Dicas de como praticar silêncio.
Por Juliana Vilarinho.
Silêncio – uma das possibilidades e conquistas da prática meditativa.
O objetivo da prática de silêncio é conectar-se com o mundo interno. É uma jornada muito bonita que nem sempre temos a oportunidade de experimentar.
Este é um convite para praticar o silêncio de permanecer além das palavras e também o silêncio interno.
Um dia de silêncio é uma oportunidade de acumular este poder de modo a experimentá-lo quando quer que eu queira.
Dicas do que não fazer num dia de prática de silêncio:
*Compras
*Checar emails
* Ler revistas, jornais, internet.
Dicas de como aproveitar ao máximo a experiência de silêncio:
Reflita e, com base nas orientações, verifique o que é melhor para você:
Se o corpo precisa de descanso, permita-o descansar.
Ao andar, caminhar, (dirigir é mais complexo – exige mais atenção) experimente o ser – o motorista do veículo, o máster, o cocheiro desta carruagem, o corpo.
De maneira consciente decida o que ver e o que não ver. O que trará elevação ou apenas ilusão. Como estou usando meu corpo, minha mente?
Em momentos da prática de silêncio, há a experiência de um tempo tão necessário e essencial para o eu.
Um tempo “livre” que normalmente não temos.
O objetivo de um dia de silêncio não é apenas observar a beleza externa do local.
Gratidão e apreciação da natureza é aspecto importante do desenvolvimento espiritual. Mas não é o foco. Enquanto caminha, foque o olhar no eu interior. Enquanto caminha, experimente ser o cocheiro do corpo, o máster responsável por cada um dos órgãos dos sentidos. Aí independente do lugar posso criar esta experiência. Mantenho o olho aberto, mas o foco é o interno.
Quanto mais experimento isto, mas experimento maestria.
Há níveis diferentes de maestria.
O primeiro é ser máster dos órgãos dos sentidos. Ser máster do corpo físico.
O segundo passo da maestria é ser mestre dos meus órgãos sutis – mente, intelecto e sanskaras (termo em sânscrito cujo significado se assemelha ao subconsciente).
Mantenham em sua consciência – a percepção – eu o ser de paz, o ser eterno.
Eu procuro manter a mente nesta percepção, nesta consciência.
Quando encontrarmos, passarmos por alguém enquanto caminhando, não é necessário desviar o olhar. Com certeza vamos encontrar muitos durante a caminhada. Podemos praticar outro aspecto deste estado interno de consciência de alma. Nesta consciência de eu, a alma eterna, quem é que eu a alma eterna vejo, quando olho para outros? Vejo-os como pontos de luz brilhantes. Como seres eternos.
Então há uma conexão natural de amor puro. Todos são como irmãos e irmãs.
Portanto, não é necessário ignorar aqueles que você encontrar.
Olhe para todos com esta consciência de alma. Sorria. Isto também vai ajudá-lo na sua jornada interior. Por que esta é uma jornada que apenas eu posso percorrer.
Quando começamos uma caminhada rumo ao pico de uma montanha, no início, o caminho possibilita que muitos caminhem juntos, lado a lado. Conforme prosseguimos, o caminho naturalmente fica mais estreito e no fim é tão estreito que apenas uma pessoa possa viajar por vez.
Começamos a jornada com os companheiros e isto é muito válido, mas os últimos passos em direção ao destino é por minha própria conta. Sempre temos também a ajuda de Deus.
De qualquer modo, compartilho meu olhar com todos e compartilho a visão de empatia, de amor puro e de respeito por cada um. Este intercâmbio de amor puro e respeito torna-se meu companheiro. Qualquer outro sentimento interfere e me prendem numa consciência limitada.
Como mestre da carruagem, tenho de garantir que mantenha a minha mente muito pura. Meus sentimentos muito limpos. Pois de outra forma, sou puxado pela consciência da vestimenta.
Crio carma mesmo neste nível de pensamentos e sentimentos. Nem é necessário o nível de palavras e ações. O carma que crio através de pensamentos, sentimentos e atitudes, se positivo, me eleva. Se negativo, definitivamente se torna um peso que me puxa para baixo e me segura na dimensão física e não me permite viajar lá para cima.
Reconheçam uns aos outros com este amor puro, reconhecendo o valor e a pureza de cada ser humano, de cada um.
Algumas vezes as pessoas jejuam quando fazem silêncio. Os praticantes de meditação Raja Yoga acreditam que o jejum não é da comida física. O significado da palavra em hindi jejum é muito bonito: significa aproximar-se.
Fazemos então o jejum da mente. Com qual comida alimento minha mente? Que alimento me aproxima de Deus? Busco manter abstinência de qualquer coisa que vai poluir minha mente. Não é momento de ler jornais, livros, revistas, ouvir rádios, ver televisão e nem assistir coisas na internet. Além da conexão com os seres humanos, a mente é influenciada por todas estas coisas também.
Não vamos jejuar em termos de comida. Em relação aqueles que estiverem fazendo uma refeição com vocês, conecte-se com eles espiritualmente e o silêncio se tornará um espaço muito bonito que vocês estão criando juntos.
Enquanto praticando silêncio, não é muito saudável a atitude de querer se afastar daqueles ao meu redor. É momento de comunicar-se de maneira doce, através de vibrações. E este hábito de agradecer as refeições pode ser absorvido em sua rotina diária. Antigamente este hábito era presente e hoje desapareceu nas diversas culturas. O sagrado de tudo foi perdido. Este espaço sagrado do alimentar-se, por exemplo. Na Brahma Kumaris, por exemplo, a comida é vegetariana, preparada na lembrança de Deus por yogues que seguem um estilo de vida muito puro. E depois de cozinharem oferecem o alimento para Deus em meditação. Então a comida oferecida para Deus é abençoada pelo poder e pela pureza.
Este processo de purificação da matéria é tão importante. A prática de silêncio é um presente para vocês levarem com vocês. Usem isto em suas vidas.
Reflitam – que comida estou preparando e como estou preparando-a? Quais os motivos que me levam a preparar comida – apenas o gosto, ou apego, a gula? Qual o estado mental que me leva a preparar o alimento? Este de novo é um presente para vocês.
Durante o momento que sua comida estiver sendo servida, pause por um momento e agradeça Àquele que nos proveu com alimento. A maneira como a energia do universo trabalha é que realmente provê que o alimento esteja no nosso prato. Esta conexão desapareceu. E por isto a comida não oferece a energia pura necessária. Esquecemos as leis da natureza e da espiritualidade simples e fundamentais. Então, quando a comida estiver no seu prato por um minuto agradeça Àquele que proveu você com alimento. Relembre-se da consciência de que a comida é sagrada e ela está dando força não só para o corpo, mas também está criando um impacto na mente, tornando-a saudável, forte e aproximando você de Deus. E então o seu corpo também ficará mais saudável.
No dia de silêncio, experimentem com isto. No seu dia a dia cozinhe na lembrança de Deus. A refeição pode ser simples, mas sempre que se alimentar, agradeça e se alimente com o sentimento que é sagrado. Sempre que você estiver nutrindo o corpo, agradeça. Ofereça sentimentos de amor para aqueles que o provêm . Você sempre terá abundância nos seus estoques se reconhecer esta importância.
Mantenha e compartilhe esta atmosfera. Isto tudo economiza muito tempo e energia. Interagir e comunicar-se é bom e necessário, assim como é o silêncio. Tenha também momentos de solitude numa das salas de meditação. Se praticaram consciência da alma, do mestre do corpo, então o desapego do corpo será natural e fácil. Será capaz de experimentar a presença de Deus e se conectar com Ele.
Enquanto caminhando, se vocês mantiverem a consciência de ser mestre do corpo e máster do processo interno, vocês podem caminhar e conversar com Deus – como um Amigo, Mãe, Pai, Guia. E ao sentar para meditar é momento de deixar que diálogo com Deus aconteça, mas também deixe que eu aprenda a manter minha mente quieta.
Ao terem criado estes sentimentos e pensamentos positivos, deixe que a mente permaneça quieta. Os pensamentos se tornam mais suaves, quietos, doces.
Vocês estão prontos para o silêncio. Não um espaço vazio. Mas um espaço que capacita a mente a emergir as qualidades originais do eu. Vocês se conectam ao Oceano, a Fonte. Isto é ioga, a união, a comunhão. Deixe que sua mente permaneça serena de forma que vocês sejam capazes de receber o que quer que venha desta fonte Suprema. As ondas do Oceano Supremo chegam até vocês e vocês estão se preparando para receber estas ondas. Este é o estágio descrito como realização. No qual vocês experimentam a paz, sintonizam-se com ela e não apenas dizem que paz é bom. Esta experiência de paz ilimitada é como uma experiência profunda, por exemplo, alguém que esteja em sono profundo não percebe naquela hora que o sono é profundo. Depois que acorda, sente que sono foi profundo e reparador.
No estágio de realização há apenas experiência, a mente permanece serena e a luz, o amor, a paz de Deus chega até mim e eu me preencho. Que vocês se preparem para ter esta experiência. Solitude depende do meu processo interno.
E se este processo for muito profundo para você e você precisar fazer algo mais, uma ferramenta poderosa é escrever sobre o que está acontecendo internamente. Pode ser sobre o que você já entendeu ou não do conhecimento. Não escreva sobre coisas externas ou o que outros fizeram ou disseram. Escreva sobre o que está acontecendo no seu próprio mundo interno. Este processo é tão bom como refletir. É uma forma fácil de conectar-se ao mundo interno.
O objetivo da prática de silêncio é conectar-se com o mundo interno. É uma jornada muito bonita que nós nem sempre temos a oportunidade de experimentar.
Este artigo foi escrito por Juliana Vilarino, professora de meditação raja yoga, com trechos de uma aula sobre silêncio, ministrada por BK Jayanti na sede internacional da Organização Brahma Kumaris, na Índia.