Visão de futuro, ação de presente.
Por ken O’Donnell
‘Quais são os planos para sua empresa daqui quinze anos?’
O ex vice-presidente americano, Al Gore diz que ‘estarão debaixo de água.’
Tal foi a frase de Al Gore no material publicitário de uma palestra pública em São Paulo, organizada pela Câmara de Comércio Americana alguns anos atrás. Extremamente desafiadora. Certamente provocante. De modo algum muito exagerado.
O documentário “Uma Verdade Inconveniente” ganhador de Oscar, quebra recordes de vendas do gênero. Ele já fez mais de 1400 apresentações sobre o tema nos últimos dois anos para casas cheias no mundo inteiro. A questão é se vamos só escutar ou agir de acordo com suas implicações.
Qualquer que seja o caso, vivemos numa época de transformações fundamentais nunca antes vista na história. As mudanças políticas, econômicas, tecnológicas, culturais e climáticas fazem parte do mesmo pacote de eventos. É um furacão enorme que leva indivíduos, organizações e até países num processo constante de redefinição, reajuste e reposicionamento. Salve-se quem puder é a regra do jogo.
No nível corporativo, muitas das empresas que figuravam orgulhosamente na lista das maiores e melhores da revista Fortune apenas a uma década ou duas, não sobreviveram as tormentas da época atual. Milhões de pessoas foram atiradas para as filas de desemprego, provocado em grande parte pelos “downsizings” and “rightsizings” intermináveis. No nível individual, temos sido obrigados a desenvolver nova e mais complexas competências, só para manter os nossos empregos, algo que não teríamos imaginado a vinte anos.
A idade do ouro da indústria já morreu. Apesar do fato de que a comunidade empresarial se especializou em gerar empregos e riqueza, tem contribuído de uma forma muito contundente às disfunções dos sistemas do nosso mundo. O chamado para deixar de fingir que tudo é apenas ‘business as usual’ está soando nos nossos ouvidos. Existe uma real possibilidade que a busca por lideranças empresariais mais sensíveis às questões de sustentabilidade pode ser tarde demais.
A corrida louca para a sobrevivência de empresas e países durante os últimos vinte anos deixou evidências vergonhosas de guerras e conflitos, uma biosfera seriamente ameaçada, mais e mais pessoas humilhadas e pelo desemprego e/ou pela exclusão econômica. Muitos daqueles que conseguem manter-se razoavelmente empregados, se vêem agindo contra os seus valores e princípios, ou sobrecarregados e estressados pelas vidas alucinantemente rápidas e comprimidas.
Num estudo de 21 civilizações extintas, o grande historiador inglês do século 20, Arnold Toynbee, descobriu dois fatores em todas elas – a concentração de riqueza e propriedade nas mãos de poucos, e a incapacidade fazer as mudanças necessárias a tempo. O mundo está doente e precisa de líderes corajosos e sábios.
Mesmo com todos esses avisos tão claros, muitos insistem em aplicar versões diferentes da velha e insuficiente visão mecanicista da realidade numa tentativa de fugir ou adiar as dificuldades. Esta abordagem parcial e limitada, gerada pelos grandes como Sir Isaac Newton, Sir Francis Bacon, René Descartes e os santos modernos de administração como Frederick Winslow Taylor está muitíssimo viva. Parece incrível que, 80 anos depois que as implicações da física quântica estilhaçaram o pensamento clássico, muitos ainda acham que o universo de objetos e pessoas é um sistema linear e estático feita de pequenos blocos sólidos que podem ser observados e portanto controlados de uma maneira perfeitamente previsível. A falha básica de esteio do velho paradigma está em achar que, através de compreender as coisas podemos impor ordem nelas. O menor tremor da terra demole esta ilusão.
Se pudéssemos apreciar um pouco da complexidade dinâmica do sistema no qual nossas vidas e patrimônios estão investidos, aprenderiamos uma grande lição, especialmente nestes dias de previsões apocalípticas. De qualquer modo, é muito melhor estarmos preparados para o que vier, do que planejaram meticulosamente para um futuro incerto.
É a hora de parar de fingir que podemos continuar sem sermos sensíveis as necessidades do nosso planeta. A única utopia de fato, é acreditar que podemos mover-nos em direção ao futuro melhor sem fazer mudanças fundamentais na maneira que pensamos e fazemos as coisas.
Muito se fala sobre o poder do pensamento em mudar a direção que o indivíduo num mundo complexo, mas o poder da vontade é mais forte ainda. Quando este poder está alinhado ao nosso potencial inato, ele se torna irresistível.
A crise mundial não é só uma questão de aprender como conservar recursos e não poluir mais. É o espírito humano que literalmente nos dá a vida que precisa ser reaceso. Quanto trabalho é movido por um propósito levado e imbuído de paixão, os atos, os atores e o palco ganham uma nova vida.
A prática consciente de espiritualidade não é uma resposta simplista para os inumeráveis problemas do mundo, alguns dos quais foram citados acima. É que é a dimensão que tem a capacidade de mudar nossos padrões mentais porque ela se encontra nas raízes deles. Como Einstein nos advertiu, não é possível resolver os problemas com a mesma mentalidade que os criou. Podemos observar este fenômeno na maioria das organizações, desde uma microempresa que tem apenas um funcionário até repartições públicas com centenas de milhares – o erro de pensar que reorganizar as mesmas coisas constitue uma mudança de verdade. De fato, nada de essencial muda se os mesmos padrões mentais (os mesmos egos com as mesmas visões de mundo) persistem em tentar ‘controlar’ as coisas.
Uma sociedade complexa exige uma maneira mais consciente, profunda e significativa de compreender as situações, resolver problemas e de ‘ganhar a vida’ que podem contribuir positivamente à sociedade e ao meio ambiente. Empresas mais ‘espiritualizadas’, dirigidas por pessoas verdadeiramente responsáveis em criar futuros, individuais e coletivas, mais sustentáveis, é o imperativo número um neste mundo incerto e ambíguo do começo do milênio.
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