Comunicação por sentimentos nas organizações

Comunicação por sentimentos nas organizações

Hoje, ‘Reflexões para a Vida‘ do site intuicao.com apresenta como tema para reflexão ‘Comunicação por sentimentos nas organizações.‘ Tema sobre o qual te convidamos a refletir. Veja um pouco mais sobre o tema. Confira!

Margem escorregadia:
A maioria de organizações não só ignora a expressão de sentimentos, como acaba por inspirar as pessoas a escondê-los.
Isto funciona como colocar uma barreira no próprio caminho para o desenvolvimento da organização. A maioria das pessoas que trabalham em tais ambientes tende a aprender como esconder e omitir sentimentos; e esse tipo de atitude torna-se um hábito, que acaba por extrapolar o universo profissional das pessoas, trazendo aquele hábito para suas vidas. O fato é que este tipo de atitude debilita a pessoa e a organização inteira, e não soluciona os problemas. Este tipo de ambiente dentro de uma organização bloqueia a manifestação de outro instrumento poderoso para sucesso: a criatividade, que está muito relacionada a como a pessoa se sente. Como uma pessoa que oprime seus próprios sentimentos, sentir-se-á à vontade para ser criativa?

Os sentimentos estão sempre lá. 
O que faz a diferença é o tipo de sentimento: saudável ou nocivo?

Não importa o quanto toda uma organização tente suprimir os sentimentos em seu dia a dia; eles não desaparecem por mágica. O que é possível é criar-se ambientes favoráveis à regeneração dos sentimentos que permeiam a organização; revigorando os bons sentimentos e inspirando a substituição  de sentimentos nocivos por outros que sejam saudáveis.


Um aspecto sutil se encontra sob as áreas visíveis no macrocosmo da comunicação - o visível no universo das organizações e dos negócios é que  a maior parte das informações é transmitida por meio de palavras - faladas, escritas,  lidas e  escutadas. Mas há detalhes sutis que podem ser observados sob a camada das palavras.

Observa-se que a maioria das empresas que buscam boas performances promovem reuniões, cursos e apresentações nas quais apresentam informações, ideias e opiniões, sejam faladas, escritas ou apresentadas por meios audiovisuais e comumente faz uso uso de relatórios e comunicados visando estabelecer comunicação com aqueles que nelas trabalham – e, em essência, as palavras constituem um meio bastante usual para fundamentar e consolidar a comunicação no seio das mesmas.

Normalmente, escolhas e decisões são comunicadas por um daqueles meios com base em informações e dados.  Muitas organizações procuram fazer isso da melhor maneira possível, procurando comunicar com transparência, mas o que realmente acontece?
Proposições ou avaliações geralmente são tomadas com base em certas informações, considerando-se os recursos, demandas e objetivos. Esta é a forma habitual; mas um aspecto sutil se faz presente,  mesmo que não seja racionalmente considerado: quando se pensa em entidades organizacionais, há o pressuposto de que os procedimentos profissionais devem permanecer acima das emoções e sentimentos.

Quando se trabalha em uma organização a suposição é: 
"ser profissional quer dizer não ser sentimental e nem se deixar levar pelas emoções". 
Mas será isso possível?

Ponto chave a considerar:
Quem trabalha em uma organização?
Pessoas!

Quem decide, quem faz análises, toma parte das reuniões e faz a organização ter vida e ser dinâmica?
Pessoas!

Questionamento apreciativo:
Em um relacionamento comum, qual tipo de comunicação é mais eficaz e marcante: as baseadas em informações e dados ou as baseadas em sentimentos?
As organizações consideram que informações e dados sejam suficientes e tendem a ignorar o universo dos sentimentos. Tal abordagem é considerada normal no seio da maioria das organizações.
A pergunta que surge é: essa desconsideração dos sentimentos é eficaz?

Qual seria a eficácia de um comunicado interno dizendo que todos os funcionários, antes de começarem seu dia de trabalho, deveriam meditar?
Qual seria a eficácia das palavras, num comunicado deste tipo em uma empresa?
Para uma parte, as que já experimentaram meditar algum dia, aquela mensagem pode soar interessante. Mas e quanto às outras, que já ouviram algo sobre meditar, mas – de fato, não fazem ideia do que o comunicado quis dizer com ‘meditar’ e nem saberiam como meditar? E ainda poderiam pensar: ‘que isso tem a ver com meu trabalho?’

E, indo um pouco além, imaginemos: qual seria a eficácia das palavras, num outro comunicado da mesma empresa, estabelecendo que as pessoas deveriam ‘dançar‘ em seus ambientes de trabalho, antes de começarem suas atividades? Tal comunicado funcionaria? Será que as pessoas, aquelas que “deveriam” dançar, sentir-se-iam à vontade para tal?
Muito provavelmente, não!

Muito possivelmente, considerando-se que um ou outro fosse o objetivo da empresa, se tais objetivos fossem explicados, contextualizados e, de alguma forma, tivessem suas práticas relacionadas com a melhoria do bem estar e do desempenho das pessoas em seu dia a dia no trabalho, o grau de aderência seria maior. Mas seria ainda maior se condições fossem criadas para que houvesse experiências com aquelas práticas e as pessoas pudessem sentir o benefício das mesmas. Sentir os benefícios têm a ver com desenvolver sentimentos e isso vai além do que palavras num comunicado são capazes de conseguir.

A eficácia em comunicação
Muitos gestores consideram que seu pessoal está habituado a receber informações e, por meio de suas atitudes, fica implícito que: “informação dada; a partir daí é com quem recebeu a informação”, mas será que levam em consideração o aspecto de “o quanto aquelas informações são absorvidas e aceitas pelas pessoas que compõem seus grupos de trabalho”?
Para muitos deles, a comunicação das informações por meio de reuniões ou de seus comunicados é o suficiente, pois para eles as informações que deram parecem claras e eles as entendem como sendo necessárias; mas algumas vezes aquelas informações são bastante áridas e distantes da realidade de quem as recebem e, não poucas vezes, tais comunicados conseguem o oposto do era desejado; não só ‘não‘ obtendo a aderência de quem os recebem, mas gerando um sentimento de oposição ao que era pretendido. E, não raras vezes, isso se dá pelo fato dos sentimentos e da dimensão emocional que envolvem as pessoas que trabalham na organização serem ignorados.

Comunicados podem tornar-se aderentes e poderosos quando associamos algo mais a eles; quando agregamos a eles algum tipo de ‘espírito‘.

Assim como um corpo sem um 'espírito' é um cadáver; um comunicado ou uma ação sem um 'espírito' que transmita propósitos mais amplos e vivos, em geral, serão vazios e 'áridos'. 
É o "espírito" por trás da ação ou do comunicado que dá vida, ou poderíamos dizer, que dá 'vitalidade' e 'dinamismo' ao que se quer comunicar, despertando 'envolvimento' e 'motivação' junto a quem recebe aquela comunicação.

O ‘espírito‘ na comunicação é espontaneamente despertado pelo envolvimento presente quando da execução do comunicado – por parte das pessoas envolvidas com aquele comunicado, e tal ‘espírito‘ geralmente permanece presente quando as pessoas que conceberam o comunicado conseguem associar um “algo a mais” àquela comunicação. Algo mais que vem de dentro para fora e acaba por ‘envolver’ aquele comunicado. Por isso, algumas comunicações ganham em dimensão e qualidade e se propagam com mais eficácia.

O problema surge quando aquele ‘espírito‘ ou ‘algo mais‘ não é mais percebido no período pós-criação do comunicado. A partir daí, aquele comunicado pode perder sua eficácia e acabar sendo ignorado totalmente .

Como evitar isso?
A maneira mais óbvia para perda da eficácia no que foi comunicado é, por outros meios, reativar a percepção daquele ‘algo mais‘ de modo que os sentimentos das pessoas que receberam o comunicado continuem vívidos. E uma das maneiras de fazer isso é estabelecer canais de comunicação, inspirando feedbacks, sugestões, ideias, etc.

Os sentimentos sempre carregam algum tipo energia viva neles; mas, por uma visão, ao meu ver equivocada e irreal, procura-se omitir a parte dos sentimentos na expressão do que é comunicado.

A sugestão, portanto, é considerar que, para tornar uma mensagem ou informação relevante em quaisquer comunicados, ela deve conter em si, o tal ‘espírito‘ que toque os sentimentos das pessoas.

Quando a pessoa sente o que está sendo comunicado, 
a comunicação será muito mais poderosa 
e a tendência de respeitar aquelas informações será maior.

Mas isso só acontece quando quem recebe a informação percebe que sentimentos verdadeiros estavam contidos no que foi expresso por meio de algum comunicado, seja falado ou escrito. 

Uma excelente área para ser observada é a esportiva, em suas várias modalidades, na quais  pode-se perceber como se comunicam alguns  bons treinadores.
Ressaltam-se aqueles que, além de conseguirem comunicar suas estratégias e táticas com clareza,  sabem como integrar todos os componentes de suas equipes, transferindo sentimentos e emoção para seu grupo e inspirando a criatividade e aplicação dos talentos individuais sempre em prol do coletivo.

Tanto quanto na esfera esportiva, em termos organizacionais, o efeito de um bom trabalho de equipe não pode ser baseado em artificialidades, medo ou imposições; deve sim aflorar como fruto de competências individuais  combinadas com a elevação dos bons sentimentos nos membros da equipe.

Agregar sentimentos para ter valor é a inovação a ser trabalhada!
Ainda nos esportes, quantas equipes são praticamente ‘massacradas‘, ou simplesmente ignoradas pela mídia antes de provar sua qualidade? E quantas delas emergem do fundo do poço até o topo surpreendentemente?
A maior parte daquelas equipes, que parecem surgir de lugar algum, tem uma espécie de “aura” gerada pelo treinador e pelo líder ou líderes do elenco e acaba por se propagar pelos demais componentes da equipe. Essa propagação, na maioria dos casos, se dá ainda durante o período de preparação, em meio às dificuldades e desafios que são enfrentados e superados.

De algum modo, a equipe se torna mais forte em meio  uma crise, ou debaixo de ondas de negativismo em direção a eles.

O que faz a diferença entre as pessoas que apenas desistem e aqueles que lideram seus grupos para o topo?

Os vencedores, de alguma maneira, não permitam que influências externas atinjam o núcleo de seu grupo. Eles são capazes de manter tudo com transparência e o propósito muito claro. 
O que fortalece aquela “aura” que os protege do ambiente de oposição ao redor eles é o 'espírito' que existe em meio ao que estão fazendo. Esse 'espírito' é que delimita o 'como' eles estão realizando suas atividades. Não é apenas o 'que' fazem, mas o 'como' eles fazem que determina a diferença.

Ruptura das linhas sensíveis
As pessoas são os melhores recursos de qualquer organização. Elas devem ser corretamente alimentadas com as informações adequadas e isso não inclui somente as informações certas, mas também os sentimentos e emoções certos.
Uma analogia:
Imagine um filho, que iria participar de uma competição de natação e tem grandes expectativas de que seu pai estará presente. O pai é um gestor de uma grande empresa e não consegue ir.

Situação um :
(lado do pai): Ele está em uma reunião com sua equipe na empresa.
(lado do filho): Já na competição, o garoto espera a chegada do pai e não sabe por que o pai está está atrasado. Chega o momento de sua prova e o pai não chegou. Após o término, já no caminho de casa, a mãe tenta atenuar expondo possibilidades pela não chegada do pai. O filho escuta em silêncio, mas fica triste.

Situação dois:
(lado do pai antes de encontrar o filho) – O pai chega em casa e pensa em dar as informações certas ao filho. Para ele, basta explicar, dizendo ao filho onde ele estava, o que ele estava fazendo e por que ele não foi à competição.
(lado do filho antes do pai ir até ele) – O filho continua triste e, intimamente, espera a chegada do pai.

Situação três:
(Ação do pai ao encontrar o filho) – O pai encontra o filho e dá as informações que considera essenciais para ele (onde ele estava, o que ele estava fazendo e a razão por que não foi). Este é o modo que ele está acostumado a se comunicar, por informações e dados, com clareza e objetividade.
(Ação do filho): Ele escuta o pai e diz que está tudo bem.
(Ação do pai) – Após escutar a resposta do filho, o pai vai tomar um banho. Para ele,  está tudo bem.
Fato: Após o pai sair, o filho ainda se sente frustrado e continua triste.

Análise
O informação não fluiu.
De alguma maneira, as palavras foram faladas, mas o efeito delas não surtiram efeito, de algum modo, a comunicação se deteriorou.
Por quê?
As palavras faladas pelo pai estavam erradas? Não, mas para o filho elas não foram suficientes.

Opinião de um observador da situação: “O filho esperava que seu pai expressasse “sentimentos” e não apenas palavras, de tal modo que ele “sentisse” o que quer que o pai dissesse a ele.
O filho esperava sentimentos; o pai usou ‘apenas’ palavras para se comunicar.
Eles simplesmente usaram idiomas diferentes. Um não foi capaz de compreender a “fala” do outro.

Resultado:
Carência de comunicação. Ambos os lados se sentem incompreendidos. O sentimento final de ambos é ruim. Se o pai usasse sentimentos juntos às informações, a comunicação teria sido mais eficaz.

Consideração:
Quando agrega os sentimentos, a comunicação se torna um idioma poderoso, apesar de ser desconsiderado pela maioria das organizações.

A comunicação faz uso de vários canais. Entre eles, um dos mais poderosos é o dos sentimentos.
Em qualquer área, a comunicação tem a ver com um certo nível de sentimentos. Claro que em uma organização a relação não é como de um pai e filho, mas também não é entre robôs insensíveis.

Quando adentramos no campo das relações entre pessoas, a comunicação por sentimentos pode não ser exteriorizada, mas ela acaba prevalecendo. E a realidade é que, nas relações interpessoais, algum tipo de sentimento está sempre sendo comunicado. E, numa organização, mesmo em comunicados aparentemente inconsequentes;  o componente interpessoal também se faz presente (foi feito por uma pessoa ou por um grupo de pessoas com o objetivo de chegar até outra pessoa ou outras pessoas) e, de algum modo, o sentimento de quem recebe o comunicado é que prevalecerá e não o conteúdo do comunicado.

Quando abordamos comunicação profissional, o nível de sentimentos pode ser menor, mas com certeza eles ainda existem. Os sentimentos são expressão humana. Para desenvolvê-los, as empresas devem se tornar mais humanas!

Comunicação por sentimentos
A eficácia da comunicação baseada em informações não depende apenas das palavras ou do conteúdo . Comunicados somente serão eficazes quando a eles forem agregados sentimentos.

Um aspecto essencial a considerar é que um dos principais valores requeridos em toda forma de relação é a confiança, que é baseada em sentimentos mais que qualquer outra coisa. O sentimento de confiança sempre faz e sempre fará diferença em quaisquer situações. 

Assim como o sentimento de confiança é importante, vários outros bons sentimentos podem ser agregados  quando queremos nos comunicar.

Desperdícios
Os desperdícios também estão relacionados a sentimentos. Quando alguém está feliz, economiza energia. Quando alguém está triste, perde energia e fica ainda pior quando tenta esconder aqueles sentimentos. Ele perde energia em um modo duplo: tentando esconder algo que não deseja que outros vejam e também por causa dos sentimentos ruins originais que está experimentando. A perda de energia é enorme.

Conclusão da reflexão:

Uma organização que se preocupa com o bem estar e satisfação de seus funcionários tem mais chance de dar certo que aquela que ignora esses valores. 

Mas vale observar: independentemente da postura da organização, no nível individual, cada pessoa pode, dentro de suas possibilidades e vontade, ser uma agente de transformação de seus próprios sentimentos. Isso, em algum nível, já ajudará a inspirar um fluxo de melhores sentimentos em quaisquer ambientes em que a pessoa se encontrar. 

Reflexão: H. S. Silva
Site Intuicao.com
Imagem – banco de dados Pixabay