O Poder da Cúpula

O Poder da Cúpula

O Poder da Cúpula.

Por Mike George

Vocês esperam boas notícias da Dinamarca nestes próximos dias? Esperam ouvir o que lhes reservam para os seus estilos de vida? Esperam que “eles” consigam resolver as divergências entre eles e então curar o mundo? No entanto, este é mais um encontro dos “nossos representantes” que reunirá aqueles que acreditam ter o “poder de influenciar” o futuro de todos nós. A Cúpula de Copenhague sobre a alteração climática irá novamente convergir mentes em busca de soluções conjuntas para o problema ambiental, que transcende todas as fronteiras. Serão tomadas decisões que poderão afetar as próximas gerações. Nas Cúpulas anteriores, parece ter sido feito muito pouco para que o consenso fosse traduzido em ações decisivas. Os líderes que se reunirão nesta Cúpula adiantam que não poderão tomar novas decisões por não haver tempo suficiente para estruturar convenientemente as idéias, esboçar traçados e construir consensos. Enquanto alguns se desesperam perante o padrão repetitivo de discórdia e divisão, evasivas e atrasos, outros perdem a esperança de que algo significativo possa ser feito em tais encontros, dos também chamados poderosos.

Existe ainda um grupo menor, que não espera nem se desespera com tais encontros internacionais. Dele fazem parte os que consideram que os assuntos abordados nestas ´cúpulas sobre o ambiente´ são dirigidos apenas aos sintomas e não à ´verdadeira causa´. Da mesma forma como é impossível curar um doente sem saber a verdadeira causa do seu mal, um numero crescente de pessoas entende que a causa raiz das doenças não está no nível físico, nem mesmo mental, mas no nível espiritual. E também para elas, a verdadeira causa dos nossos desafios ambientais reside no foro espiritual da consciência humana. A menos que isso seja totalmente reconhecido e corretamente direcionado, todos estes encontros, conferências e cúpulas não serão mais do que debates sob a ilusão de que, como diz o velho ditado, “deslocar as cadeiras no convés do Titanic fará diferença ao destino do navio”.

As verdadeiras causas espirituais dos nossos problemas ambientais como a diminuição dos recursos, o caos climático, o colapso do bio sistema e a poluição atmosférica, passam despercebidas porque, nestes eventos, muito pouco ou nenhum diálogo espiritual existe.

Isto acontece devido a uma série de razões incluindo:

1. Erroneamente as pessoas associam espiritualidade com religião;

2. Grande parte das pessoas continua não conseguindo ver a conexão entre o espiritual e o material, logo não reconhecem a relevância da dimensão espiritual no contexto da situação ambiental;

3. Por estarem focadas principalmente nos aspectos materiais, as pessoas que participam nestes eventos não parecem ter muito interesse na consciência humana que é invisível, intangível, imensurável Por estarem focadas principalmente nos aspectos materiais;

4. Pelo fato de a compreensão espiritual não fazer parte da nossa educação formal, não existe um entendimento real do território da consciência humana, como também não há um vocabulário que possa ser usado em nossas conversas informais e então no diálogo formal.

5. Porque não somos encorajados a ver a conexão entre o interior e o exterior, não percebemos que o mundo à nossa volta está simplesmente refletindo nosso estado coletivo de ser, nosso estado coletivo de consciência.

Aqui estão algumas das ligações óbvias para aqueles que dedicam tempo e atenção ao entendimento de si, à exploração espiritual, ao desenvolvimento de valores ou, simplesmente, à busca do sentido da vida.

A Depleção nos Recursos do Mundo Natural e no Universo da Consciência

Nós somos a geração mais agitada e ansiosa de toda a história da humanidade.

A ciência e a tecnologia deram quase tudo o que queremos, permitiram-nos ir a quase todos os cantos, ver praticamente tudo, quase instantaneamente.

Nós vivemos na expectativa de um estímulo contínuo, onde o estímulo significa a agitação da consciência. Ficamos dependentes da agitação. Quanto maior o número de vícios mais energia é necessária para satisfazer nossas agitações. Não apenas nos esgotamos a nós próprios, como também esgotamos os recursos naturais para manter nossa própria exaustão. Em outras palavras, significa vivermos de um modo mais simples e sereno. É pouco provável que esse seja o primeiro tema da agenda da Cúpula de Copenhague.


Poluição da Atmosfera e Poluição da Consciência.

A exploração veloz dos recursos naturais do nosso planeta, para alimentar as nossas ansiedades tem, obviamente, efeitos colaterais, gerando um excesso de poluição na atmosfera. No entanto, poucos repararam que o nosso estado de consciência, também tem sido poluído de forma crescente, por negatividades tais como a raiva e o medo. Medo de não satisfazermos as nossas ansiedades e raiva ao vermos ameaçados os nossos suprimentos. Uma consciência poluída está menos apta para criar e comunicar de um modo pacífico e cooperativo. Como resultado, aumentam os conflitos interpessoais e internacionais. Enquanto que o tema “qualidade do ar” é tão visado nessa Cúpula, é pouco provável que o tema “qualidade dos pensamentos e sentimentos” venha a merecer alguma atenção. No entanto, neste encontro serão criadas, tratadas e tomadas decisões. Quem primeiro revelará a relação entre a poluição emocional e a verdadeira causa da poluição atmosférica?

O Aquecimento Global e o Resultado do Estado da Consciência.

Assim, o mundo aquece paralelamente com o aquecimento da consciência.

Emoção reflete o aquecimento da consciência, onde a raiva como num estado febril, turva a clareza dos nossos pensamentos, distorcendo decisões e gerando conflitos. Apesar disso, a crença predominante em quase todas as culturas é que a raiva é aceitável, justificável e é provocada pelo “outro”. A raiva vem da percepção de “nós e os outros”, da crença de que os nossos recursos não são dos outros e da tentativa falha de controlar o comportamento dos outros. Ao mantermos, na nossa consciência, a percepção de estarmos separados, afetamos a maneira como nos relacionamos e como exploramos o planeta, tentando levar sempre vantagem sobre os demais.

Torna-se bem claro que o aquecimento do planeta está diretamente relacionado com o aquecimento da consciência. Como manter a calma e o controle, como nos libertarmos do medo e da raiva, como podemos começar a andar juntos cuidando do nosso mundo como um todo? Isto será impossível a menos que façamos parte de um todo. Este não é um tópico fácil de abordar no meio de tantos delegados, quando muitos estarão apenas defendendo o “seu próprio interesse nacional”.

O Colapso dos Eco e Bio Sistemas resulta do Colapso dos Valores.

Como os sistemas naturais são erodidos por nossas ações no mundo, não é fácil fazer a conexão com a “verdadeira causa” que é a erosão dos valores e o crescimento de crenças erradas, totalmente dentro da consciência humana. O cerne dos “valores” de todo o ser humano, denominado amor (cuidado), paz (calma) e alegria (felicidade e contentamento) foram substituídos pelas “convicções” de que é permitido explorar de forma descontrolada. A calma e a tranqüilidade parecem ser um tédio enquanto que a agitação é entendida como felicidade. Estas são apenas três das mudanças na consciência humana que explicam a desmedida erosão da natureza e o abuso exponencial das energias da terra. Não é de admirar que o sol já não consiga acompanhar-nos e restabelecer as energias do mundo na proporção em que nós as consumimos. Estes são apenas alguns desafios entre interior e exterior, relações e causas do nosso clima e ambiente. É pouco provável que eles tenham lugar na agenda de trabalhos de Copenhague, sendo assim mais ninguém poderá ter a jurisdição sobre o território da consciência humana. Esse é o lugar e o espaço interior, onde apenas o indivíduo tem o domínio sobre si mesmo, e em última instância torna-se responsável. A questão não está em culpar os governos ou empresas de energia, nem os poluidores e exploradores. Isso apenas sustentará o “calor” das nossas consciências e a raiva nos nossos relacionamentos. Quando a ligação entre a consciência e o planeta, interior e exterior, espírito e matéria, forem plenamente entendidas, restará apenas uma pergunta. Quem começará a limpar e apaziguar as consciências?

De certo modo, a frase de Gandhi de inestimável sabedoria parece fazer parte das nossas conversas, lembrando-nos: “Sejamos a mudança que queremos ver”. Mas quem fará a mudança? Como mudaremos? O que exatamente tem de ser mudado? Como iremos consertar o “estado da consciência”? E porque deveria me importar se mais ninguém o faz?

Todas as interrogações merecem contemplação, senão mesmo uma Cúpula paralela.
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Por Mike George*
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Imagem: Pixabay