se juntam e se divertem, formando olhares que surpreendem, encantam, elevam ou derrubam quem brinca com elas. Acredito que a palavra é a semente que dá vida à atitude.

Assim, em meio a esta jornada de traduzir a energia das linguagens da vida e das palavras junto ao meu coração,encontrei um livro antigo13, Light onthe Path’,  que me auxiliou em um determinado momento desta  jornada.

Naquele livro, havia uma destas combinações mágicas, uma frase que dizia: “O caminho e a verdade vêm primeiro, então segue a vida”. Está conectada com uma frase mencionada por Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” e pode ter nascido dela.

O que sei é que tocou o meu coração, havia algo sagrado nela.

A jornada me levou a perceber que a escolha do caminho é sua, qualquer que ela seja. Uma vez escolhido o seu caminho e nele tendo o alimento da verdade, você terá sua vida.

Entendo a verdade como luz. Onde há luz, há verdade. O resto é ilusão. A vida!

Bem, a vida é fruto de suas escolhas e existe para manifestar o que seu caminho apresenta.

A luz pode iluminar este caminho e fazer sua vida desabrochar.

Quando você leva luz à sua mente, sua atitude mental será clara e lhe permitirá sentir a vida a seu favor. Assim entendo e, assim, compartilho com você estas frases, que considero sagradas.

Interessante, pensou uma Ferhélin feliz, sentindo-se preenchida de luz. 

— Pensando assim, a vida nunca estará contra os propósitos verdadeiros. Estará sempre a favor.

Depende do caminho e da luz. A vida é o fruto e sempre vai conspirar na direção escolhida. Se a pessoa escolher a desconfiança, vai colher este fruto. Ao escolher o medo, também. Ao escolher a luz, sua vida será iluminada. De acordo com a escolha, a vida se encaminhará naquele sentido.

É uma responsabilidade grande, acrescentou Ferhélin.

O tempo passava, e eles resolveram caminhar. Assim fizeram até o sol começar a se despedir. A noite logo chegaria, então, retornaram ao alojamento.

Ao redor da fogueira

Mais tarde, eles se encontraram novamente junto da fogueira.

Fazia frio. O Mestre Intuitivo estava sentado ao lado de Ferhélin, em um banco de madeira, sob o olhar despretensioso de algumas estrelas ao céu. A noite escura combinava com as chamas da fogueira. 

Ele estava reflexivo e ouvia os estalidos dos gravetos a arder com o fogo. Apenas os dois lá se encontravam.

Após um tempo, em que ambos permaneceram silenciosos, ele começou a falar, olhando para as chamas:

— Creio que, se começássemos a retirar todos os complementos e a roupagem a que estamos acostumados, nos surpreenderíamos com o que somos de fato.

Em certa ocasião, ouvi que, se deixássemos toda a matéria de lado e expressássemos apenas as energias, só restariam sons e tons para nos comunicarmos.

Mais alguns momentos de silêncio, e ele continuou a compartilhar seus pensamentos:

— De que vale o conhecimento, se não for colocado em prática? O que vale é a prática e as atitudes.

As religiões e filosofias têm suas crenças e entendimentos a respeito da natureza humana. Eu tenho a minha, você deve ter a sua, e cada pessoa pode escolher seu caminho religioso. Outras não seguem nenhuma religião, mas apresentam um determinado grau de espiritualidade, quer queiram ou não, mesmo que neguem.

Neste momento da história, entendo que as religiões existem para ajudar e servir de referência. Quando a pessoa decide não praticar religião alguma, ainda assim deve estabelecer suas referências fundamentais para ajudá-la a sair dos labirintos que a vida apresenta.

Em uma visão racional do mundo material, as chances de distorção são imensas, pois esta visão é estreita ao extremo.

Mas você sabe como encaro as crenças, as referências e os princípios?

Como traduções de algo que está além de um entendimento possível para a humanidade hoje. Por mais que uma visão nascida destas traduções tente ser clara, ela nunca será plena.

Raras mentes são capazes de experimentar a plenitude, em seu contexto ilimitado. Enxergamos conforme os limites que criamos.

Mas sabe como enxergo a vida?
A vida é perfeita quando a vemos com a visão correta para aquele momento determinado.

Em sintonia com o universo

O Mestre Intuitivo parecia deixar seus pensamentos voarem com as fagulhas que subiam da fogueira.  

Ferhélin estava envolvida no calor das chamas e dos sentimentos que fluíam ao escutar aquele homem calvo, com seu pouco cabelo despenteado e óculos de aros redondos, quase na ponta de seu nariz. 

Cada ser tem sua natureza essencial, que é chamada de espírito, a essência de luz. Esta descoberta é um processo individual. 

O mestre falava, e Ferhélin apreciava as reflexões compartilhadas em natural cumplicidade.

— Caso uma pessoa perca um braço, ou qualquer outra parte do corpo, ela não deixa de continuar a ser uma pessoa, não deixa de experimentar sua existência. A parte corpórea é uma roupagem. Não nos restringimos a esta roupagem. Temos um corpo, mas não somos apenas um corpo.

Temos uma personalidade, mas não somos apenas esta personalidade. Ela é uma roupagem, talvez um pouco mais sutil, mas não deixa de ser uma roupagem.

Temos papéis em nossas vidas, mas não somos apenas estes papéis, apesar de desempenhá-los e até vivermos por eles, mas não podemos nos confundir com eles, por mais impregnados que estejam em nossas vidas.

Ferhélin então comentou:

— Muitos agem desta forma. É comum uma pessoa ignorar esta distinção entre papéis e o ator que existe por trás.

O Mestre Intuitivo argumentou:

— De algum jeito, esta é uma forma de se iludir e continuar a vida como se fosse apenas o que a pessoa “finge” ser.

Ferhélin lembrou-se de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.

O Mestre complementou sua ideia:

— Acredito que, em algum momento de sua existência, cada ser procura sua essência verdadeira até encontrá-la. É um processo da pessoa consigo mesma e com mais ninguém.

A pessoa cresce, sofre altos e baixos, comete erros, segue caminhos que não são os seus e experimenta muitos atalhos que a levam a encontros e desencontros.

Mas um dia, o momento chega, e ela encontra o seu ‘jeito‘ pessoal de fazer esta busca, e, então, os enganos começam a ser menos frequentes, os altos e baixos começam a rarear, e a vida se apresenta a seu favor.

Chega o momento em que a pessoa entra em sintonia com o que o Universo espera dela. Penso que a partir daí entendemos o significado de ‘ter a vida a nosso favor‘ ou ‘do universo conspirar a nosso favor‘.

Ferhélin o escutava, às vezes trocavam olhares, mas na maior parte do tempo mantinham seus olhares mergulhados nas chamas da fogueira que os iluminava. 

De tempos em tempos, ficavam em silêncio.   

A brisa acariciava a face de Ferhélin, o frio ameno a agradava e ela sentia conforto interior e exterior.

Respirava profundamente sentindo o ar percorrer seu corpo. Parecia sentir as células, os órgãos e os ossos de seu corpo sendo banhados por uma energia luminosa que a preenchia e a rodeava. Deixou-se estar imersa naquele estado de leveza e revitalização.

Eles se despediram, abraçando-se felizes e sentindo-se próximos.

Ferhélin ainda encontrou tempo para fazer algumas anotações e escrever sobre o que havia tocado seu coração naquele dia. 

Na manhã seguinte, quando acordou, o Mestre Intuitivo já havia partido.

Mestre intuitivo

Livro Ferhélin Ouvindo as Estrela

Os minilivros OUVINDO AS ESTRELAS descrevem encontros de uma jovem cientista (Ferhélin) – personagem central do livro, durante sua jornada em terras canadenses.

Grande parte dos minilivros tem como cenário as Rochosas Canadenses, com seus cenários únicos e encantadores, nos quais a magia dos cenários funde-se com perspectivas e revelações, aprendizagens e entendimentos que proporcionam a Ferhélin experiências que a ajudam a transcender sua forma de pensar e enxergar o mundo e as pessoas, as ciências e a espiritualidade.

Experiências essas que são compartilhadas nos minilivros, o que os leitores poderão atestar no decorrer da sua leitura, conforme os encontros são relatados.

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Imagens (exceto as da capa do livro): Banco de dados Pixabay