Com o tema ‘Conceitos sobre a intuição: perspectivas e nuances!‘ damos sequência ao capítulo 1 – VISITA AO JARDIM DA INTUIÇÃO do livro ‘Intuição Para Viver uma Vida Melhor‘.
1.6 Conceitos sobre a intuição:
perspectivas e nuances!
Ângulos, perspectivas e nuances de beleza própria são características que diferenciam as formas como percebemos a intuição.
A intuição pode manifestar-se sob diversos ângulos e, conforme a perspectiva, pode-se descrevê-la de um jeito ou de outro. Tudo depende da perspectiva. O interessante é que nenhuma das conceituações sobre a intuição, por si só, será completa e definitiva. Ao mesmo tempo, cada uma das perspectivas revela uma face que apresenta nuances de beleza própria e que vale ser apreciada.
O fato é que a intuição constitui um atributo, que faz parte de nossas vidas, haja ou não reconhecimento sobre esse fato. O proposto, a seguir, é um breve passeio por algumas facetas da intuição percebendo-se certas peculiaridades.
Podemos percebê-la como sendo reconhecida por meio de facetas variadas, seja como uma habilidade inata do ser humano, ou também como uma propriedade, uma capacidade ou um talento desenvolvidos e intensificados com a prática; em simples momentos de manifestação da sensibilidade humana ou em momentos de criação artística ou insights científicos.
Há facetas da intuição facilmente encontradas dependendo do contexto de vida da pessoa e conforme seus campos de atuação. Conforme a perspectiva, a faceta será visível. Cada uma delas apresenta características facilmente percebidas por quem navega em determinado universo. Vejamos alguns casos:
O artista
Os grandes artistas, sejam compositores, instrumentistas, bailarinos, pintores, desenhistas, escritores ou outros representantes do universo artístico, manifestam a sensibilidade intuitiva por meio de expressões criativas.
Os artistas, em sua maioria, naturalmente têm a tendência de utilizar o canal da criatividade e manifestam a intuição por meio da abertura da sensibilidade criativa.
O resultado da aliança da intuição às manifestações artísticas pode traduzir-se em momentos magistrais num palco, traços e cores que emocionam numa tela, frases que nos levam a universos que despertam alto grau de sensibilidade, sons que nos conduzem além do tempo, músicas que encantam e parecem penetrar nossas células.
Normalmente, quando a intuição se manifesta em conjunto com a técnica e com o talento, dando vazão à inspiração e à sensibilidade, o que observamos são performances que elevam nosso espírito a outras dimensões, levando-nos a transcender nosso nível de consciência habitual. O mundo das artes é um palco em que a intuição trafega com muita naturalidade e frequência.
O interessante é que isso não fica restrito ao autor das obras. A manifestação nascida da sensibilidade intuitiva continua viva nas telas, nas músicas, nas frases, nos sons, nas performances ou nas diferentes formas de expressão usadas, conectando-nos com outros padrões de energia em que nossa mente se preenche completamente a ponto de parecer transbordar. O interessante é que junto dessa sensação de preenchimento e transbordamento, também experimentamos a leveza.
O filósofo
Ao estudar os grandes filósofos, como Sócrates e Platão, e vários outros que vieram antes ou depois deles, podemos perceber que eles trataram da intuição sob o prisma do saber, inspirando-nos a refletir como o conhecimento pode e deve ser usado nas nossas vidas, conectando-nos a valores humanos e espirituais genuínos.
Muitas das questões existenciais presentes em nossa sociedade derivam desde o tempo dos grandes filósofos gregos, que nos inspiram ainda hoje a aprofundar reflexões. Fundamentalmente, podemos dizer que sob o prisma da filosofia, a abordagem da intuição se dá por meio de sutis reflexões sobre o conhecimento que transcendem o plano intelectual, abordando e vislumbrando aspectos existenciais presentes em várias culturas e épocas distintas da história humana.
Quem aprecia a Filosofia, e consegue mergulhar na essência deixada por boa parte dos filósofos, mais se aproxima da fonte geradora dessa essência. Quanto mais adentramos essa jornada e mais nos sentimos navegantes em direção às fontes do conhecimento e dos saberes, tanto mais nos afastamos da índole intelectualista.
Essa jornada, quando conduzida sem os impulsos do egoísmo e do orgulho, não raro, nos conduzem ao frescor da espiritualidade serena e da religiosidade espontânea, da vitalidade da ética e da iluminação da verdade, das fontes originais das crenças e do amor.
Tal jornada nos possibilita apreciar as aprendizagens do caminho e ter relances da sutileza, beleza e sabedoria que a intuição nos proporciona.
Adentrar aspectos do conhecimento e do autoconhecimento com sensibilidade intuitiva, nos conduzem a momentos de admiração, simplicidade, descobertas e realizações, gerando desdobramentos sutis em nossas vidas, mesmo que sob o prisma intelectual isso nem sempre seja percebido. Para tal, o amor ao saber deve prevalecer e isso se reflete na relação da pessoa com o conhecimento por meio da apreciação, amor e respeito.
O oposto disso bloqueia o canal da sensibilidade intuitiva e acontece quando a relação com o conhecimento é traduzida por posturas de superioridade e arrogância, que mais lembram um “carcereiro” do conhecimento. Isso se reflete em atitudes quando a pessoa se considera “dona” do conhecimento.
O apreciador do saber se relaciona com o conhecimento por meio de atitudes de amor e respeito, e nunca como “dono do conhecimento”. Dessa forma, seu canal da intuição é aberto naturalmente. Já o “carcereiro” do conhecimento bloqueará esse canal, erguendo barreiras por meio de sua própria atitude mental e, inconscientemente, barrando o fluxo do saber intuitivo podendo se tornar um erudito com muito conhecimento, mas com pouca sabedoria.
O psicólogo
Uma outra perspectiva é a de quem navega no universo da Psicologia, que em essência é o estudo da psique, ou seja, da alma humana. Quem empreende essa jornada enxerga a intuição sob o prisma das atitudes mentais e das características de personalidade.
Jung, ícone no universo da Psicologia, disse: “o termo intuição não denota algo contrário à razão, mas sim algo que se situa fora do domínio da razão”.
O neurocientista
Dentro da perspectiva dos neurocientistas, os processos químicos são o foco do estudo. Nessa área, mais que uma perspectiva sobre a intuição, o que mais tem sido estudado são os processos e os efeitos da ocorrência da intuição no cérebro humano.
Os neurocientistas, juntamente com os geriatras, têm importante papel para milhões de pessoas, que com o aumento na expectativa de vida e com o avançar da idade, enfrentam ou irão enfrentar déficits cognitivos.[1] Esses profissionais de saúde, por meio de suas percepções intuitivas agregadas às suas pesquisas e estudos, podem canalizar novas descobertas, ampliar o que é conhecido sobre o tema e ajudar a transformar a realidade de milhões em nosso planeta.
O espiritualista
A espiritualidade só é verdadeira se a simplicidade, a serenidade e a espontaneidade estiverem presentes. Quando observamos os diversos exemplos de ícones espirituais, verdadeiros casos de elevação espiritual, nas várias tradições religiosas, o que vemos são exemplos vivos de valores e virtudes que transcendem as dimensões de religiões ou doutrinas às quais possam estar vinculados. Em geral, tais exemplos são relacionados ao altruísmo e às atitudes de servirem a outros. Esses exemplos inspiram o desapego material e a espiritualidade espontânea. Tais posturas têm papel marcante na forma como eles estabeleceram conexões com Deus, e com as pessoas beneficiadas por meio de suas ações.
Podemos dizer que as intuições desses espíritos elevados se originavam das fontes as mais autênticas e seus canais intuitivos eram, em muito, desbloqueados pela fé que tinham, mas também pela autenticidade verificada entre o que falavam e o que faziam. O fato é que os exemplos de espiritualistas do mais alto nível e dedicação às suas missões de vida mostraram um aspecto muito particular da intuição, que é o fato de a intuição ser uma faculdade espiritual.
Em relação à intuição, ao observarmos várias linhas espirituais, nas suas relações com a população em geral, seja incentivando as orações, as práticas da meditação ou da reflexão profunda, o foco converge naturalmente para a elevação e para a expansão do nível de consciência, o que, por sinal, deveria ser o objetivo natural, não apenas de espiritualistas, mas de todos aqueles que buscam a evolução como seres humanos.
O fato é que, até pouco tempo atrás, essa era a meta do dia a dia apenas de iogues, monges e espiritualistas de diversas linhas e tradições filosóficas e religiosas. Hoje em dia, essa realidade começa a fazer parte da vida de muitas pessoas nas mais diversas áreas.
O esportista
Na perspectiva de esportistas de alta performance, facilmente temos exemplos de atletas intuitivos diferenciados, cujas ‘soluções criativas‘ vão além da técnica perfeita e do imenso talento. Seja no futebol, com a escolha de uma jogada totalmente inesperada, ou no futebol americano, num passe ou numa corrida que surpreende, ou no voleibol, quando uma levantadora faz um levantamento impensável, ou quando uma atacante faz uma deixadinha. Também observamos o mesmo em vários outros esportes como basquete, tênis, natação ou atletismo, nos quais a intuição pode conduzir a atitudes altamente criativas, que aliadas ao talento e à técnica fazem a diferença.
Os atletas intuitivos de alta performance, além do talento e do domínio completo da técnica em seus esportes, parecem superar-se realizando coisas impossíveis de serem planejadas ou pensadas com antecedência. Eles “percebem” o momento e a chance e, simplesmente, fazem o inesperado.
Já os técnicos intuitivos percebem “aquele” diferencial que parece ser captado apenas por eles, seja uma substituição, uma mudança de tática ou uma dica que ele “sente” que é preciso passar a algum atleta de sua equipe.
Também podem ocorrer insights que os inspiram a levar seus atletas a experimentarem contextos completamente fora do que estão habituados – antes de uma decisão, por exemplo; e o resultado mostra que aquela “experiência” atua como um elevador ou uma chave, que parece levar o atleta ou a equipe a transcender o seu próprio nível.
O administrador
Na perspectiva do administrador, a questão da percepção é fundamental. A diferença entre a formalidade, o declarado e o que verdadeiramente flui no seio de uma organização é muito grande, e o bom gestor sabe disso. Sutilezas fluem por meio dos projetos, dos objetivos, das relações entre os funcionários ou entre as áreas, relações com consumidores e acionistas, com pessoal interno e com clientes, provedores e beneficiários de serviços, ou seja, todos que interagem com a organização.
A presença da intuição nesse universo tem sido cada vez mais buscada, por meio de cursos, workshops ou vivências em que alguns gestores incentivam seus colaboradores a tomar parte. No fundo, o que se busca é o fortalecimento da percepção e de competências como a sensibilidade, a liderança, a capacidade de trabalho em grupo, a empatia, a sensação de time, a visão fora dos padrões, a criatividade, a inovação, a administração de conflitos e outros aspectos sutis, e que funcionam como combustível, preenchendo os processos da organização com mais qualidade e vitalidade no seu dia a dia.
Em algumas organizações, o clima e a cultura organizacionais estão tão arraigados a velhos procedimentos e fundamentados em uma visão “pragmática”, que quando alguns gestores propõem trabalhos no nível subjetivo, como participar de workshops que trabalhem esses temas, os focos de resistência emergem do próprio corpo funcional, com críticas e posturas de rejeição a qualquer tipo de mudança ou aprofundamento de competências humanas. Aí entra a postura do gestor, que percebe a importância da intuição. Ele não pode sucumbir às visões reacionárias de alguns e abandonar propostas de renovação e arejamento em suas áreas de atuação. Nesses casos, o ideal não é organizar eventos de presença compulsória, mas abrir convite com número limitado de participantes, e somente para os interessados em participar. De nada adianta obrigar pessoas a participarem, se elas se opõem e consideram essas ações uma perda de tempo.
Ao mesmo tempo, observa-se o aumento no número de empresas que fogem do convencional e criam práticas que estimulam a criatividade e a imaginação. Essas práticas são variadas e geralmente abrem espaço para a autonomia dos funcionários, pelos menos em parte de suas atividades de trabalho.
O gênio
Normalmente aqueles considerados “gênios” fazem uso da intuição por meio de flashes e insights. Mostrando algo que eles enxergam como solução ou o meio de explicar o que antes não conseguiam ou acionando um conhecimento que não seria considerado “genial” se ficasse restrito apenas aos limites da racionalidade que permeia a época e a sociedade em que vive.
O que faz uma pessoa superdotada atingir o patamar de “gênio” é a abertura e aceitação desses “flashes” ou “insights” que, em verdade, são percepções intuitivas. Nenhum deles teria atingido o nível de genialidade que atingiram se tivessem ficado restritos ao conhecimento cognitivo que possuíam e, também, não conseguiriam fazer uso, entendendo suas manifestações intuitivas, se não possuíssem o alto grau de conhecimento técnico ou científico de que dispunham.
Ou seja, se eles não conseguissem combinar a intuição e a razão, cada um a seu modo, muito provavelmente nunca teriam dado o salto que os levou a serem considerados gênios.
Por meio de insights combinados com um alto grau de conhecimento é que Leonardo da Vinci (século XIV), considerado o maior gênio do último milênio, nos brindou com um acervo de ideias geniais em inúmeros campos do conhecimento.[2]
Também por meio de insights e abertura das portas da imaginação, um dos mais marcantes gênios do século XX, Albert Einstein, uniu todo o conhecimento com insights, que se mostraram altamente eficazes redundando nas teorias que revolucionaram o mundo científico moderno.[3]
[1] No Brasil, cerca de 21,9% das pessoas com idade acima de 65 anos têm algum grau de demência (Fonte: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-18042007-110300/pt-br.php>).
[2] Até hoje o acervo de Leonardo Da Vinci serve de base para o desenvolvimento de equipamentos, paraquedas, veículos (submarino, helicóptero, etc.), sem entrar no mérito de tudo o mais que ele nos deixou.
[3] Mais sobre Albert Einstein no Capítulo “Einstein era intuitivo?”.
Para dar sequência à leitura do livro,
clique no link: 1.7 O QUE É INTELIGÊNCIA INTUITIVA?
Copyright © 2020 por H. S. Silva
Livro “Intuição: Para Viver uma Vida Melhor em Perguntas & Respostas”
Capa do livro
“Intuição: Para Viver uma Vida Melhor”
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