Hoje, aqui apresentamos o minilivro ‘A JOVEM SENHORA MISSIONÁRIA’ da série ‘OUVINDO AS ESTRELAS, ‘- em versão completa, com temas inspiradores. Confira!
(tempo médio de leitura- 70 min)
FERHÉLIN, OUVINDO AS ESTRELAS
Capa do livro
“Ferhélin, Ouvindo as Estrelas”
Obs do autor: Nas edições impressas – tanto em português, quanto em Inglês, este minilivro, então capítulo do livro originário desta série, foi apresentado de forma sintetizada. Agora, o seu conteúdo completo é apresentado aqui no site ‘intuicao.com‘.
Para quem está iniciando a leitura da série por este minilivro, visando ter entendimento do contexto deste minilivro e informações sobre a protagonista, a sugestão é que simplesmente dê continuidade à leitura.
Sobre a série
‘OUVINDO AS ESTRELAS‘
A série ‘FERHÉLIN, OUVINDO AS ESTRELAS‘ descreve os encontros de uma jovem cientista (Ferhélin) – personagem central dos minilivros da série, durante sua jornada em terras canadenses. O livro original gerou uma série de minilivros, com temáticas variadas, que podem ser lidos, um independente do outro. Cada um deles refere-se a um encontro específico.
Grande parte das narrativas tem como cenário as Rochosas Canadenses, com suas paisagens únicas e encantadoras, nos quais a magia dos cenários funde-se com perspectivas e revelações, aprendizagens e entendimentos que proporcionam a Ferhélin experiências que a ajudam a transcender sua forma de pensar e enriquecer sua forma de enxergar o mundo e as pessoas, as ciências e a espiritualidade.
Experiências essas que são compartilhadas conforme os encontros são relatados. O que os leitores poderão atestar no decorrer da leitura de cada um deles.
Sobre a personagem central
‘Ferhélin‘
Ferhélin, a personagem central do livro nasceu no interior paulista, região sudeste do Brasil. É graduada em Física e especializada em Mecânica Quântica.
Desde que se formou, pouco mais de seis anos antes da publicação deste livro, tem atuado como professora e pesquisadora.
Trata-se de uma jovem mulher de olhos e cabelos castanhos que chegam aos ombros. À época dos encontros aqui narrados, estava prestes a completar 30 anos de idade.
Com 1,70m altura e peso proporcional, sempre praticou natação e gostou de caminhadas, atividades que, conforme depoimento dela, a inspiram à reflexão durante suas práticas.
A espiritualidade, desde criança, fez parte de sua vida com mãe e pais cristãos praticantes. Desde cedo, em casa, aprendeu a conviver com os temas de espiritualidade e de ciências sendo abordados e discutidos com naturalidade, nunca vendo barreiras entre eles.
Foi assim que aprendeu a respeitar e a admirar as pessoas que, independente dos caminhos religiosos, das visões científicas ou preferências artísticas que declaravam, agiam com foco no bem; conforme depoimento dela sobre ensinamentos recebido dos pais e daqueles que costumavam frequentar sua casa, ainda criança.
Foi após a publicação de um artigo em uma revista científica internacional que ela recebeu um convite para fazer uma apresentação sobre o assunto em um congresso no Canadá, o qual aceitou e – a partir da qual, os encontros aqui apresentados relatam a experiência de Ferhélin em solos canadenses.
O relato a seguir é um dos selecionados por Ferhélin
MiniLivro 12
Encontro com a Jovem senhora Missionária
Para dar uma breve ideia dos temas deste belo encontro, veja os temas dos capítulos do encontro de Ferhélin com a Jovem Senhora Missionária. (Basta clicar no capítulo escolhido ou dar sequência nesta página)
MINILIVRO 12
ENCONTRO COM A JOVEM MISSIONÁRIA
Capítulos
A CAMINHO DA GELEIRA DO ANJO
O ENCONTRO AO AMANHECER
CONSAGRAÇÃO À VIDA
UM CONVITE INESQUECÍVEL
O PODER DO AMOR
COMO ELIMINAR O MEDO
UM SORRISO QUE MUDOU UMA VIDA
UMA SIMPLES ORAÇÃO – ABRINDO COMPORTAS
ALGUNS ATRIBUTOS A CONSIDERAR
AS LEIS BÁSICAS DAS BEM-AVENTURANÇAS
A ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO
ELEMENTOS DE MATURIDADE ESPIRITUAL
RELAÇÕES – QUALIDADES COMPLEMENTARES
O RESPEITO – ESTABELECENDO RELAÇÕES
OLHAR – A LINGUAGEM VISIONÁRIA
A FORÇA SUTIL DA GRATIDÃO
SINCRONICIDADE, ESPONTANEIDADE E ESPIRITUALIDADE
TRANSITANDO POR NOVOS E BELOS HORIZONTES
CHAVES DIVINAS: SAGRADO CORAÇÃO E DIVINA MISERICÓRDIA
PEQUENA EXCURSÃO AO MUNDO DO AMOR
FIRMEZA – AUSÊNCIA DO EGO
BENEFÍCIOS-SURPRESAS
ACORDES MELÓDICOS SOB O CÉU ESTRELADO
BRILHANDO – DE DENTRO PARA FORA
A DESPEDIDA
A seguir, para sua apreciação, o texto completo do Encontro com a Jovem senhora Missionária .
MINILivro 12
Encontro com a Jovem senhora Missionária
Esse encontro ocorreu em meio à natureza, nos arredores da Geleira do Anjo, localizada na montanha Edith Cavell[1]
A caminho da Geleira do Anjo
No caminho, desde Victoria, Ferhélin passara por cenários belíssimos, sendo que um dos locais que ficaram marcados para ela, já nas Rochosas Canadenses, foi a aconchegante cidade de Banff[2], local em que ficou por poucos dias, mas ela sentia que aquela aconchegante cidade a havia cativado de maneira especial.
Na viagem entre Banff e o local ao qual agora se dirigia, ela pôde ver montanhas e lagos, assim como ursos e alces em seu habitat natural, passando por cenários singulares naquele trecho de viagem.
Ao chegar ao lugar em que passaria alguns dias, antes de adentrar as acomodações em que ficaria hospedada por alguns dias, Ferhélin lembra-se que a primeira coisa que fez ao descer do carro que a levara, foi ficar de pé, esticar os braços para o alto e respirar fundo, inspirando aquele ar puro das alturas e apreciando o cenário natural das montanhas que cercavam a pousada
O local era bastante isolado, no seio de uma montanha, cercado por várias outras, e localizado próximo à geleira e a um lago que, como a Geleira do Anjo também recebia o nome angelical de Lago do Anjo.
Assim que chegou, antes de ser encaminhada ao chalé em que ficaria hospedada, ao adentrar à recepção da pousada, algumas pequenas surpresas foram anunciadas: lá não havia chuveiros e nem eletricidade.
Tomar banho, só ao ar livre, com balde, e na área externa aos chalés, em local próximo de uma encosta que ficava a poucos metros ao lado do chalé em que ela ficaria hospedada. Aquele mesmo local era onde deveria escovar os dentes ou lavar-se ao amanhecer.
Tudo aquilo era uma novidade na vida de Ferhélin, que, conforme fez questão de manifestar durante seu relato, a ajudariam a sair de sua zona de conforto, ajudando-a a abrir sua mente a novas formas de ver e entender a vida.
Em uma das ‘cabanas’ – foi assim que Ferhélin carinhosamente denominou as instalações da pousada, ficava o refeitório, com dois fogões a gás, uma mesa de madeira grande, com cadeiras ao redor e um sofá com poltronas ao lado, próximos à lareira.
Cada pessoa ali era responsável por suas próprias refeições. Ferhélin levara alguns alimentos, conforme fora orientada previamente.
O lema primordial lá era respeitar a natureza. Todos que lá chegavam eram instruídos a não abandonar ou jogar nada na mata ou nas águas, assim como, deveriam ter atenção em não assustar, nem alimentar ou se aproximar dos animais selvagens.
Era como se estivesse em um terreno sagrado, pensou Ferhélin.
Na parte frontal do alojamento, podia ver o belíssimo lago de águas completamente azuis, que recebia as águas glaciais da geleira da região. Do lago, desembocava um riacho que corria sobre pedras, montanha abaixo.
Da porta da sua ‘cabana’ conseguia ver a Geleira do Anjo, cerca de três quilômetros à frente. Uma geleira não tão grande comparando-se com outras das Rochosas, mas magnífica e imponente aos olhos de Ferhélin.
Naquele cenário, ela passaria alguns dias que marcariam sua vida de maneira singular.
O encontro ao amanhecer
Após dormir sua primeira noite lá, ao amanhecer do dia seguinte, Ferhélin abriu a porta da ‘cabana’ e defrontou-se com uma das cenas daquela viagem que nunca mais sairiam da sua mente: a geleira recebia os raios do sol da manhã.
Aquele foi um momento emocionante para ela.
Depois de ficar por algum tempo apreciando aquele cenário paradisíaco, dirigiu-se ao refeitório e, depois de tomar o café da manhã, caminhou em direção ao lago.
Ao chegar, percebeu que às margens do lago havia uma outra pessoa apreciando a beleza do local. Observando, notou que ela não percebera sua aproximação.
Era uma jovem senhora que, conforme Ferhélin a descreveu, aparentava extrema simplicidade, elegância e exalava espiritualidade. Estava sentada na relva e observava o lago.
A imagem daquela jovem mulher fez Ferhélin lembrar-se da figura de uma santa.
Era uma missionária, de olhos azuis, amendoados, rosto angelical e sobrancelhas finas, com os cabelos entre ruivos e castanhos cobertos por um véu azul celeste.
Para Ferhélin, aquela imagem parecia surgida de um quadro celestial, tal a beleza e a fragrância sutil que sua imagem exalava. Ela ficou atraída, à primeira vista, por aquela pessoa. Não era uma mulher comum, pensou.
Ao aproximar-se, cumprimentou-a. A Jovem Senhora Missionária, assim Ferhélin se referiria a ela, sorriu em retorno, convidando-a para sentar-se próximo dela.
Aquela jovem mulher, conforme disse mais tarde, era natural de Fátima, Portugal, dedicava-se a divulgar as mensagens de Cristo e a ajudar as pessoas com humildade e dedicação. Esse era seu papel no planeta, conforme palavras dela própria.
Para Ferhélin, aquela senhora – de traços joviais e cujo sorriso sutil parecia fazer parte de sua natureza, logo foi associada a uma imagem que tinha em sua mente de um quadro de Nossa Senhora Rainha da Paz em Medjugorje[3], certa vez visto por ela
Como Ferhélin teria a oportunidade de presenciar, a partir daquele encontro inicial, aquela mulher revelava luz e amor em cada gesto.
Consagração à vida
— Há tanta paz aqui — comentou Ferhélin.
A Jovem Senhora Missionária, olhando para Ferhélin sorriu e, como que entrando em sintonia com o comentário que acabava de escutar, observou: — A paz é o oxigênio da vida. É a natureza original do ser!
E continuou: – sem paz, a mente hesita, experimenta altos e baixos e torna-se palco de conflitos internos.
Disse isso desenhando no ar um ziguezague com suas mãos, como que criando uma alternância visual entre os altos e baixos a que se referira anteriormente.
Quando isso ocorre, sabe o que acontece? — perguntou.
Para ela mesma responder: ‘À amplificação dos conflitos externos’
E, dirigindo seu olhar para o lago azul, poucos metros à frente delas, disse: — Aqui, tudo nos convida a experimentarmos paz, e como isso é importante. Mas quando estamos no dia a dia da vida, é fácil esquecer este estado de paz.
Sem paz, a mente se desgasta e fecha o canal que faz fluir a força primordial do planeta, a força capaz de interconectar os mais diversos seres e harmonizar os corações e as mentes humanas. Você sabe que força é esta?
Ferhélin, abrindo seus olhos mais que o habitual, voltou seu olhar para ela, mostrando interesse e admiração com a pergunta e, ao mesmo tempo, esperando a resposta que veio na sequência: — É o “amor”!
O amor é força que transcende os campos da razão e da emoção, dos sentimentos e dos pensamentos. Se observarmos é a força que transcende também as doutrinas e filosofias, as crenças e ideologias.
Um convite inesquecível
Após alguns momentos em que ambas permaneceram silenciosas, observando o lago, a Jovem Senhora Missionária fez um convite para Ferhélin, perguntando se ela gostaria de fazer uma experiência naquele momento.
Convite que foi aceito de imediato, com um sim, acompanhado de um breve sorriso.
Então respire fundo e com calma, disse a Jovem Senhora Missionária; visualize a pomba da paz!
Disse isso juntando os polegares, cruzando as mãos num formato que lembrava uma pomba e juntando os braços ao peito, como que abraçando-se.
De olhos cerrados, assim permaneceu por alguns momentos, para em seguida, abrir as mãos e os braços para frente, abrindo-os em direção ao céu e à natureza que as cercavam.
Ferhélin sentiu-se visualizando a pomba da paz, preenchida e envolta em luz. Conforme fez questão de relatar, sentiu-se voando pelo céu azul, misturando-se às nuvens, como que deixando no ar um rastro luminoso e sutil.
Após alguns instantes de silêncio, a Jovem Senhora Missionária deu prosseguimento àquele exercício de mentalização:
— Agora, visualize a forma do coração no céu azul. Veja-o envolvido em luz.
Ferhélin parecia ver o contorno luminoso de um coração pairando no céu azul; e parecia sentir aquele contorno de luz envolvendo-a.
A Jovem Senhora Missionária acrescentou: — esses símbolos – da luz da pomba da paz e da luz do coração do amor não devem ser esquecidos por nós. Devemos mantê-los vivos em nossas memórias, levando-os conosco aonde formos e visualizando-os – como fizemos agora.
Ao fazê-los vir às telas de nossas mentes – estejamos onde estivermos, sentiremos a luz envolvendo nossos corações. Sentiremos a luz entrando e preenchendo nossos espíritos.
A seguir, conduzindo ao final daquela vivência, disse: respire calma e profundamente; sinta o ar ao seu redor, o som da natureza que nos acolhe e sinta a presença de luz banhando sua mente.
Visualize mentalmente como que uma auréola de luz cercando sua cabeça e seu corpo todo. Sinta seu cérebro preenchido de luz. Sinta-se toda envolta em luz.
Após deixar Ferhélin vivenciar aquela experiência por alguns momentos, a Jovem Senhora Missionária convidou Ferhélin a voltar a respirar de maneira normal e a olhar o lago, o céu e as árvores ao redor delas, lembrando-a da importância de sentir o ar que respirava e abria que as envolvia.
Então, concluiu dizendo: ‘a paz na mente, a clareza sutil no intelecto e o amor no coração são energias que se propagam pela alma e pelo corpo e se irradiam por meio de nossas atitudes, de nosso olhar, de nossos gestos e envolvem todos que se aproximam de nós; até mesmo a natureza’.
Após alguns instantes ela complementou: a paz na mente é a energia que nos possibilita a conexão à nossa própria essência, aos outros e à natureza ao nosso redor.
Esse tipo de experiência é importante porque a clareza sutil do intelecto é que estabelece a transparência verdadeira de quem somos.Quando não estamos em paz, deixamos de ser nós mesmas.
É essa clareza que nos possibilita fazer as escolhas certas e nos direciona para que o nosso caminho seja percorrido da melhor maneira possível a cada dia.
Essa clareza íntima, quando experimentada por nós, faz com que os outros nos percebam além de nossos papéis, aparências ou interesses temporários.
E, por fim, o mais importante, pois sem ele, não experimentamos nem paz na mente, nem clareza no intelecto, que é o amor!
O amor no coração é a energia viva do espírito que nos sintoniza com o bem, com a verdade e, acima de tudo, nos sintoniza com a fonte de amor, que é Deus.
Ainda sob efeito daquela vivência, a Jovem Senhora Missionária falou suavemente:
— De tempos em tempos, gosto de fazer esta prática, e você pode fazê-la também, quando quiser.
Você pode praticar de seu jeito, o básico é lembrar-se da luz da paz iluminando seu intelecto, sentir a luz voando de sua mente para fora de você e lembrar-se de visualizar seu coração preenchido de amor e envolto em luz.
A essência da mensagem de Deus é: “Viva em paz de espírito e se relacione sempre através do amor”. Isso vale para qualquer religião ou filosofia que queira o bem da humanidade, concorda?
No caso dos cristãos, sempre que nos lembramos dos símbolos da pomba da paz e do sagrado coração e, de alguma forma, damos vida a eles, sentimos a espiritualidade viva em nossas vidas.
Mas creio que, independente de qual seja a religião, se a pessoa praticar a paz e dar vida ao amor em sua vida, ela estará aproximando-se da vontade de Deus.
Essa é a base da espiritualidade – e essa espiritualidade, refletida pela paz de espírito e pelo amor no coração, envolverá nossas relações, seja com as pessoas, com a natureza, com os animais, com os anjos ou com Deus.
Na sequência daquele fluxo de vivências que experimentara, Ferhélin lembra-se de ter pensado: ‘aqueles sentimentos todos que haviam brotado nela durante os momentos em que se permitiu fazer aquelas experiências transcendiam palavras, religiões ou dogmas’.
O poder do amor
Após momentos de silêncio, que Ferhélin não tem noção de quanto tempo havia passado, perguntou:
— Todos falam no amor, buscam-no em suas vidas e querem experimentá-lo, então, por que ele não se manifesta em muitos dos momentos críticos de nossas vidas?
A Jovem Senhora Missionária, olhando para o céu azul, que se misturava com a montanha, disse:
— A força oposta do amor é o medo. Este é o inimigo invisível do amor. A proliferação do medo elimina o amor. À medida em que o medo aumenta e se espalha, diminui o espaço para o amor na vida humana. Uma sucessão de enganos fortalece esta substituição.
O amor é o combustível responsável pela vitalidade, pelas realizações, pela revitalização e transformação do mundo. E o que está acontecendo? Ele está cada vez mais reduzido.
Sem amor, a humanidade limita suas chances de fazer escolhas e restringe a possibilidade de alterar o rumo a seguir. Você entende?
Como eliminar o medo?
As escolhas e as possibilidades podem se fundamentar no amor ou no medo; caso a humanidade continue a alimentar o medo, como será o futuro?
Ferhélin, observando a Jovem Senhora Missionária e o cenário ao seu redor, sentia-se em paz e preenchida de amor.
Então a Jovem Senhora Missionária falou:
— Lembre-se sempre: o amor é mais que uma qualidade, mais que um valor; o amor é um poder. Só ele pode lutar contra o medo. O poder do amor tudo pode.
— Se é fundamental reavivar o amor, como fazê-lo? — perguntou Ferhélin.
— Infinitos aspectos compõem a vida e tudo está interconectado de algum modo. Cada simples ato se reflete em todo o Universo.
O mundo não é uma máquina que podemos parar para consertar. Se ele está com problemas, precisa ser consertado enquanto a vida continua.
Não vai ser apenas um item que mudará tudo, nem uma fórmula mágica concebida pelo ser humano. Mas um fato é essencial: reavivar a alma humana e promover o bem é vital.
Para tal, o medo precisa ser minimizado, para que o poder do amor possa guiar as novas escolhas.
– Minimizado? Perguntou Ferhélin, esperando esclarecimento da Jovem Senhora Missionária
Bom que tenha feito essa pergunta. Eu mesma me fiz essa pergunta anos atrás. Vou respondê-la com a resposta me veio na época: – por meio de conhecimentos e por intuições que Deus fez chegar a mim e por ensinamentos que me foram transmitidos nos encontros que tive na época.
Após dizer isso, a Jovem Senhora Missionária deu início à sua explicação:
As pessoas são diferentes, gosto de pensar que, espiritualmente, cada uma tem sua cartilha pessoal de vida, segundo a qual, cada pessoa tem suas tarefas a cumprir e suas aprendizagens a desenvolver.
Não há pessoas com cartilhas iguais; cada uma tem sua jornada de vida e seu estágio espiritual a ser trabalhado e alcançado.
Mas um fato é claro: todos temos nossas limitações e todos estamos ainda longe da perfeição.
Então, quando digo que temos que minimizar os medos em nossas vidas, sinto como se Deus estivesse nos dizendo: “vocês supervalorizam seus inimigos. Não há razão para tal”.
Os medos podem vir fantasiados de garantias materiais ou de egoísmos, de seguranças ilusórias ou de vícios e hábitos que nos impedem de viver plenamente.
Ou seja, os medos são realidades em nossas vidas, que existem em nossas vidas em momentos variados e em extensões variadas, de acordo com a vida de cada pessoa. Mas, no fundo, não há razão para alimentarmos os medos em nossas vidas.
E como podemos não alimentar o medo?
A essência-chave é revigorar o amor!
E podemos fazer isso de maneiras variadas; seja fortalecendo nosso entendimento do que é verdadeiro e do que é ilusório, do que é permanente e do que é transitório!
Ao fortalecer as atitudes de fé e de confiança, abrimos canais para o amor em nossas vidas.
Outros canais para o amor se abrem simplesmente ao escolhermos o desafio de abandonar o egoísmo e assumir riscos que a sintonia com o bem nos apresentem.
Ao que Ferhélin interveio perguntando: como podemos fazer isso?
Olhando para Ferhélin, ela disse: fortalecendo as escolhas que nos conduzem ao bem e à bondade, à caridade e à compaixão!
É ao fortalecer o que nos faz bem – de fato, que começamos a fazer a transição do temor para o amor em nossas vidas.
Esse fortalecimento ocorre nos pequenos detalhes de nosso dia a dia – seja nas ações que desempenhamos, seja nos filmes que escolhemos assistir, nos livros que escolhemos ler, no tempo diário que dedicamos a orar, a meditar e a refletir.
O fortalecimento acontece na proporção da qualidade de nossas ações, de nossas conversas e em conformidade com a atitude mental que mantemos durante nossas relações interpessoais.
É em meio a esse processo que começamos a não mais alimentar hábitos e ilusões que fomentam o medo e nos afastam de nossa essência verdadeira.
Só então começamos a nos distanciar dos medos e, de fato, a minimizá-los em nossas vidas.
Tendo isso claro para nós mesmas, começamos a receber ajudas que a vida, a natureza, as pessoas de bem, os anjos, ou quem quer que seja, nos dá.
É uma etapa em que começamos a perceber as ajudas dos ‘instrumentos’ de Deus para nós para que o amor prevaleça em nossas vidas.
Um dos instrumentos mais valiosos aos quais temos acesso é a palavra de Deus. Ao lermos sobre os ensinamentos de Deus, o que estamos fazendo? Estamos nos sintonizando com uma fonte que ajuda a elevar nossos espíritos.
É isso que a leitura proporciona: o estabelecimento de uma nova sintonia; tirando-nos do estado de inércia que muitas vezes se instala em nossas vidas.
Com a oração ocorre o mesmo. Saímos de um estado anterior para, durante e após o ato de orar, adentrarmos um patamar mais elevado de consciência.
Ao lermos fragmentos do evangelho ou textos sobre os ensinamentos deixados por alguma das almas santificadas de Deus e, de alguma forma, experimentamos a essência do que estamos lendo, não há como deixar de perceber o ‘frescor’ que vem junto da leitura.
Ao mergulharmos, seja em um simples salmo como o primeiro salmo da Bíblia, que por si só, contém orientações importantíssimas, por exemplo, ou um dos inúmeros e valiosos ensinamentos que constam dos evangelhos ou de textos fidedignos, haverá transformação em nosso estado mental.
Não precisa muito, nem de muitas leituras; ao adentrar apenas um daqueles ensinamentos, que a nós foram deixados, quase que automaticamente, nosso estado de consciência se eleva.
De alguma forma, sentimos como que sendo levadas para mais próximas de Deus; e isso acontece apenas adentrando e vivenciando o que aqueles ensinamentos nos transmitem.
Não há como não percebermos: as mensagens são de encorajamento, de abandono da letargia espiritual, de consolo e de esperança.
Ou as mensagens nos aliviam a dor e nos dão forças para sermos resignadas e não nos entregarmos a reclamações ou nos dão instruções claras do que devemos fazer.
O fato é simples: as mensagens nascidas do amor nos mostram o mapa para seguirmos o caminho do amor.
Quando o amor começa a prevalecer em nossas vidas, começamos a aceitar as pessoas como elas são.
E entendemos – de coração, que cada uma está seguindo sua cartilha de vida, e que não adianta querermos que elas pulem etapas daquela cartilha, pois cada pessoa segue sua própria natureza.
No fundo, o amor nos mostra que as pessoas não recebem em suas mentes e nem em seus corações, o que elas ainda não estão prontas para receber.
Em sua vinda ao nosso mundo, Jesus nos deu prova viva disso.
E, por mais que ele sabia o que era bom e o que seria melhor para nós, ele – por meio de seu amor por nós e de seu exemplo de amor ao Pai, nos deixou ensinamentos que, ele sabia a cada ensinamento que proferia, só aos poucos cada um vai absorver e, aos poucos, deixarão desabrochar em suas vidas.
Um sorriso que mudou uma vida
Depois de uma breve pausa nas palavras, olhando para o lago à sua frente, a Jovem Senhora Missionária prosseguiu:
– Eu era criança, quando um sorriso mudou minha vida. Meus pais sempre foram religiosos. Eu sempre frequentei a igreja católica, mas ainda não tinha ideia do que faria da minha vida até o dia em que uma pessoa muito especial tocou meu coração.
Seu nome era Albino Luciane, o Papa João Paulo I, que ficou conhecido como o “Papa do sorriso” ou o “Sorriso de Deus”. Vendo seu jeito simples, sua naturalidade e seu sorriso cativante, senti que ele era o representante que Deus havia designado para ‘tocar meu coração’.
Intimamente tive a certeza de que ele era um autêntico representante do que Cristo ensinara em sua vinda.
Naqueles dias do início de seu papado, eu, ainda jovenzinha, procurei saber tudo a seu respeito. Sempre que o via na televisão, era como se um sensor ativasse minha espiritualidade — por meio de seu sorriso e de suas ações eu escutava Deus falando comigo.
Após trinta e três dias de sua posse como Papa, ele faleceu.
Era o fim do reinado do Papa do sorriso especial, e, naquele mesmo dia, após o choque inicial da notícia e de sentimentos de tristeza que pairavam no ar; em minha casa – eu ainda bem jovenzinha e sozinha no meu quarto, observando uma imagem que minha mãe havia me dado, do Papa com seu sorriso tão natural, pensei: vou seguir a vida religiosa!
Mais uma vez, aquele sorriso falava comigo, sentia como se Deus estivesse falando diretamente a mim, convidando-me a celebrar seu Reino a cada dia. Os anos se passaram, tornei-me uma religiosa e aqui estou, com as graças de Deus.
Por meio da minha fé em Jesus Cristo, no Sagrado Coração e na Imaculada Maria, eu sinto que estou celebrando o Reino de Deus a cada dia, manifestando minha espiritualidade, colocando o amor em minhas ações.
Assim, esboçando aquele sorriso especial e sutil que possuía – e que, de maneira singular, evidenciava a sintonia dela com o Papa que ficou conhecido como o ‘Sorriso de Deus’, a Jovem Senhora Missionária concluiu sua fala sobre como aquele Papa a havia inspirado.
Uma Simples Oração – Abrindo comportas
Ferhélin, que desde sua infância aprendera a respeitar todas as crenças e tradições religiosas, olhava aquela mulher que parecia iluminar-se em meio à sua declaração de fé.
Após breves momentos em silêncio, a Jovem Senhora Missionária continuou:
— Você me perguntou como reavivar o amor. Lembro-me da simplicidade de uma oração que o Papa João Paulo I fazia diariamente:
“Senhor, aceita-me como sou, com meus defeitos e minhas faltas, mas faz com que me torne como tu desejas”.
Penso que essa simples oração, de alguma forma, abre nosso coração ao amor de Deus. Ela nos ajuda a abrir as comportas que permitem o fluir dos sentimentos do amor de Deus por nós. Pois somos nós – pensando de maneira equivocada, que afastamos Deus e o amor de nossas vidas.
Acho que ‘abrir as comportas’ significa tirar o medo de dentro de nós, o medo de que Deus não nos ame. Ao começar a praticar aquela oração tão singela e tão direta, barreiras que existiam em minha vida simplesmente deixaram de existir.
Após essa fala, ambas permaneceram em silêncio. Ferhélin parecia absorver a intimidade com Deus naquelas palavras tão simples dirigidas pelo Papa João Paulo I a Deus, que haviam tocado o coração da Jovem Senhora Missionária e que agora também tocavam seu coração.
Alguns atributos a considerar
Alguns minutos se passaram, quando a Jovem Senhora Missionária complementou sua fala sobre o amor:
‘Penso que, em termos de espiritualidade, independente de qual seja a religião, há alguns atributos que atuam como reguladores, compondo uma “lei natural e divina”, uma lei que contém princípios e orientações os quais regem a transição do temor para o amor no mundo.
Após mais uma breve pausa para respirar, apreciando o lago à frente, continuou: ‘a essência da relação com Deus é que ela deve ser baseada no amor e não no temor. A força do amor é plena e repele tudo que é maléfico, enquanto a força do medo atrai fraquezas e vícios.
A força do amor é a força que Jesus nos mostrou em todos os momentos durante sua vinda ao nosso planeta – seja nas ações que tomou, nas orações que nos ensinou, nas contemplações íntimas que fez em silêncio, nas parábolas que nos deixou, nas relações que estabeleceu, nos milagres que realizou.
O fato é que ele nos mostrou que a força do amor, independente da forma como é manifestada é a força que impede o mal de proliferar e nos impulsiona a nos sintonizarmos com o bem.
Em verdade, o amor é a energia que eleva nossos espíritos e nos une a Deus e ao bem.
Os atributos que nos ajudam a sair do temor para o amor, de forma direta, podem ser encontrados em várias atitudes e ensinamentos de Jesus.
Em especial, para mim, os atributos essenciais que necessitamos constam das Bem-aventuranças, ensinadas a nós pelo próprio Mestre Nazareno.
E, somando-se àqueles ensinamentos, há também os deixados a nós, por meio da que ficou conhecida como ‘oração de São Francisco’, à qual sempre recorro.
Os atributos que se encontram em ambas, tanto nas bem-Aventuranças, quanto na oração de São Francisco são capazes de tornar viável a transição do temor para o amor e, creio que façam parte da jornada que nos aproximam do saber divino.
Nas bem-aventuranças Jesus exalta as qualidades que mais precisamos praticar em nossas vidas. Na oração de São Francisco, somos convidados a sermos instrumentos da paz de Deus no mundo.
A Jovem Senhora Missionária, com sua maneira polida e afável prosseguiu dizendo:
— Aqueles que querem reavivar o amor em suas vidas e ainda não tem claro como fazer isso, podem escolher essas duas leis básicas deixadas para nós: as “Bem-aventuranças” e a “Oração de São Francisco”.
Penso que, em ambas, podemos estruturar todos os planos de nossas vidas; nelas podemos selecionar todas as referências que precisamos para darmos direção e sentido às nossas vidas.
São as duas fontes principais que, pessoalmente, escolhi ter como referências, para desenvolver os atributos que sinto serem necessários para viver uma vida digna.
As leis básicas das Bem-Aventuranças
Olhando para a Jovem Senhora Missionária, Ferhélin disse que achava interessante o que ela havia dito. Que gostaria de saber um pouco mais sobre aquelas duas “leis básicas”.
Está bem então, disse a Jovem Senhora Missionária – vamos falar sobre elas enquanto caminhamos um pouco mais, ok? Ao que Ferhélin prontamente concordou, levantando-se para começarem a caminhar.
Enquanto caminhavam, apreciando o belo cenário que o céu azul, o lago, a geleira ao fundo e o verde das plantas e árvores que as rodeavam, a Jovem Senhora Missionária começou a discorrer sobre a primeira das duas leis básicas: as Bem-aventuranças.
– As bem-aventuranças constituem um hino ao espírito humano.
Nas bem-aventuranças, Jesus proclamou àqueles que o escutavam naquela tarde, um belo conjunto de ensinamentos que entrou para a história, ficando conhecido através dos tempos como o memorável sermão da montanha. As bem-aventuranças fazem parte daquele belo sermão.
Pessoalmente, disse a Jovem Senhora Missionária, quando oro, pois entendo as bem-aventuranças também como uma oração, a qual gosto de fazer diariamente, gosto de me visualizar lá naquela montanha, escutando aqueles ensinamentos vindos diretamente do Mestre.
Procuro inspirar cada frase das bem-aventuranças para dentro da minha alma, como o ar que inspiro para dentro de meu corpo – de maneira apreciativa e com calma.
Nas bem-aventuranças, Jesus nos convida a conhecermos o roteiro para nossa própria elevação, como seres humanos e como amados filhos de Deus.
Ele, de início, exalta os ‘pobres de espírito’. “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Sabe a quem ele estava se referindo? Perguntou, olhando para Ferhélin, que aguardou a resposta em silêncio.
– Aos humildes, disse a Jovem Senhora Missionária. Em meu coração, sinto Jesus mostrando-nos a importância de sermos humildes.
Quando visualizo Jesus dizendo: “Bem-aventurados os pobres de espírito”, sinto ele nos convidando a abandonarmos a arrogância, a presunção, a soberba, o orgulho.
Sinto ele nos dizendo: ‘bem-aventurados os humildes. Deles é o reino dos céus!
Sorrindo suavemente, enquanto olhava para Ferhélin, a Jovem Senhora Missionária, complementou: só na primeira frase das Bem-aventuranças já há tanto a aprender.
Na segunda estrofe ele diz: “Bem-aventurados os que ‘choram aflitos”.
Sabe a quem percebo que ele estava se referindo? Perguntou a Jovem Senhora Missionária olhando para Ferhélin, que percebia naquele olhar, profundos sentimentos e compaixão fluindo juntos das palavras.
– Aos que sofrem, aos que sentem dores na alma, aos que estão desesperançados, aos que se sentem abandonados, aos doentes que não veem saída de suas doenças.
Sabe o que sinto que Jesus está exaltando ao dizer: “Bem-aventurados os que ‘choram aflitos. Pois eles serão consolados”?
Meu coração me diz que Jesus está nos mostrando a importância de sermos resignados e não ficarmos reclamando.
Está nos mostrando a importância de aceitarmos as dificuldades que a vida nos apresenta sem ficarmos nos queixando ou apontando terceiros como culpados pelo que estamos passando.
E está nos encorajando a lembrarmos dele e de Deus e neles nos fortalecermos e agradecermos pelo que quer que seja que estejamos enfrentando.
E que assim agindo, teremos o consolo que nos capacitará passar pelo que quer que seja.
Na terceira estrofe das Bem-Aventuranças vemos Jesus dizer: “Bem-aventurados os mansos” – ou seja, ele exalta a importância de sermos pacíficos. E complementa, “Pois, eles herdarão a Terra”.
Sinto que aí – na mansidão do espírito, está a chave para o futuro de nosso planeta.
Que em nosso planeta – no futuro, estarão apenas aqueles que tiverem paz nos seus corações e em suas mentes e, de fato, forem ‘mansos e pacíficos’.
Esse é o horizonte à frente, um horizonte em que um mundo de paz e harmonia prevalecerá.
Assim entendo a terceira bem-aventurança; que devemos aprender a alimentar a paz de espírito, que devemos ser pacíficos em nossos pensamentos, em nossas ações e nas nossas relações e que devemos propagar a importância de sermos pacíficos.
Nesta terceira bem-aventurança, a declaração de Jesus é muito clara: “Os mansos e pacíficos herdarão a Terra”.
E, olhando para a natureza que as envolvia, como que agradecendo a Deus, tanto pelo belíssimo planeta que temos, como por aquele conhecimento que ela ajudava a disseminar, disse: ‘isso é maravilhoso e traça os rumos claros de como devemos ser‘.
Observando a natureza radiante ao redor ela perguntou a Ferhélin: ‘você percebe quão incrível é cada uma das bem-aventuranças? Se praticarmos uma delas, já transformamos nossas vidas. Imagine o conjunto delas?‘
Após alguns momentos respirando fundo e apreciando a natureza, adentrou a próxima bem-aventurança.
Na quarta bem-aventurança Jesus exalta os que ‘têm fome e sede de justiça’. Nela, ele nos mostra a importância de crer na justiça de Deus e não querermos fazer justiça com as nossas próprias mãos.
Ele diz: ‘Bem-aventurados os que têm sede e fome de justiça, pois eles serão saciados‘.
Olhando para Ferhélin, que acompanhava cada detalhe da fala da Jovem Senhora Missionária, ela perguntou: sabe como entendo esse ensinamento de Jesus?
Entendo que aqueles que não caírem na armadilha de querer a justiça a qualquer custo, que não supervalorizarem a justiça dos homens – achando que ela é a única que existe, nem ficarem desanimados ou mesmo desalentados, por ela não funcionar como gostariam.
E nem ambicionarem fazer justiça com as próprias mãos e, acima de tudo, crerem que a justiça de Deus não falha e tem seu tempo e momento certo de ser feita – e que aquela é a verdadeira justiça que acontecerá, independente da vontade ou interesse de alguém; estes serão agraciados e verão a justiça de Deus acontecendo.
É assim que entendo quando Jesus diz que os que têm sede e fome de justiça, serão saciados. Creio que, de alguma forma, eles serão saciados, sendo agraciados ao verem a justiça de Deus acontecendo.
Ferhélin a olhava com admiração e encantamento, apreciando aqueles esclarecimentos sobre os quais ela nunca havia sequer pensado.
A seguir, a Jovem Senhora Missionária trouxe à tona a quinta bem-aventurança, dizendo: nesta bem-aventurança, Jesus exalta aqueles que têm ‘misericórdia’ no coração, mostrando-nos a importância de sermos bondosos e misericordiosos.
É isso que entendo quando Jesus nos ensina: “bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia”.
Entendo que o ensinamento aqui é para termos bondade no coração e sermos caridosos com todos os que necessitam de caridade.
Ou seja, também nesta quinta bem-aventurança o ensinamento é direto e simples: devemos ser misericordiosos de coração, sendo bondosos e caridosos e que assim procedendo, alcançaremos misericórdia.
Após essa fala, a Jovem Senhora Missionária, ainda olhando para a frente e parecendo sorrir suavemente, interrompeu a caminhada e, como uma maestra conduzindo uma orquestra, levantou as mãos e respirou fundo, convidando Ferhélin a inspirar o ar calma e profundamente.
Ao repetir essa respiração por três vezes, ela disse: agora vou falar da bem-aventurança que mais me emociona e mais me fascina.
É a sexta bem-aventurança, na qual Jesus nos ensina: “Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus”.
Nessa bem-aventurança, intuo que Jesus nos fala diretamente ao coração afirmando que os puros de coração verão a Deus e, penso eu, esse é o maior prêmio que qualquer pessoa pode receber.
Em meu coração sinto que Jesus está assim dizendo: “aqueles que têm pureza de espírito, pureza nas ações e pureza nos pensamentos – estes sempre veem o bem, e eles serão aqueles que verão a Deus.”
No plano humano, sinto que isso é como conseguir o pós-doutorado em espiritualidade e ele nos ensina como conseguir tal feito da maneira mais simples possível, ao exaltar os ‘puros de coração‘
Mostrando-nos que os que têm pureza de espírito, pureza em seus pensamentos e nas suas ações serão aqueles que verão a Deus.
Ferhélin acolhia aquelas palavras como se elas carregassem luz e iluminação ao seu íntimo. Estava profundamente tocada com aquela explanação.
Conforme relato de Ferhélin, após a sexta bem-aventurança, ambas continuaram a caminhada com passos que, na visão dela, pareceriam acontecer nas nuvens.
Já à frente, após se sentarem em umas pedras que rodeavam a trilha, e tomarem um tempo para beberem água calmamente, com as respectivas garrafinhas que cada uma levava consigo, a Jovem Senhora Missionária deu sequência à explanação sobre as bem-aventuranças.
Na sétima bem-aventurança, Jesus afirmou: “Bem-aventurados os pacificadores, pois eles serão chamados de filhos de Deus.”
Essa bem-aventurança está relacionada à terceira bem-aventurança, na qual Jesus exaltou aqueles que são pacíficos.
Mas esta é dedicada aos pacificadores.
Nela Jesus ressalta o papel especial daqueles que, não apenas são pacíficos, preservando e valorizando a sua própria paz interior, mas nesta sétima bem-aventurança, ele ressalta a importância daqueles que promovem a paz por meio de suas ações, pensamentos e sentimentos onde quer que estejam e em quaisquer situações se encontrem.
Entendo que ele aqui nos mostra a importância dos que têm a paz como uma atitude de vida, vivenciando-a, não apenas para si, mas disseminado a paz por onde passarem.
Alguns momentos se passaram, e, na sequência, enquanto andavam, a Jovem Senhora Missionária disse: naquele cenário natural, com a montanha e a tarde envolvendo àqueles que o escutavam, na oitava bem-aventurança Jesus asseverou que os “perseguidos pela justiça – por não negarem sua crença e fé em Jesus, eram bem-aventurados, e que deles era o reino dos céus.”
Nesta oitava bem-aventurança, a qual, de alguma forma pode ser considerada o teste final, Jesus antecipava a jornada que seria experimentada pelos apóstolos, pelos discípulos, e – no decorrer da história, por aqueles que, na prática, sofrem e, de alguma forma, passam pelo que Jesus passou, jamais renegando seu amor e sua fé.
Após essa fala as duas permaneceram em silêncio por algum tempo.
Ferhélin refletindo sobre aquelas palavras sobre a importância do amor e da fé na superação do sofrimento humana – palavras que tanto a tocaram. Já a Jovem Senhora Missionária parecia fundir os sentimentos do que havia falado com a energia da natureza que as envolvia.
Algum tempo depois, a Jovem Senhora Missionária perguntou a Ferhélin se ela não gostaria de retornar ao alojamento, comer algo, descansar um pouco e depois, se ambas estivessem dispostas, poderiam fazer um novo passeio à tarde.
Então ela poderia falar sobre sua aprendizagem e prática com a oração de São Francisco; isso se Ferhélin ainda estivesse interessada em escutar um pouco sobre o conteúdo daquela oração; ao que Ferhélin assentiu, com um sorriso no rosto.
A oração de São Francisco
Na parte da tarde, conforme haviam combinado, após descansarem um pouco, reuniram-se para um chá juntas, no interior do refeitório.
Após o chá, saíram em direção a uma outra trilha que adentrava a montanha que circundava o alojamento em que se encontravam.
Já à frente, caminhando lado a lado, quando ambas pareceram apreciar momentos de afetuoso silêncio a Jovem Senhora Missionária deu sequência à conversa, trazendo à tona o tema da Oração de São Francisco.
Olhando para Ferhélin, sugeriu a ela para tentar absorver a profundidade de cada frase da primeira parte da oração de São Francisco enquanto ela fosse falando.
Ao que começou a descrever a primeira parte da oração, fazendo uma pausa entre cada frase falada, como que convidando Ferhélin a inspirar para dentro de si o conteúdo de cada frase:
“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver o ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver o erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.”
Fazendo mais uma pausa após terminar de falar, disse: ‘essa é a primeira parte da oração, na qual somos convidados a sermos instrumentos da paz de Deus no mundo.‘
Esse é o carro chefe da oração – levarmos sempre a paz conosco e a compartilharmos com todos os que encontrarmos.
E a oração vai além, convidando-nos a vivermos o amor em nossas vidas, e assim, atenuarmos o ódio, onde ele se manifestar.
A oração ainda nos convida a elegermos o perdão como instrumento a ser usado onde houver qualquer ofensa.
A promovermos a união, sempre que pudermos quando houver discórdia.
A levarmos a fé como instrumento à nossa disposição, onde quer que haja dúvida.
A sermos sempre verdadeiros, de modo que a verdade sempre se sobreponha aos erros.
A sermos condutores da esperança no mundo, de forma que a esperança se sobreponha ao desespero
A sermos portadores da alegria, onde quer que haja tristeza.
E, finalizando esta primeira parte, o convite é o de assumirmos o compromisso de levar a luz, onde quer que haja trevas.
Em termos pessoais, com o decorrer do tempo, procurando praticar e internalizar a oração de São Francisco em meu dia a dia; nessa primeira parte da oração comecei a sentir o convite de Deus para focar no complemento de cada instrução que ela contém. E isso sempre procurando ser um instrumento da paz de Deus.
Por exemplo, na frase “onde houver o ódio, que eu leve o amor”, aprendi que o ensinamento é o de promovermos o amor; e assim no decorrer da oração toda.
Onde houver ódio, o ensinamento é o de incentivarmos o perdão.
Onde houver discórdia, o ensinamento é o de inspirarmos a união.
Onde houver dúvida, a orientação é a de promovermos a fé.
Onde houver o erro, a orientação é a de levarmos a verdade.
Onde houver desespero a orientação é a de impulsionarmos a esperança.
Onde houver tristeza, a orientação é a de fomentarmos a alegria.
Onde houver trevas, o ensinamento é o de proporcionarmos a luz.
E assim, nesse processo de praticar e internalizar, vi que cada elemento da oração funciona como um ‘elo’ e que aqueles nove elos formam uma corrente muito poderosa, que nos dão resistência e sustentação e nos ajudam a transmitir positividades diariamente em nossas vidas.
E que devemos usá-la – a corrente de virtudes ou positividades, quando desafios, dissabores ou dificuldades aparecem em nossa jornada; seja algo vivenciado por mim mesma ou por alguém que a vida coloca na nossa frente.
Quando tais situações surgem, o nosso desafio íntimo é perceber qual elo, ou quais elos dessa corrente de virtudes ou positividades devemos usar para podermos ajudar.
Na prática, o que tenho percebido é que um elo se conecta a outro e, quando nos propomos a praticá-los com uma certa constância em nossas vidas, no momento de necessidade, o elo certo emerge e, mesmo sem pensar, ajudamos a quem precisa.
E, muitas vezes quem precisa somos nós mesmas.
Usei o exemplo de cada virtude ou positividade como um elo e de elos formando uma corrente, mas o fato é que sinto estes elos, em verdade, como energia viva que nos envolve e envolvem àqueles com quem interagimos.
Seja a magnificência da paz, o poder do amor, a força do perdão, a abrangência da união, a vivência da fé, a luminescência da verdade, a grandeza da esperança, a resplandecência da alegria ou o acolhimento da luz em nossas vidas – todos são elos que se interconectam.
Então, quando falo em internalizar essa ou qualquer outra oração, em verdade, estou falando em abrir-me à energia pura que vem da fonte, que é Deus.
Ferhélin, já sem estar surpresa em relação à simplicidade e sabedoria que saia dos lábios da Jovem Senhora Missionária, apenas esboçava um leve sorriso que revelava profunda satisfação íntima.
Elementos de maturidade espiritual
Em seguida, a Jovem Senhora Missionária deu sequência à sua fala: a segunda parte da oração é tão maravilhosa quanto à primeira parte.
Mas, a meu ver, contém elementos de maturidade espiritual que nos ajudam ainda mais.
Procure fazer o mesmo exercício que fez na primeira parte, lembra? Enquanto eu vou falando, tente absorver a profundidade de cada frase desta segunda parte da oração:
“Ó Mestre,
que eu procure mais consolar que ser consolada;
que eu procure mais compreender que ser compreendida,
que eu procure mais amar que ser amada,
pois é perdoando que se é perdoada,
é dando que se recebe e
é morrendo que se vive para a vida eterna.”
Nessa parte, após procurar internalizar e praticar as orientações da oração, também senti que o procedimento devia ser o mesmo da primeira parte: que o foco de minhas atitudes deveria estar em consolar, em compreender, em perdoar, em dar, e em aprender mais sobre ‘morrer para a vida eterna’.
A Jovem Senhora Missionária prosseguiu: a distinção experimentada por mim nesta segunda parte aconteceu de maneira bem intensa.
Foi como ter recebido uma mensagem clara em meu coração; de que maturidade espiritual é o foco desta segunda parte. E que essa maturidade era esperada de mim, e de todos os que buscam proximidade com Deus.
Mas essa mensagem veio sem peso, sabe? Ela veio com o sentimento de que ela acontece conforme se dá o processo de acolhimento da luz em nossas vidas; quando, sem perceber, somos impelidos a pensarmos mais nos outros que em nós mesmos, quando se torna natural amarmos mais que sermos amados e, sem notar, nos sentimos mais confortáveis consolando que sendo consolados.
E, na conclusão da oração, como que colocando um ‘resumo’ de toda a oração, que todos nós devemos aprender o significado de morrer, para podermos aspirar viver a vida eterna.
Após compartilhar aqueles ricos ensinamentos a Jovem Senhora Missionária permaneceu em silêncio, contemplando a natureza que as acolhia.
Naqueles momentos de silêncio e contemplação da Jovem Senhora Missionária, Ferhélin sentia-se leve e iluminada, como que envolta pela luz exalada por aquela jovem. Enquanto refletia sobre aquelas percepções há pouco recebidas, procurava como que sedimentá-las internamente.
Relações – qualidades complementares
Após longos minutos, a Jovem Senhora Missionária, então disse: as Bem-Aventuranças e a Oração de São Francisco são especiais, mostrando-nos as referências que podemos escolher sempre que quiser.
Gosto de pensar nelas como pistas de aeroporto, que funcionam tanto para decolagem, quanto para aterrisagem.
Elas me ajudam, algumas vezes, a alçar voo e a decolar.
Ajudam-me a fazer ‘viagens’, algumas vezes, bem simples e sem nada de extraordinário, mas sempre muito agradáveis e saudáveis.
Há outras vezes em que simplesmente essas ‘pistas’ ajudam outros a decolarem ou a aterrizarem dando a eles a experiência de segurança e sustentação espiritual.
Outras vezes, quando as uso, as ‘viagens’ a partir delas me conduzem a novas descobertas e novos horizontes.
O fato é que, quanto mais habituados estamos, tanto às Bem-aventuranças, quanto à Oração de São Francisco, mais teremos a sensação de que as ‘pistas’ estão lá, para aterrizarmos ou decolarmos com segurança e sustentação espiritual, sempre que tivermos vontade.
Então, sorrindo, a Jovem Senhora Missionária perguntou a Ferhélin se as explanações sobre as Bem-aventuranças e a Oração de São Francisco tinham sido claras; se ela tinha alguma pergunta.
Ao que Ferhélin disse que havia apreciado cada frase e que esperava ter absorvido, se não tudo, pelo menos a maior parte do que ela havia escutado e, se tivesse alguma dúvida, falaria com a Jovem Missionária antes delas partirem.
Assim retornaram ao alojamento, com Ferhélin dizendo que não queria abusar da boa vontade de Jovem Senhora Missionária, mas que, se possível, no dia seguinte, elas poderiam combinar de se encontrarem novamente, para caminharem.
Então a ela poderia falar mais sobre os temas que quisesse. Com o que a Jovem Senhora Missionária concordou.
O Respeito – estabelecendo relações
No outro dia, durante o café da manhã, a Jovem Senhora Missionária propôs que iniciassem a caminhada em silêncio, com atenção na respiração, para que ambas pudessem criar uma boa sintonia com a natureza. Logo após o café adentraram uma trilha sugerida pelo gerente da pousada, em silêncio.
Após terem caminhado por volta de trinta ou quarenta minutos, como que aterrizando após uma longa viagem interior, transmitindo incrível espontaneidade e felicidade e, como que visualizando um horizonte que ia além do que havia contemplado no dia anterior, olhou para Ferhélin e afirmou: antes de tudo, temos que redescobrir o respeito!
Devemos inseri-lo em nossas relações com o mundo, reaprendendo a respeitar cada ser; e olhando a natureza ao redor delas acrescentou, respeitando cada componente deste cenário que compõe o nosso planeta.
O respeito estabelece relações entre os nossos gestos e as nossas atitudes e, no fundo, determina o quão saudáveis somos, tanto em relação à saúde física e emocional, quanto à mental e espiritual.
Quando penso em quão impactante é a atitude do respeito, como que escuto intimamente que devemos reaprender a ouvir e escutar mais a natureza e mais as pessoas, principalmente aquelas que estão perdendo a esperança, que estão se sentindo sós e abandonadas, aquelas que estão doentes e que se encontram em ambientes hostis, em meio a guerras ou catástrofes ou que foram envolvidas em algum acidente grave. Penso que os nossos pensamentos, sejam eles emoldurados por bons sentimentos ou por meio de orações, podem ajudar nessa relação, principalmente quando não temos acesso às pessoas, presencialmente. Só de manifestarmos, intimamente, nossos sentimentos em relação a elas, de alguma forma estamos abrindo nossos corações para escutá-las e, com bons sentimentos, estamos respondendo ao clamor delas. Creio firmemente que ao fazer isso, as ajudamos a aliviar as dores e sentimentos de desesperança que possam estar experimentando e, respeitando a vontade de Deus
Em uma relação, para haver respeito verdadeiro, cada pessoa tem que praticar ser ouvinte. Escutar o outro, sem interromper, sem julgar e, olhando para a natureza ao redor, complementou: isso também deve ser praticado na nossa relação com a natureza, ouvindo as mensagens que a natureza nos oferece.
Em meio aos ensinamentos da oração franciscana, que ainda ressoavam em sua mente; escutando a Jovem Senhora Missionária dizer aquelas palavras sobre a importância do respeito na vida humana, Ferhélin lembrou-se de São Francisco e de seu profundo amor à natureza.
OLHAR – a linguagem visionária
Parecendo interagir com o lago à frente delas, a Jovem Senhora Missionária acentuou: — Devemos reaprender a olhar! De fato, as pessoas precisam reaprender a escutar, ‘exercitando’ a linguagem dos olhos. Para então, sentir que devem comunicar algo, mesmo que seja sem palavras, ou ainda, além das palavras. A prática da linguagem dos olhos é um exercício fundamental – também para sentir a visão da natureza. Olhando o lago à frente, ela reforçou: a expressão da natureza é muito poderosa! Ao percebê-la, veremos a natureza como mãe ou como amiga. Algumas vezes a mensagem que receberemos será agradável e amorosa, outras vezes será de alerta ou de advertência pois, como uma mãe ou uma amiga verdadeira que quer nosso bem, às vezes, dirá coisas que não nos agradam. De qualquer forma, a linguagem do olhar nos proporcionará o sentimento de verdade.
Ferhélin deixou-se conduzir pelo que sentia naquele momento, experimentando a sensação de harmonia.
A Jovem Senhora Missionária prosseguiu: — Devemos aprender a perceber a beleza das outras pessoas, admirar suas qualidades e talentos e comentar com outros e com elas mesmas a respeito desses valores especiais que nelas admiramos. Ao fazer isso, descobrimos novas belezas, não apenas nas outras pessoas ou na natureza, mas também em nós mesmas.
Escutando aquelas palavras da Jovem Senhora Missionária, Ferhélin pensou consigo mesma: tinha um pouco desta qualidade, a de deixar seu coração cantar com entusiasmo a cada encontro em seu viver. Mas nem sempre a expressava em palavras. Começar a compartilhar a maravilha que experimentava vendo as qualidades daquelas pessoas, com elas próprias e com outras pessoas, seria um exercício novo para ela, imaginou.
a força sutil
Após algum tempo em que ambas permaneceram em silêncio, a Jovem Senhora Missionária a complementou: — Reaprender a agradecer é outra prática fundamental. A força do agradecimento é sutil e poderosa e inspira a manifestação do que é mais genuíno em nós e abre canais que espiritualizam um relacionamento. O ato do agradecimento engloba o espírito da vida. Agradecer à outra pessoa, à natureza, a Deus, aos anjos, às almas santificadas ou à vida são formas sutis de oração que transformam nossa relação com o mundo. O fato é que a gratidão carrega consigo um brilho que torna todas as relações especiais. Ser grata é um ato de consagração à vida. Agradecer o momento que passou e foi positivo, assim como ao que nos machucou é uma forma de iluminarmos nossas vidas. Na sua essência, o ato de agradecer é uma forma de orar e o agradecimento é uma prova da vitalidade do espírito.
Enquanto olhava o céu, Ferhélin viu uma águia voando ao longe; aquela cena parecia integrar um espetáculo de beleza e soberania do qual todos eles – a águia, a natureza e as duas faziam parte. Foi quando, espontaneamente, Ferhélin disse:
—Obrigada — sentindo desabrochar um sorriso sutil em sua face.
Para quem a visse de longe, a Jovem Senhora Missionária poderia parecer ser frágil, mas seu poder interior podia ser percebido por quem que a observasse um pouco mais atentamente. Para Ferhélin, lá estava aquela jovem senhora, madura espiritualmente, serena, sábia e confiante; e com aqueles sapatos simples e bem surrados, como que afirmando: “a aparência externa engana”.
Ferhélin imaginou por onde aqueles surrados sapatos a teriam levado e considerou uma dádiva estar ali na companhia daquela senhora tão espiritualizada. Ela expressava o agradecimento, não apenas com palavras, mas com uma emoção luminosa que a circundava. Percebia uma firmeza única naquele ser, aparentemente “frágil” que, aos seus olhos, mais parecia um anjo vivo.
Sincronicidade, espontaneidade e espiritualidade
“Como se uma sincronia estivesse estabelecida entre elas, os períodos de fala, de reflexão e absorção fluíam harmoniosamente entre elas. Ao que a Jovem Missionária comentou:—
Perceber é o canal para viver integralmente.
Aperceber-se do que nos eleva e do que nos derruba é essencial para quem quer aprender.
Discernir entre o que nos faz bem e o que nos faz mal, o que nos ajuda e o que nos prejudica é vital para sustentar ou transformar nossas vidas.
Perceber a vida e os momentos que se apresentam; perceber a natureza e interagir com ela, perceber as pessoas ao nosso redor, as cores e os sons, a vida palpitando a cada segundo, o coração batendo e o ar se espalhando pelo corpo são manifestações de amor. De alguma forma, quando vivenciamos o amor, em suas várias manifestações, vivenciamos a presença de Deus em nossas vidas.
Estar consciente e atuar no dia a dia de forma espontânea com uma consciência elevada é a essência da vida espiritual. Não é que estaremos sempre pensando em conhecimentos e ensinamentos especiais; não, a espontaneidade nas ações expressará nosso verdadeiro nível de espiritualidade de acordo com o quanto de amor estamos manifestando com nossas atitudes, pensamentos, sentimentos, palavras, ações e reações.”
Transitando por novos e belos horizontes
Ferhélin, entre encantamento e naturalidade, compreendeu que ainda desconhecia aquele universo no qual a Jovem Senhora Missionária parecia transitar de forma tão descomplicada, mas que, de alguma forma, estava sendo apresentada a ele. Dependeria dela própria querer ou não adentrar os horizontes que a ela se manifestavam. De algum modo, teve a clara revelação de que havia muito mais a descobrir e aprender e que aquela pessoa na sua frente estava apresentando novas concepções, que ela poderia agregar em sua vida.
Parecendo em sincronia com o que Ferhélin experimentava – aceitar ou não escutar e aprender sobre concepções diferentes das que ela estava acostumada a considerar; a Jovem Senhora Missionária comentou:
— A aceitação é uma força que deve ser redescoberta em nossas vidas, é um atributo divino. Aceitar as mudanças como algo natural, aceitar a necessidade de nos esforçarmos para mudar, assim como aceitar as ajudas que a vida oferece. Aceitar que nosso sonho de vida pode tornar-se realidade. Aceitar nossos propósitos de vida, entendendo e tendo amor pelo seu projeto mais elevado. A aceitação nasce da humildade espiritual e, quando exercemos o direito que temos de ‘aceitar’ o que Deus nos oferece, então haverá muito a aprender. Quando isso acontece, automaticamente há o desabrochar de nossas qualidades e valores mais genuínos e passamos a descartar o que nos prejudica. Ao exercitar a ‘aceitação’ de Deus em nossos corações e mentes, abrimos as portas para receber ajudas que estão aí, no universo, para serem usufruídas. Simultaneamente com a nossa capacidade de exercer a ‘aceitação’ há o fortalecimento de um sentimento igualmente poderoso em nossas vidas, que é o sentimento de gratidão. E, fazendo uma pausa de alguns segundos, disse:- ‘em algum ponto de nossa caminhada, naturalmente passamos a agradecer por tudo que acontece em nossas vidas’.
Ao dizer isso, a Jovem Senhora Missionária parecia declarar seu agradecimento, que parecia transcender aqueles momentos e a natureza que as envolvia.
Ferhélin, então, perguntou à Jovem Senhora Missionária:
— A quem e como devemos agradecer, quando recebemos ajuda de Deus, dos anjos ou dos santos?
Em seu estilo descontraído e sereno, ela respondeu com doçura:
— Não deve haver a preocupação de agradecer “erradamente” e tenho certeza de uma coisa: no nível divino, quando falamos de agradecimento, não há hierarquia, burocracia ou barganhas. Ninguém vai ficar triste ou chateado, se você agradecer à A ou a B. A tristeza ou chateação não existe naquele nível, ela apenas existe no plano de ilusão mental, que é criado pelo ser humano. O agradecimento é uma forma de expressar amor e deve ser praticado por amor à vida e não como uma forma de pagamento ou retribuição pelo que recebemos. No fundo, todo agradecimento que nasça do coração, chega a Deus, mesmo que endereçado a algum intermediário ou instrumento dele nos vários planos da existência. Disse ela, esboçando um sorriso.
Ferhélin pareceu admirada com esta explicação. Em seu íntimo pensou: gostaria de pensar mais a respeito do que acabara de escutar.
Chaves divinas:
Sagrado Coração e Divina Misericórdia
Após alguns instantes em silêncio, a Jovem Senhora Missionária mostrou uma imagem do Sagrado Coração de Cristo para Ferhélin, dizendo:
— O Sagrado Coração! Esta é uma chave que o ser humano pode utilizar e, pensando no bem de todos, digo que deveriam aprender a usar. O Sagrado Coração de Cristo é lembrado não apenas para ser admirado ou adorado, mas como um exemplo a ser experimentado. Quando isso acontecer, cada ser humano perceberá que seu próprio coração é sagrado também. Cristo quer que nos lembremos Dele pelas mensagens de amor e pela luz da renovação da vida, deixada pela ressurreição. O amor incondicional de Jesus e a sua ressurreição são as mensagens mais poderosas que recebemos de Deus nos últimos dois mil anos. Você pode encontrar esse amor nas parábolas, nos ensinamentos, nas curas, nas falas e atitudes as mais variadas de Jesus durante sua passagem por nosso planeta.
Outra chave à nossa disposição é a da Divina Misericórdia, disse a Jovem Senhora Missionária, retirando da mochilinha que carregava uma pequena imagem que mostrou a Ferhélin. A imagem mostrava Jesus e da altura de seu coração se espalhavam raios de Luz. Essa imagem, disse ela, foi inspirada a uma Santa que nos revelou muitas informações sobre a divina misericórdia. Um dia, se puder, conheça a vida de Santa Faustina. Assim, saberá um pouco sobre o poder da divina misericórdia e sobre a mensagem de Jesus para todos que se sentem distantes de Deus.
Ferhélin observou a imagem com profundo respeito e admiração. Lembra-se claramente dos sentimentos que teve naquele momento; de que aquela jovem senhora ao seu lado, ali estava, compartilhando tesouros dos quais ela nunca se esqueceria.
Pequena excursão ao mundo do amor
Por instantes, fez-se silêncio. Ferhélin refletiu sobre alguns aspectos em sua vida e à sua maneira de pensar; lembra-se de ter pensado que aceitar os momentos e as pessoas como são e não como gostaríamos que fossem; que tudo sempre pode mudar e que as mudanças são naturais eram concepções que mudariam sua vida, caso ela conseguisse colocar aqueles pensamentos em ação, no seu dia a dia. Em meio àqueles momentos de reflexão, a concepção de que nossas ações influenciam o mundo em que vivemos, pareceu óbvia. E que esse simples entendimento influencia também a maneira como nós vemos o mundo. Que aqueles conhecimentos compartilhados pela Jovem Senhora Missionária poderiam ser agregados à sua vida. Dependia apenas dela querer isso. E que eles poderiam ser praticados sempre, mesmo em momentos de baixa autoestima. Vou exercitar estes pensamentos! Afirmou intimamente.
Momentos silenciosos envoltos por uma atmosfera de bem-aventurança e plenitude as envolviam, quando a Jovem Senhora Missionária pareceu ser convidada a fazer uma nova e breve visita ao universo do amor através de suas palavras:
— Sinceramente, sinto que o amor, como Deus o manifesta no mundo, transcende qualquer visão que podemos alcançar com nossos pensamentos a seu respeito, por melhor seja essa visão. Apesar disso, o amor é o atributo divino que mais nos aproxima de Deus e de nosso melhor, individual e coletivamente. Mas é nossa capacidade individual de manifestar e experimentar esse amor que revela nosso nível de desenvolvimento espiritual. O amor genuíno e verdadeiro não convive com apegos. O apego nasce da insegurança, que é filha do medo, ou seja, o oposto do amor. O amor verdadeiro não se mistura com a luxúria que é uma escolha do ser humano e está fundamentada no desejo e na posse e que, invariavelmente. acaba induzindo a sentimentos de insensibilidade ou insatisfação, preocupação ou perda.
De fato, o amor genuíno nos completa e nos ilumina. Ele dá a sensação de a tudo ter, mesmo sem nada possuir. E, olhando para Ferhélin, perguntou: você já teve essa sensação: de sentir que tem tudo que precisa, mesmo sem possuir? Ou que é uma pessoa rica, mesmo sem ter posses? Que no fundo você tem tudo o que precisa e não há nada que lhe falte?
Tomemos este exato momento: estamos aqui num cenário único, com este lago, a geleira, as montanhas, árvores – nós não somos donas de nada aqui, mas nos sentimos plenamente felizes e agradecidas por estarmos aqui, usufruindo do que a vida nos apresenta, não é verdade? Por que teríamos que ser ‘donas’ de algo para podermos nos sentirmos plenos? Seja aonde for; num cenário tão especial como este ou numa casa simples, num hospital, numa cama, ou onde estivermos. Ter este sentimento de plenitude ou de satisfação, de termos o que precisamos e não do que nos falta, é algo sublime, simples e pleno.
Firmeza – ausência do ego
E, na sequência, como que nos projetando para um dos cenários que mencionara, disse:— Devemos aprender a ser gentis com todos. Com aqueles que estão bem, com os que estão com problemas e com os que vivem em condições sub-humanas. A gentileza tem a ver com gestos simples. Pode ser expressa com um simples olhar ou com sorriso que manifesta a compreensão de um determinado momento. No dia a dia, nos pequenos gestos é possível praticar a gentileza, por exemplo, visitando alguém doente, dirigindo no trânsito ou compartilhando uma pequena ajuda com algum pedinte. Não importa a situação; a gentileza, em verdade, está dentro de nós; o que precisamos fazer é deixá-la se manifestar em nossas vidas. O que podemos fazer, para torná-la mais presente em nossas vidas, é procurar por situações em que possamos praticá-la. A gentileza deve ser ressuscitada em nosso planeta. Podemos ser agentes desse processo. De fato, cada pessoa no mundo pode ser uma agente desse processo de tornar nosso mundo melhor; e a gentileza é um instrumento poderoso nele. — complementou a Jovem Missionária.
Muito desgaste seria evitado se fôssemos mais gentis, comentou Ferhélin.
Ao que a Jovem Senhora Missionária acrescentou: — A gentileza não nos impede de sermos firmes, enérgicos e determinados. Mas a gentileza, estando presente, como base de nossas ações e sentimentos, possibilitam uma postura transformadora. Atos praticados com agressividade e violência são disfarces muito ruins, que acabam confundindo o ser humano e afastando a firmeza de sua veia original, que é espiritual. Pense desta forma: a atitude gentil é firme, de algum modo.
A atitude só é firme se não for envenenada pelo ego. Caso contrário, será substituída por atitudes medrosas ou inseguras, fantasiadas através da raiva, agressividade, medo ou mágoa. Quando isto acontece, a força original é subtraída. Justamente o oposto do que as pessoas desejam obter.
Benefícios-SurpreSAS
Após uma breve reflexão sobre o que havia escutado, Ferhélin, olhando para a Jovem Senhora Missionária, comentou:- Algumas vezes, quando estamos numa reunião ou conversa acalorada e procuramos ser firmes em nossas opiniões e, mesmo sem perceber, deixamos a agressividade tomar conta de nossa fala ou atitude.
A jovem Senhora Missionária apenas sorriu, dizendo:
— Surpreender positivamente. No mundo, como ele se apresenta, é fundamental acostumar-se a surpreender de maneira positiva sempre. Devemos pensar em como podemos apresentar – positivamente, o inesperado às pessoas.
A surpresa positiva é uma chave que abre a porta da espiritualidade. Ninguém sabe tudo. O único que detém todo o conhecimento é Deus. E Ele adora surpreender e brincar, sempre positivamente. A visão de Deus, sério e punitivo, é um engano de neófitos.
Quanto mais elevado for o nível de espiritualidade, mais simplicidade, alegria, saber e menos complicações iremos constatar. Levar tudo muito a sério é comum para os principiantes.
Com o tempo, descobrimos que a profundidade espiritual é divina, que está além das formalidades e aprendemos que devemos nos divertir com essa aprendizagem.
Quando lembro de Imagens de São Francisco ou de Santa Clara, de Jesus ou mesmo de algum apóstolo enfrentando situações difíceis, sempre os vejo sorrindo em minha mente, como que me tranquilizando e transmitindo serenidade a mim.
Logo, vieram à mente de Ferhélin; lembranças de algumas pessoas especiais que ela havia conhecido em diferentes momentos de sua vida e que a tinham ajudado a tirar o ‘peso’ de certas situações que, a princípio, pareciam ser insolúveis para ela.
Refletindo sobre o que a Jovem Senhora Missionária havia falado, aquelas pessoas que a tinham ajudado; em suas lembranças, pareciam sorrir, sem peso algum, por mais que as situações à época parecessem as piores possíveis.
— A espiritualidade, em sua essência, nos ensina a sermos leves e flexíveis – não pesados e rígidos.
Quando estamos leves fica mais fácil acessar a energia de Deus. Fica mais fácil surpreendermos e sermos surpreendidos, positivamente!
Aprender se divertindo é melhor que ficar esquentando a cabeça, você não acha? — perguntou a Jovem Senhora Missionária, enquanto Ferhélin parecia surpresa com aquela abordagem e permaneceu meio boquiaberta e meio sorridente, sem responder.
Certamente, você me surpreendeu, disse Ferhélin.
— Sempre há uma maneira de levar benefícios à pessoa que está ao nosso lado ou à situação em que nos encontramos. Esses benefícios são ‘surpresas’ que podemos levar à outra pessoa.
Por que surpresa? Porque elas não esperam ser ajudadas; não esperam receber benefícios sem ter uma razão especial para isso.
A chave da surpresa está em perceber como agir positivamente – e isso envolve leveza e flexibilidade.
Como podemos inspirar ou como podemos ajudar ou facilitar são perguntas que nos conduzirão a surpresas positivas.
Esse é um hábito que poderia e deveria ser praticado pelo ser humano. Imagine um cientista, artista, atendente ou professor, ou toda a humanidade lembrando-se que, além de seu foco imediato, seja qual for ele, também pode ter como meta ajudar e inspirar os outros.
Imagine se todas as pessoas aprendessem a fazer isso – a, independentemente do que estejam fazendo, agregassem essa meta de ajudar e inspirar àqueles com quem tenham que interagir? O que resultaria disto? — perguntou a Jovem Missionária.
Ferhélin mostrou entusiasmo com a ideia:
— A chave da surpresa é agir positivamente! E surpreender sempre que possível, interessante!
Ao que a Jovem Senhora Missionária comentou: de alguma forma, as pessoas, intuitivamente, buscam introduzir a surpresa em suas falas, mas se acostumaram a fazer isso negativamente, apresentando más notícias, ou informações que chocam quem as ouve.
Já as surpresas positivas – os benefícios-surpresas, estes trazem bem-estar e inspiram quem os recebem. E deu alguns exemplos:
— Em um leito de hospital, a surpresa pode estar num sorriso ou no entusiasmo. Em uma palestra para empresários, a surpresa pode estar numa atitude espiritual serena. Em uma favela, na prática de escutar mais que falar, em receber mais que dar; e isso tudo num nível sutil.
Numa igreja, a surpresa pode estar em sentir-se à vontade na casa do Pai, e não na formalidade. Em uma família, pode estar em interagir e presentear com coisas simples, mas preenchidas de sentimentos, seja de alegria, de amor, de esperança, de respeito, etc.
Em um shopping center, a surpresa pode estar em nada querer. Na relação com os concorrentes, pode estar em facilitar suas vidas e oferecer ajuda sempre que puder.
Em um congresso, pode estar em compartilhar o conhecimento e colocar os outros à frente sempre que puder.
No pagamento por um serviço, pode estar em oferecer mais que o acordado, mesmo que seja com o testemunho de reconhecimento ou com sincero agradecimento.
A verdade é que em todas as situações sempre haverá uma maneira de surpreender positivamente, e isso, no mínimo pode alterar a rotina do planeta.
— Talvez os políticos possam aprender isso e se animarem a serem verdadeiros instrumentos que conduzam a novos caminhos que levem a um mundo melhor e mais justo, nos quais eles não se coloquem como centro da atenção, e deixem de colocar seus próprios interesses à frente e comecem a colocar o interesse das comunidades e dos outros à frente – veja que boa surpresa isso causaria.
Esses são apenas alguns pequenos exemplos. Todos eles promovem o que se convencionou chamar de “ganha-ganha”. Com todos se beneficiando.
Isso pode se tornar natural quando há transparência e espiritualidade, espontaneidade e simplicidade presentes em nossas ações — acrescentou Ferhélin.
Foi quando observaram que o sol estava se pondo e lembraram que deviam voltar ao alojamento.
Começaram a retornar.
No caminho de volta Ferhélin lembrou que todos que estavam hospedados na pousada haviam sido convidados para no início da noite se reunirem ao redor da fogueira e aqueles que tocassem algum instrumento deveriam trazê-lo.
Perguntou então à Jovem Senhora Missionária se ele tocava algum instrumento, ao que ela respondeu dizendo que adorava música e que tocava piano, violino, violão e flauta e que havia trazido seu violão e sua flauta.
Acordes melódicos sob o céu estrelado
Já era cair da noite na frente da pousada – fogueira, conversas e cantorias fluíam naturalmente, quando chegou a vez de a Jovem Senhora Missionária ser convidada a pegar o violão que trouxera consigo.
O ambiente amigável que envolvia a todos lá já era muito prazeroso; logo ela começou a tocar seu violão e, após alguns acordes melodiosos que dedilhou com o violão, alguém perguntou se ela também cantava. Ela acenou com a cabeça, dizendo que sim.
Após mais alguns acordes, foi deixar sua voz propagar-se naturalmente para que todos se sentissem magnetizados por aqueles sons suaves e cativantes que ecoaram profundamente na alma de cada um dos que lá se encontravam.
Ela cantou duas músicas que se entrelaçaram com o silêncio harmonioso no qual só se ouvia o crepitar da madeira queimando e se via as chamas dançantes lançando fagulhas que lembravam estrelas decolando em direção ao espaço.
Aquele conjunto composto pelo céu estrelado, silêncio, chamas da fogueira, reflexos luminosos lançando-se ao ar e os bancos rústicos que acomodavam as pessoas, pareciam em profunda sintonia com a cadência dos sons, com as letras entoadas e com o crepitar da madeira queimando.
Todos aqueles elementos compunham um cenário perfeito para aquele concerto musical tão descontraído e íntimo que a Jovem Missionária acabara de proporcionar a todos que lá se encontravam.
Após aquelas músicas cantadas de maneira tão simples e tão natural apenas o respirar fundo e o apreciar dos momentos silenciosos que ocorreram no período pós-música seriam os complementos adequados.
Ferhélin, vendo que ela tinha trazido a flauta consigo, pediu a ela para tocar alguma coisa na flauta. Foi o que ocorreu com ela tocando duas músicas mais na flauta.
Terminada a fase de músicas cantadas e tocadas na flauta todos que lá se encontravam permaneceram em silêncio por longos momentos que pareceram transcender o tempo físico que se passou.
Momentos de afeição e gratidão íntimas, nas palavras de Ferhélin.
Foi quando uma jovem irlandesa, uma das pessoas do grupo que estava ao redor da fogueira, dirigindo-se à Jovem Senhora Missionária, perguntou: ‘que músicas mais maravilhosas são essas que você cantou e tocou para nós?’
A Jovem Senhora Missionária sorriu e disse. “Algumas delas vocês já devem der escutado em uma ou outra ocasião.
As duas que eu cantei são duas das quatro antífonas marianas, são elas: ‘Regina Coeli’[4] que é traduzido como ‘Rainha do céu’ e o Salve Rainha[5].
Já a primeira que toquei na flauta e que também gosto muito de tocar no piano, com certeza vocês conhecem. É Amazing Grace[6] (Graça Maravilhosa), uma das músicas mais belas que já foram feitas. Sua melodia é um hino celestial maravilhoso. que tem uma história que vale a pena conhecer. Acredita-se que seu autor, John Newton, escreveu a letra de Amazing Grace a partir da uma experiência pessoal com Deus.
Conta a lenda que ele era um escravagista e estava no navio, traficando seres humanos originários da África, quando da parte de cima do navio, observando os escravos que remavam embaixo, ele observou um dos escravos remando e, sem aparência de queixas ou reclamações, remava murmurando sons.
Diz-se que foi ali, observando aquele jovem envelhecido que estava fazendo seu trabalho aprisionado e, mesmo assim, emitia aqueles sons tão harmoniosos, que ele teve uma experiência que mudou sua vida, mais tarde compondo a música que hoje é tão reverenciada.
Diz-se que a partir daquele momento ele mudou sua vida, deixando de escravizar pessoas. A partir dos acordes murmurados pelo escravo. Diz-se que dessa maneira nasceu a música.
E a última que toquei na flauta é uma versão da conhecida música Halleluja[7] (Aleluia), criada pelo canadense Leonard Cohen em 1984, e que, após sua criação inicial, passou por várias versões, demorando bastante até ficar conhecida.
E complementou dizendo: “sempre fui atraída pela magnitude de certas músicas que sempre me remeteram a senti-las como sendo músicas que carregavam sons celestiais.
Foi assim que aconteceu a primeira vez que escutei ‘Regina Coeli’ que foi a primeira que cantei para vocês; e tem sido assim com algumas músicas que me tocam fundo na alma.
Quando vocês me perguntaram se eu também cantava, senti que cantá-la aqui com vocês, neste ambiente ao redor da fogueira, era o mais natural a fazer.
E, esboçando um sorriso, disse: ‘acho que os nossos anjos da guarda é que promoveram esse encontro sinfônico.
Colocando seu violão e a flauta ao lado, disse: ‘nós todos somos parte da sinfonia’, com seu sorriso claramente fazendo parte de sua fala.
A reunião ao redor da fogueira continuou por mais um tempo, com conversações, sorrisos e amenidades.
Após o término daquele encontro, ao retornarem ao alojamento, a Jovem Senhora Missionária disse à Ferhélin que seguiria viagem na manhã seguinte.
Ferhélin ainda ficaria por lá mais alguns dias. Combinaram de se despedirem logo após o café da manhã.
Logo, todos se recolheram para dormirem mais uma noite naquele ambiente tão rústico e tão aconchegante.
Brilhando – de dentro para fora
No outro dia, logo após o café da manhã, a Jovem Senhora Missionária viu Ferhélin sozinha, sentada num banco do lado de fora do refeitório e dirigiu-se a ela.
Ao chegar junto de Ferhélin, trocaram votos de um bom dia e sentou-se ao seu lado. Após alguns comentários trocados entre elas, sobre a maravilha daquele cenário matinal, A Jovem Senhora Missionária, olhando para Ferhélin, disse:- ontem à noite, já deitada na cama me veio a ideia compartilhar com você algo que estava refletindo, antes de nos encontrarmos perto do lago. É sobre o sucesso! Acho que tem a ver com a essência das nossas conversas de ontem.
Dizendo isso, a Jovem Senhora Missionária disse algo que Ferhélin nunca esqueceria: ‘Sucesso para mim é luz!’ Não a luz de um púlpito ou dos palcos ou do reconhecimento externo, mas uma luz que brilha dentro de nós.
Uma luz que faz você brilhar de dentro para fora e que chega aos olhos de quem a encontra. Não se trata de uma luz artificial, como a dos holofotes, que criam a fama, que se acendem e, em algum momento, apagam-se repentinamente.
De fato, alcançamos sucesso quando somos bem-sucedidos em unir o espírito às nossas atitudes, com sensibilidade e simplicidade, com serenidade e felicidade. Foi sentindo-me integrada à natureza a meu redor que ontem estava refletindo sobre a relação entre sucesso e luz.
Isso aconteceu ontem; pouco antes de nos encontrarmos, enquanto observava o brilho do céu azul, da água do lago e das folhas das árvores, tive essa intuição sobre a relação íntima que existe entre sucesso e luz. Mostrando que, no fundo, sucesso é alcançado quando nos iluminamos internamente.
E olhando para Ferhélin falou:- alguns minutos antes de sua chegada me vieram aqueles pensamentos. Sinto que eles pertencem a você também, e ao nosso encontro ontem.
Assim, desejo-lhe muito sucesso em sua jornada de vida! Mas lembre-se sempre, ter sucesso – brilhando, de dentro para fora, disse sorrindo. Era isso que eu queria te dizer antes de nos despedirmos.
Ferhélin agradeceu mais aquele presente que sentia receber. Em seu coração, gostaria que aquele encontro continuasse, mas a Jovem Senhora Missionária precisava partir.
A despedida
Ferhélin nunca esqueceria aquele encontro, singular e inesperado, mas com tanto a acrescentar em sua vida. Enquanto se abraçavam, durante a despedida, algumas lágrimas de emoção e contentamento caíram dos olhos de Ferhélin.
Intimamente, sentia pulsando dentro dela a luz da pomba da paz iluminando seu intelecto e percebia um fluxo de luz voando para fora dela.
Assim foram seus últimos momentos daquele encontro; experimentando seu coração e seu intelecto preenchidos e envoltos em luz.
Observando a Jovem Senhora Missionária partir e contemplando aquele cenário maravilhoso ao seu redor, Ferhélin agradeceu a Deus por possibilitar-lhe tais momentos em sua vida.
Em seu coração palpitavam tão bons sentimentos – um novo dia começaria!
Lembra-se de ter pensado, enquanto observava a Van que conduzia a Jovem Senhora Missionária se afastar, que, curiosa como era, gostaria de conhecer um pouco mais sobre a vida de João Paulo I, de Santa Faustina e sobre as músicas que ouvira na noite anterior; com certeza procuraria escutá-las e apreciá-las novamente.
De alguma forma, Ferhélin sabia que, internamente, deveria revisitar – de tempos em tempos, os momentos e ensinamentos apresentados a ela pela Jovem Senhora Missionária; em especial, que deveria relembrar a si mesma o último presente que aquele encontro havia deixado a ela: o significado do sucesso.
Em verdade, ela sentia sua alma comprometendo-se consigo mesma a sempre manter a luz interior brilhando. Que essa era a chave para ser bem-sucedida em sua jornada de vida.
Ela sentia ter conhecido novos meios para ativar aquela chave – a luz interior; e, naquele encontro, havia recebido alguns instrumentos preciosos, os quais seriam bem importantes para ela manter sua jornada de vida no rumo certo.
[1] . Angel Glacier e Mount Edith Cavell: localizados nos vales do rio Athabasca e do rio Astoria do Parque Nacional Jasper em Alberta, Canadá.
[2] Banff: cidade localizada dentro do Parque Nacional de Banff, no sudoeste da província de Alberta.
[3] Medjugorje, é uma vila situada na municipalidade de Čitluk, no Sul da Bósnia e Herzegovina, onde ocorreram várias aparições da Virgem Maria.
[4] ‘Regina Coeli’: A pronúncia de Regina Coeli, ou Regina Caelli é Regina Céli Clique aqui e emocione-se sob as vibrações de (Rainha do Céu).
[5] Salve Rainha: clique aqui e aprecie essa antífona mariana
[6] Amazing Grace: Graça Maravilhosa, de John Newton. Neste link você pode experimentar uma versão instrumental da música.
[7] Hallelujah (Aleluia), música criada pelo canadense Leonard Cohen em 1984. Neste link você pode experimentar uma versão instrumental da música.
IMAGEM Angel Glacier at Mount Edith Cavell – do site https://modernhiker.com/hike/hiking-to-angel-glacier-at-mount-edith-cavell/
Série: ‘Ouvindo as Estrelas’
Minilivro 12 – Encontro com a Jovem Missionária
Autor: H. S. Silva
Clique no link para ir para o Minilivro 13
O MESTRE INTUITIVO
(VERSÃO ATUALIZADA)
Propósito do site Intuição.com:
Estabelecer, inspirar e fortalecer elos de esperança junto aos que estão na jornada de fazer deste um mundo melhor.
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Imagens (exceto as da capa do livro): Banco de dados Pixabay