Fúria congelada – formas escondidas da raiva.
Artigo do Purity Bureau.
A personalidade humana é um iceberg. O que está visível é apenas a ponta do iceberg, enquanto o que se encontra lá dentro é como uma forma colossal de gelo que flutua sob a água. Imaginem a força das correntes que movem toda a massa do iceberg. Da mesma forma, é difícil compreender as forças subjacentes que, na verdade, moldam uma personalidade humana. As correntes que moldam uma personalidade são as fortes impressões e sentimentos que permanecem embutidos profundamente dentro da alma humana.
Alguns destes sentimentos e impressões flutuam na superfície de nossas palavras e ações diárias com frequência, enquanto outras podem permanecer silenciosamente no interior, como as brasas que irrompem num fogo quando são atingidas pelos ventos das situações na vida. A revolução emocional que é constantemente testemunhada quando pessoas normalmente quietas se comportam de um modo inesperado ou chocante não é uma ocorrência repentina, mas é a expressão final de uma emoção que ferveu, por um longo período de tempo, profundamente dentro da alma. Assim como uma erupção vulcânica é precedida de um derretimento das camadas rochosas devido ao calor intenso nos nichos profundos da terra por um longo período de tempo.
Vamos explorar as diferentes nuances da raiva que são diferentes das violentas erupções vulcânicas, mas são mais semelhantes ao magma borbulhante e fervente que permanece nos fossos profundos da terra, e que irrompe da boca de um vulcão quando a pressão aumenta.
Por exemplo, quando um chefe grita com seu subordinado, e este se sente insultado e machucado, há diferentes formas nas quais ele pode expressar seus sentimentos. Se ele for uma pessoa de cabeça quente e indiscreto, ele pode gritar de volta impulsivamente, mas uma pessoa introvertida iria engolir aquilo quieto, mesmo que aquilo a machucasse por dentro.
Depois daquilo, poderia haver muitos tipos de reações e manifestações de comportamento dos sentimentos desagradáveis que estão fervendo internamente. A maioria das pessoas soltam sua raiva sobre as pessoas sobre as quais eles têm algum tipo de autoridade ou as quais eles acreditam que não reagiriam imediatamente. Há outros tipos de pessoas raivosas que podem nunca expressar seus sentimentos verbalmente, mas se tornam rabugentas, impertinentes, frenéticas e lamuriantes. Elas começam a evitar as pessoas e se tornam desobedientes e não cooperativos. Elas, gradualmente, se tornam maliciosas e desdenhosas sobre tudo.
Os outros sintomas que essa raiva reprimida apresenta são: disposição melancólica, teimosia, mau humor, tristeza, abatimento, desolação e isolamento. A raiva torna algumas pessoas reclusas e frias. Elas se tornam resguardadas e indiferentes. Finalmente, ela as torna cínicas, severas e vingativas.
Aqueles que dão vazão à sua raiva são vistos como perigosos. Eles são um perigo para si próprios, seu ambiente e para outros. Na maioria dos casos, a raiva, quando é expressa, é eliminada, mas, quando é silenciada, ela ferve internamente, se manifestando finalmente, nas várias formas mencionadas acima. É por isto que é dito que é melhor alguém expressar suas emoções do que reprimi-las. Há casos extremos de raiva reprimida. Algumas pessoas raivosas param de falar umas com as outras e permanecem dessa forma por anos, até mesmo por toda a sua vida. Alguns entram em profunda depressão, se isolando de tudo. Alguns até mesmo acabam cometendo suicídio. Há outros que se tornam amargos e com um coração duro, chegando até mesmo a matar ou ameaçar outros. O escândalo do assassinato recente de um líder policial pelo seu próprio irmão, que atirou nele por ter sido insultado de novo e de novo, é um exemplo claro de raiva reprimida. Jovens raivosos entram na marginalidade, crime e drogas para soltar suas emoções.
A repressão da raiva leva ao mau humor e à indolência. Muitas pessoas arruínam sua própria vida e a de sua família, desperdiçando seus talentos, habilidades e tempo ao pensar e se aborrecerem com coisas que as machucam. Elas se recusam a aceitar as situações e mudar a si próprias. Elas se agarram a uma postura rígida e vivem num mundo falso onde tudo é colorido pelos seus sentimentos negativos. Elas perdem a bondade que a vida oferece. Elas vivem em constante negação e autopiedade.
A raiva que se oculta internamente bloqueia a nossa verdade e o nosso amor. Quando uma pessoa está com raiva internamente, ela continua a alimentar pensamentos de suspeita e noções prejudicadas sobre os outros. Ela se recusa ou é incapaz de compreender as coisas como elas são. Isto leva ao ódio e a maldade.
Raiva introvertida pode, também, se manifestar como possessividade, apego e hipocrisia. Tais pessoas se tornam apegadas às suas próprias idéias, atitudes e valores. Elas têm medo de soltar a força negativa dentro delas que as faz sentir que estão no controle. A sua obstinação se torna um vício em relacionamentos, hábitos e trabalho. Elas transformam um relacionamento, pessoa, trabalho ou hábito numa válvula de escape para liberar suas emoções reprimidas.
Portanto, a raiva, expressa ou reprimida, é uma emoção nociva. É um vício perigoso que arruína a felicidade e o bem-estar dos indivíduos e da sociedade. Ela arruína o corpo e a alma. A raiva silenciosa leva ao estresse, que pode causar úlceras, dores de cabeça, doenças do coração, problemas no estômago, etc. Ela estraga a personalidade e torna a pessoa feia.
Ela rouba da alma a verdade, a paz, a alegria e o amor. A raiva drena todos os valores que trazem bondade, o encanto e a alegria para a vida. Ela até mesmo drena o poder da alma, a força de vontade para fazer boas ações. Ela distancia a alma de Deus e a torna incapaz de experimentar o Seu amor. Ao invés de receber bênçãos das pessoas, uma pessoa raivosa sempre é evitada e indesejável pelos outros. Ao invés de cooperação, elas recebem desprezo.
A raiva é uma fraqueza e é uma tolice. Ela é um vício e uma maldição. A raiva nasce do ego e da luxúria. Estes vícios nascem da ignorância sobre o verdadeiro eu. Todo ser humano é uma alma imortal que é preenchida com as qualidades inatas da paz, amor e felicidade. Quando nós nos conectamos à nossa essência espiritual, nós começamos a nos nutrir com esses sentimentos puros. Quando o espírito está empobrecido devido à falta de tal percepção pura, ele procura esses sentimentos no mundo externo, levando a mais desejos e dependências. Quando os desejos não são satisfeitos, aquilo leva à raiva e a outros vícios.
A raiva é uma violação do verdadeiro eu. É uma violência sobre a alma. Através da meditação e do estilo de vida espiritual que envolve uma vida simples, dieta vegetariana, estudo espiritual e serviço abnegado, uma pessoa pode conquistar todas as formas da raiva. Ai assimilar os valores da doçura, humildade, respeito, jovialidade, misericórdia, cooperação, compaixão e paz, nós podemos arrancar a raiz interior da raiva.
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Publicado no Purity Bureau, jornal da Brahma Kumaris World Spiritual University com sede em Delhi, India.
Foto: disponibilizada pelo banco de imagens Pixabay