O poder do conhecimento e a meditação.

O poder do conhecimento e a meditação.

O poder do conhecimento e a meditação.


Da escuridão para a luz, dos conflitos para a harmonia, da ilusão para a realidade, do falso para o real, do temor para o amor; dentre todas estas transposições o que existiria de comum a elas?

Talvez uma palavra possa sintetizar tudo: a verdade.
O que é a verdade? Como distinguir o que é verdadeiro do que é falso?

Lembrando minha relação de aprendizagem com os ensinamentos da meditação Raja Yoga, a percepção que emerge naturalmente é que a verdade é auto-suficiente e se apresenta por si. Quando meditamos, ultrapassamos camadas que nos afastam de nós mesmos e começamos a nos sentir próximos de nosso verdadeiro ‘eu’, sem interesses outros além do de ser, apenas ser.

Um aspecto interessante da relação conhecimento-sabedoria é que grande parte da sabedoria vem do conhecimento, ok! Mas não de qualquer tipo; ao observarmos com mais profundidade, a sabedoria parece nascer do conhecimento que transita pelos três aspectos do tempo, ou seja, pelo passado, presente e futuro. A sabedoria tem esse dom, ou seja, de fazer com que o conhecimento absorvido consiga transitar e possibilita à nossa consciência transitar pelos três aspectos do tempo. A sabedoria nos possibilita enxergar o passado, o presente ou o futuro com um olhar especial. Ela pode não mudar o passado, mas nos faz vê-lo com um novo olhar, mais sábio e mais sensível.

O conhecimento que nos possibilita perceber o ilimitado, ou seja, a ir além dos limites aparentes do tempo está fundamentado no autoconhecimento e este auxilia em muito na aquisição de sabedoria. E quando esta se manifesta, há a sensação de que passado, presente e futuro se fundem – não havendo mais separação e nem interesse em distinguir o que é o que naquele instante.
Conhecer-se é ir além das imagens que limitam e distorcem o verdadeiro significado de sua interação com o plano material em cada cena.

Ver além da cortina de “prejuízos” que pode se apresentar à nossa frente significa ver o benefício que se esconde atrás de situações aparentemente negativas que se interpõem entre a teoria e a prática natural do conhecimento.
A ponte que nos capacita fazer esta travessia é a espiritualidade, ou seja, é o conhecimento espiritual. E como qualquer ponte, ela deve nos possibilitar alguma travessia. Seja a ponte de madeira ou ferro, cimento ou  o que importa não é focar na ponte, em si, mas sim na travessia. É para tal, que ela existe. Assim se dá com o conhecimento genuíno; ele existe, não para ser exaltado ou admirado, mas para ser a absorvido e aplicado no dia a dia. A ponte pode ser bonita e atraente, mas ela existe, de fato, não para “enfeitar” um cenário, mas sim para possibilitar algum tipo de travessia.

Quando praticado, o conhecimento nos possibilita a aprendizagem consciente, que promove abertura do ‘terceiro olho’, a elevação de nossa consciência; e isso se dá gradualmente.
Abrir o terceiro olho significa abrir a cortina à nossa frente e enxergar o horizonte ao longe, de forma clara e cristalina, sem ser iludido por roupagens ou cenários transitórios.
Significa ver o “ser”, além da roupagem branca, amarela ou preta, que veste o “humano”. Isto gera o sentimento de irmandade e de família. Para tanto, é necessário o treino do intelecto, pois é o intelecto que distingue o ilimitado do limitado. O uso correto do intelecto implica na ausência do  ‘egoísmo’ e do ‘orgulho’. E ‘só’  isso, já possibilita nossa elevação consciencial. Apenas deixar de usar lentes que distorcem ou desfocam já nos ajuda, e muito, a percebermos o que é que tem que ser visto e observado.

Pode parecer paradoxal, mas ver apenas o corpo físico e ver os fatos do momento sem as lentes corretas é limitar-se a uma ‘fotografia‘ e a um papel estático no momento presente. Isso promove o hábito de o intelecto manter ‘imagens congeladas’ de pessoas ou situações. Gerando manifestações como: “tal pessoa é desse ou daquele jeito”, “os políticos são  assim ou assado”, etc. Muitas destas ‘imagens congeladas’  geram impressões na mente que fundamentam ideias e princípios, os quais passam a ser usados como referências no dia a dia; como se aquelas impressões fossem definitivas e permanentes, quando nem mesmo sabe-se se refletem algum nível de verdade.

Perceber o ser eterno significa ir além das aparências do momento.  Adentrar portais que nem mesmo imaginávamos que existissem é um dos frutos do sentimento de eternidade. O momento, quando experimentado, com essa sensação, possibilita uma experiência sutil e profunda, que nos dá a sensação de sublimidade, a qual se reflete na consciência e em nossas percepções, conduzindo-nos para muito além da  forma e da aparência. Há uma profunda experiência e satisfação íntima, que transcende o aparente e nos faz ver além dos invólucros externos das formas aparentes das situações ou das pessoas.

Pessoalmente, sinto que algumas experiências que tive meditando, muitas décadas atrás, ainda se fazem presentes dentro de mim, contribuindo para a sustentação e condução de sentimentos de bem estar e harmonia. Esses sentimentos não estão relacionados a local ou momentos, que existiram, obviamente, mas o que fica é o sutil, é o incógnito. O que é extremamente interessante é que, mesmo nascidos de ‘poucos minutos’ de profundas meditações ou orações, eles parecem permanecer vivos em nossa consciência, fazendo-a expandir e elevar-se. 

Claro que a alimentação da mente é algo que se dá dia após dia. E mesmo para ter a percepção de aspectos sutis que parecem atravessar os tempos; faz-se necessário alimentar a mente da melhor maneira possível; algo que é muito particular e depende do ritmo e da natureza de cada um. Cuidar dessa alimentação é importante, sempre!

Usar o intelecto de maneira correta significa ir além da arrogância e do orgulho, do egoísmo e da insensibilidade; significa absorver a humildade gerada pela consciência de ser aquele que está sempre aprendendo. Isto significa absorver a autoridade daquele que pode estar se tornando um “expert” através de sua aprendizagem, mas com humildade.

Sócrates, talvez o maior filósofo da história, no patamar de toda sua sabedoria, certa vez disse: “Só sei que nada sei”.

Sinto que estas não foram apenas palavras de efeito, mas que traziam profundo significado, tirado de experiências profundas que o filósofo experimentava.

Será que Sócrates, ao dizer aquela frase, não compartilhava uma conclusão íntima a que chegara; de que a sabedoria transpassa os limites do que ‘pensamos’ saber, e que não conseguimos percebê-la na sua totalidade? Com certeza ele sabia o que estava dizendo e estava dando um recado para todas as gerações futuras – amem o conhecimento, respeitem-no e continuem a jornada do saber, mas sem a arrogância que distorce a beleza, a justiça e o bem que são propriedades naturais do saber.

A arrogância do intelecto impede a aplicação do conhecimento de maneira natural. Além disto, a arrogância do intelecto gera uma atitude mental de insulto e de desrespeito por si ou pelos outros, impedindo-o de aprender.

O conhecimento é força, é energia, que se aplicada corretamente, torna-se poder.

Quando nos aprofundamos na prática do conhecimento e, isso no meu caso, e dentro de minhas limitações, ocorreu inicialmente com a prática de meditação do Raja Yoga.

O fato é que quando adentramos certas dimensões do conhecimento, com o coração; então, uma gama de experiências trazem frutos que nos apresentam sutilezas bastante atraentes através de diferentes métodos, tais como a absorção de poderes através da meditação ou da absorção de virtudes através da corporificação do conhecimento na prática, ou do desenvolvimento dos relacionamentos num nível que vai além dos papéis que cada um representa.

O conhecimento que transpõe os limites que estamos acostumados a aceitar – do tempo, do espaço, do físico, etc. é algo que nos leva além do simples entendimento, nos dá percepção, nos dá consciência. Isto significa entender, absorver e ser.

De acordo com sua consciência são seus pensamentos, de acordo com seus pensamentos são suas palavras, e assim serão suas ações. Conforme é sua consciência será sua visão. E conforme é nossa visão é o mundo que enxergamos ao nosso redor.

Seria possível mudar o mundo?
Com sabedoria sim. Sem dúvidas o conhecimento gera entusiasmo, novidade, ânimo, mas o espírito do conhecimento parece se revelar por completo só se houver amor e respeito por ele; então ele será um instrumento da sabedoria e, por conseguinte, de transformação, de fato.
Não podemos ignorar, quando pensamos em termos do que acontece em nosso planeta, há um universo de coisas boas que se manifestam neste exato momento, quanto ao resto que não é bom…sim, é possível mudar. Para começar, devemos perceber o que há de bom por aí; então observar quais são as maiores fraquezas que nosso planeta apresenta; veremos que todas elas têm relação com nossa atuação como seres humanos, portanto para mudar o mundo ao nosso redor, temos que que começar a mudar nós mesmos, com mudanças de vários paradigmas, práticas, hábitos, etc. É uma grande ilusão considerar que os erros estão apenas fora de nós.

O autoconhecimento nos auxilia a preparar a mente para perceber estas coisas boas e nos capacita a alimentar nosso intelecto com o alimento adequado, filtrando o inútil, o negativo e o desnecessário. A partir daí, começamos a não mais alimentar o que é negativo. Mas é só com atitude mental renovada, hábitos novos, ações assertivas e correções de rumo que começamos as ações de regeneração, em nós e no mundo ao nosso redor.

Conforme pensamos e, conforme é nosso coração e nossa atitude mental, será a seleção do que escolhemos trazer para nossas vidas. É um processo natural, que nos habilita a perceber e acolher o que trazemos para dentro de nossas mentes e, consequentemente, para nossas vidas.

Quando acolhemos as coisas boas em nosso coração – e, de novo, há um universo de coisas boas por aí; é que sentimos prazer no viver.

Ter o intelecto repleto de conhecimento não significa conhecer os detalhes da leitura dos muitos livros ou escrituras que lemos ou estudamos; um intelecto sábio pode se manifestar como tal, ao  saber acolher o que é bom, simplesmente – e isso não tem a ver com manter dentro de você um sem número de informações estudadas, pesquisadas ou o quer que seja, pois mesmo com tudo isso, seu intelecto pode funcionar como uma chapa quente em que uma gota – por mais líquida e pura, ao cair na chapa evapora em um segundo.
Por quê?
Talvez porque seu intelecto não tenha sido preparado para acolher.
Ele pode ter sido treinado para analisar, sintetizar, deduzir, discernir e um sem número de funcionalidades lógicas – e isso é um fator de admiração para muitos, mas ele pode não ter sido preparado para a mais vital delas: acolher o que é bom, o que é belo e o que é justo.

Um ator interagindo com outros em uma peça pode saber cada frase que ele deve falar na peça, mas imaginem se ele falasse tudo o que deveria falar, só que com dois minutos de atraso. Ou seria engraçado ou trágico.
Imagine um violinista, um virtuose, que, por alguma razão – em meio a uma orquestra com dezenas de instrumentistas, resolvesse seguir um ritmo diferente do da orquestra – fazendo sua parte de modo perfeito, só que vinte segundos atrás do ritmo de todos os outros – de que serviria a perfeição ou virtuosismo dele?.
De algum modo, o erudito, que trabalha com o conhecimento num nível que está longe da sabedoria, por mais ilusão de domínio do assunto possa haver, acaba por expressar-se sem saber o momento e a maneira correta; por isso apesar do aparente domínio do assunto, ele acaba por não ajudar e nem inspirar outros.
De algum modo, a mensagem que captei através da prática da meditação Raja Yoga é que o conhecimento é para ser amado, respeitado e então usado, caso contrário ele será inútil.
Meditando, percebi que o conhecimento tem uma ligação muito estreita com o yoga. O conhecimento quando aplicado integralmente torna-se yoga e o yoga torna-se conhecimento vivo quando se consegue experimentar três estágios no dia a dia: em inglês:” Viceless, Egoless and Bodiless stages”.
Ou seja, o estágio de ser sem vícios, ser sem ego e o estágio onde há a ação com o corpo físico, mas há a consciência de ser incorpóreo.

O conhecimento genuíno nos dá a experiência de sermos preenchidos de amor nas ações, poderosos na mente e sábios nas palavras.
Quer ver transformação?
Se alguém está triste, dê conhecimento a ele; quando ele estiver feliz, traga-o ao silêncio e ele experimentará bem-aventurança.
Com quem experimentar?
Que tal consigo mesma(o).

A maior prova da verdade é a não necessidade de provar-se.
A verdade existe por si só, a verdade não tem segundas intenções.
A verdade, assim como a essência do conhecimento está além do tempo. Entender o passado no presente e no presente criar o futuro é natural e isso é um caminho para ser sábio em ação.

Na jornada espiritual, a velocidade não pode ser confundida com pressa e é muito importante, mas a base para aumentá-la é o estudo e a prática, com amor no coração, na mente e no intelecto. Quando isso acontece, encontramos nosso ritmo e damos fluxo a ele naturalmente e, além apreciarmos tudo que estamos apreciando, que nos fortalece de maneira inequívoca, também passamos a aceitar os erros como momentos de aprendizagem. Assim nosso caráter é moldado, sem medos ou tristeza e com humildade e abundância.

Ter amor pelo estudo significa ter amor por si e pelo mundo; ter amor pela prática do que estudamos significa traduzir a aprendizagem em atitudes. Quando, junto dessas atitudes, uma consciência elevada se faz presente, então o conhecimento nos levará à verdadeira liberdade e à sabedoria.

Autor: Herbert Santos Silva
Fonte: intuicao.com